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Cá estou de volta, como prometido, para o segundo e último post sobre o uso da chucha (o primeiro encontra-se aqui).
Quanto às estratégias de abandono da chucha/ sucção do polegar:
- o sucesso de qualquer intervenção depende da vontade do próprio em participar. Uma criança, a partir do momento em que começa a perceber o que lhe dizemos e a compreender como funciona o ambiente em que vive, tem vontade própria e não deve ser tratada como um bebé. Temos que explicar à criança, em termos simples e adaptados, o porquê da necessidade do abandono da chucha e que acreditamos que ela é capaz de o conseguir. A estratégia de abandono deve ser planeada em conjunto;
- substituir a chucha/ dedo por um elemento de transição, como um lençol ou cobertor macio ou um brinquedo fofo e aconchegante;
- ajudar a criança a encontrar alternativas para se acalmar e auto-confortar: jogar um jogo de que goste muito - como um puzzle especial, cantar, ouvir música, aconchegar-se com um peluche da sua predilecção. Fazer uma massagem leve e reconfortante à criança ou ler-lhe uma história é uma óptima maneira de a acalmar. E uma sessão de mimos especiais de mamã/ papá (sem olhar para o relógio) é imbatível.
- parar de a repreender durante um período de tempo (por exemplo, um mês) sobre o seu hábito. Algumas crianças usam-no para chamar a atenção dos crescidos e quanto mais falamos sobre isso e os recriminamos mais eles irão insistir. Ignorar e reforçar os mimos nesse período;
- reduzir progressivamente a frequência da utilização da chucha e restringi-la o mais possível ao sono;
- criar um sistema de recompensas: coloque um calendário no frigorífico e assinale ou cole um sticker por cada dia em que a sua criança não use a chucha ou não chuche no dedo. No final de cada semana arranje uma pequena recompensa para lhe oferecer (uma história extra ao deitar, um pequeno brinquedo, assistir a um filme na sala com ela) e anuncie um piquenique especial para o momento em que ela cumpra um mês de sucesso no abandono do hábito. Elogie-a muito, e não a recrimine se ela recair. Reforce que acredita que ela vai conseguir;
- a ajuda do odontopediatra/dentista pode ser vital. Se a criança ouvir o seu médico a dizer-lhe que tem mesmo que abandonar a chucha ou o chuchar do dedo e este lhe explicar, como a um crescido, o que lhe poderá vir a acontecer, a solenidade do momento e o peso das consequências podem convencê-la da urgência da mudança de hábito;
- furar a chucha para que ela "deixe de funcionar" pode ser uma das técnicas mais eficazes, como alguns leitores sugeriram, mas não deve ser utilizada. Qualquer chucha (latex/ silicone/ borracha) que se encontre danificada (com cortes/ zonas de descoloração, gotas de água no seu interior) deve ser imediatamente deitada ao lixo. Nem pensem duas vezes! Está fora de questão expor as crianças a produtos eventualmente carcinogéneos. Daí que seja essencial trocar frequentemente de chucha - na pior das hipóteses, de três em três meses, e mais frequentemente se as crianças já tiverem dentes - para evitar contaminações, riscos de contacto com substâncias eventualmente perigosas e diminuir a dependência de uma chucha em especial. E lavá-la frequentemente com água quente e sabão;
- em relação especificamente à sucção no dedo, técnicas como o uso de meias nas mãos, ligaduras, dedeiras de borracha, verniz com sabor amargo ou uso de camisolas com as extremidades das mangas cozidas têm que ser explicadas à criança e esta tem que aceitar e compreender a sua utilidade para que funcionem - mas numa criança motivada são altamente eficazes. Nas crianças mais velhas, depois da erupção dos dentes definitivos, em que o hábito persistente de sucção no dedo prejudica directamente o seu desenvolvimento, e em casos muito particulares, o odontopediatra pode planear a utilização de um dispositivo intra-oral que facilite o abandono do hábito. Também ajuda distrair as crianças com actividades que ocupem as duas mãos. Manter a criança ocupada a fazer puzzles, legos, jogar à Wii, a trepar árvores, a jogar voleibol/basquetebol, brincar com plasticina, fazer colagens ocupa-lhe as duas mãos e ajuda a distraí-la da necessidade de sucção para se sentir bem;
- voltando à chucha, escolher uma cerimónia ou uma viagem especial para a enterrar ou a dar pode ser uma boa estratégia: entregar a chucha ao bebé Jesus, ao Pai-Natal, ao coelhinho da Páscoa, à bebé girafa numa ida ao Zoológico. Ou aproveitar uma situação inesperada e que os marque para resolver a situação. No nosso caso, o instrumento que usámos para a Carolina e depois o Tomás deixarem a chucha foi um sapo que nos apareceu inesperadamente na Urra. Quando íamos deitar-nos, já de noite, encontrámos um sapo gigante. Ficámos todos espantados, em especial a Carolina. Nessa noite a chucha desapareceu para sempre. E o assunto ficou muito resolvido na cabeça da Carolina, pois foi obviamente o sapo que a foi buscar durante a noite. Qual seria a outra razão para ele ali ter aparecido?
