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A mamã é médica #9.2

por Teresa Mendonça, em 20.01.14

Cá estou de volta, como prometido, para o segundo e último post sobre o uso da chucha (o primeiro encontra-se aqui).

 

Quanto às estratégias de abandono da chucha/ sucção do polegar:

 

- o sucesso de qualquer intervenção depende da vontade do próprio em participar. Uma criança, a partir do momento em que começa a perceber o que lhe dizemos e a compreender como funciona o ambiente em que vive, tem vontade própria e não deve ser tratada como um bebé. Temos que explicar à criança, em termos simples e adaptados, o porquê da necessidade do abandono da chucha e que acreditamos que ela é capaz de o conseguir. A estratégia de abandono deve ser planeada em conjunto;

 

- substituir a chucha/ dedo por um elemento de transição, como um lençol ou cobertor macio ou um brinquedo fofo e aconchegante;

 

- ajudar a criança a encontrar alternativas para se acalmar e auto-confortar: jogar um jogo de que goste muito - como um puzzle especial, cantar, ouvir música, aconchegar-se com um peluche da sua predilecção. Fazer uma massagem leve e reconfortante à criança ou ler-lhe uma história é uma óptima maneira de a acalmar. E uma sessão de mimos especiais de mamã/ papá (sem olhar para o relógio) é imbatível.

 

- parar de a repreender durante um período de tempo (por exemplo, um mês) sobre o seu hábito. Algumas crianças usam-no para chamar a atenção dos crescidos e quanto mais falamos sobre isso e os recriminamos mais eles irão insistir. Ignorar e reforçar os mimos nesse período;

 

- reduzir progressivamente a frequência da utilização da chucha e restringi-la o mais possível ao sono;

 

- criar um sistema de recompensas: coloque um calendário no frigorífico e assinale ou cole um sticker por cada dia em que a sua criança não use a chucha ou não chuche no dedo. No final de cada semana arranje uma pequena recompensa para lhe oferecer (uma história extra ao deitar, um pequeno brinquedo, assistir a um filme na sala com ela) e anuncie um piquenique especial para o momento em que ela cumpra um mês de sucesso no abandono do hábito. Elogie-a muito, e não a recrimine se ela recair. Reforce que acredita que ela vai conseguir;

 

- a ajuda do odontopediatra/dentista pode ser vital. Se a criança ouvir o seu médico a dizer-lhe que tem mesmo que abandonar a chucha ou o chuchar do dedo e este lhe explicar, como a um crescido, o que lhe poderá vir a acontecer, a solenidade do momento e o peso das consequências podem convencê-la da urgência da mudança de hábito;

 

- furar a chucha para que ela "deixe de funcionar" pode ser uma das técnicas mais eficazes, como alguns leitores sugeriram, mas não deve ser utilizada. Qualquer chucha (latex/ silicone/ borracha) que se encontre danificada (com cortes/ zonas de descoloração, gotas de água no seu interior) deve ser imediatamente deitada ao lixo. Nem pensem duas vezes! Está fora de questão expor as crianças a produtos eventualmente carcinogéneos. Daí que seja essencial trocar frequentemente de chucha - na pior das hipóteses, de três em três meses, e mais frequentemente se as crianças já tiverem dentes - para evitar contaminações, riscos de contacto com substâncias eventualmente perigosas e diminuir a dependência de uma chucha em especial. E lavá-la frequentemente com água quente e sabão;

 

- em relação especificamente à sucção no dedo, técnicas como o uso de meias nas mãos, ligaduras, dedeiras de borracha, verniz com sabor amargo ou uso de camisolas com as extremidades das mangas cozidas têm que ser explicadas à criança e esta tem que aceitar e compreender a sua utilidade para que funcionem - mas numa criança motivada são altamente eficazes. Nas crianças mais velhas, depois da erupção dos dentes definitivos, em que o hábito persistente de sucção no dedo prejudica directamente o seu desenvolvimento, e em casos muito particulares, o odontopediatra pode planear a utilização de um dispositivo intra-oral que facilite o abandono do hábito. Também ajuda distrair as crianças com actividades que ocupem as duas mãos. Manter a criança ocupada a fazer puzzles, legos, jogar à Wii, a trepar árvores, a jogar voleibol/basquetebol, brincar com plasticina, fazer colagens ocupa-lhe as duas mãos e ajuda a distraí-la da necessidade de sucção para se sentir bem;