- ou então pode-se sempre aproveitar para entregar a outro a tarefa de desmame. Há dois anos, quando mudámos de casa, fizemos um acampamento na sala da casa nova (com tenda e tudo) e convidámos uns amigos do Tomás para virem passar connosco o fim-de-semana. Os miúdos tinham 5 anos e iam entrar para a escola primária daí a uns meses. Dormiram todos na sala, em grande excitação e camaradagem, e eu fiquei no sofá para controlar as tropas. Em 5 segundos, depois de tanta brincadeira, caíram para o lado e só acordaram 10 horas depois. Todos, menos uma menina, que gemeu durante três horas e só adormeceu ao meu colo depois de muitos mimos e canções. Soube no dia seguinte porquê. O pai não lhe quis enviar a chucha, sem a qual nunca antes tinha dormido, porque receava que gozassem com ela. E resolveu fazer isso sem me dizer nada. Nessa manhã apeteceu-me enfiar uma chucha pela garganta abaixo desse pai, mas a história teve um final feliz: a menina largou a chucha de vez. (Claro que se quiserem fazer isso, talvez não seja má ideia perguntar primeiro à outra pessoa se está disponível para a tarefa.)
Em resumo, e para quem não teve paciência para ler isto tudo:
- o uso da chucha durante o sono é recomendável para todas as crianças, sobretudo durante o primeiro ano de vida, pela sua relação com a redução da SMSL (Síndrome da Morte Súbita do Lactente);
- a sua introdução deve ser atrasada, nas crianças amamentadas, para depois de a amantação estar firmemente implantada;
- a chucha é uma grande aliada quando se pretende acalmar, consolar ou confortar uma criança, mas por norma nunca deve ser utilizada como primeira linha de defesa para não aumentar a sua dependência dela e ajudar a criança a criar outras medidas de auto-controlo. Uma mudança de posição, uma canção de embalar, uma história ou uma sessão de mimos especiais de mamã/ papá são tão eficazes no conforto da criança como a chucha, e como tal devem ser utilizadas em primeira linha para potenciar os seus efeitos no futuro;
- a utilização da chucha ou de qualquer outro objecto alternativo para sucção não nutritiva (fralda de pano/ cobertor/ brinquedo/ lençol) é sempre preferível ao uso de um dedo para chuchar. O abandono deste hábito será sempre mais tardio e difícil;
- a frequência da utilização da chucha deve ser restringida para os momentos de sono e para situações de SOS em que os métodos alternativos de conforto e controlo não sejam eficazes, de modo a fortalecer métodos alternativos de auto-controlo na criança;
- a maioria das crianças deixa de usar a chucha entre os 2 e os 4 anos. A utilização da chucha durante o sono até aos 5 anos não é provável que cause problemas irreversíveis e a longo prazo. No entanto, de forma a evitar perturbações odontológicas, alterações no desenvolvimento craniofacial, na musculatura e na fala pela sua utilização frequente e prolongada, é importante aconselhar os pais das crianças que usam chucha até mais tarde a planear o abandono deste hábito antes da erupção dos dentes definitivos, de preferência começando a planear essa suspensão entre os 4 e os 5 anos;
- as chuchas devem ser trocadas com frequência e, sobretudo, a qualquer sinal de danificação devem ser imediatamente deitadas fora;
- existem múltiplos truques para se abandonar o hábito de chuchar mas não vale a pena insistir em nenhum deles se a criança ou os pais não estiverem preparados. É que às vezes são os pais quem precisa daquela chucha, e não a criança.