 

- voltando à chucha, escolher uma cerimónia ou uma viagem especial para a enterrar ou a dar pode ser uma boa estratégia: entregar a chucha ao bebé Jesus, ao Pai-Natal, ao coelhinho da Páscoa, à bebé girafa numa ida ao Zoológico. Ou aproveitar uma situação inesperada e que os marque para resolver a situação. No nosso caso, o instrumento que usámos para a Carolina e depois o Tomás deixarem a chucha foi um sapo que nos apareceu inesperadamente na Urra. Quando íamos deitar-nos, já de noite, encontrámos um sapo gigante. Ficámos todos espantados, em especial a Carolina. Nessa noite a chucha desapareceu para sempre. E o assunto ficou muito resolvido na cabeça da Carolina, pois foi obviamente o sapo que a foi buscar durante a noite. Qual seria a outra razão para ele ali ter aparecido?

 

- ou então pode-se sempre aproveitar para entregar a outro a tarefa de desmame. Há dois anos, quando mudámos de casa, fizemos um acampamento na sala da casa nova (com tenda e tudo) e convidámos uns amigos do Tomás para virem passar connosco o fim-de-semana. Os miúdos tinham 5 anos e iam entrar para a escola primária daí a uns meses. Dormiram todos na sala, em grande excitação e camaradagem, e eu fiquei no sofá para controlar as tropas. Em 5 segundos, depois de tanta brincadeira, caíram para o lado e só acordaram 10 horas depois. Todos, menos uma menina, que gemeu durante três horas e só adormeceu ao meu colo depois de muitos mimos e canções. Soube no dia seguinte porquê. O pai não lhe quis enviar a chucha, sem a qual nunca antes tinha dormido, porque receava que gozassem com ela. E resolveu fazer isso sem me dizer nada. Nessa manhã apeteceu-me enfiar uma chucha pela garganta abaixo desse pai, mas a história teve um final feliz: a menina largou a chucha de vez. (Claro que se quiserem fazer isso, talvez não seja má ideia perguntar primeiro à outra pessoa se está disponível para a tarefa.)

 

Em resumo, e para quem não teve paciência para ler isto tudo:

 

- o uso da chucha durante o sono é recomendável para todas as crianças, sobretudo durante o primeiro ano de vida, pela sua relação com a redução da SMSL (Síndrome da Morte Súbita do Lactente);

 

- a sua introdução deve ser atrasada, nas crianças amamentadas, para depois de a amantação estar firmemente implantada;

 

- a chucha é uma grande aliada quando se pretende acalmar, consolar ou confortar uma criança, mas por norma nunca deve ser utilizada como primeira linha de defesa para não aumentar a sua dependência dela e ajudar a criança a criar outras medidas de auto-controlo. Uma mudança de posição, uma canção de embalar, uma história ou uma sessão de mimos especiais de mamã/ papá são tão eficazes no conforto da criança como a chucha, e como tal devem ser utilizadas em primeira linha para potenciar os seus efeitos no futuro;

 

- a utilização da chucha ou de qualquer outro objecto alternativo para sucção não nutritiva (fralda de pano/ cobertor/ brinquedo/ lençol) é sempre preferível ao uso de um dedo para chuchar. O abandono deste hábito será sempre mais tardio e difícil;

 

- a frequência da utilização da chucha deve ser restringida para os momentos de sono e para situações de SOS em que os métodos alternativos de conforto e controlo não sejam eficazes, de modo a fortalecer métodos alternativos de auto-controlo na criança;

 

- a maioria das crianças deixa de usar a chucha entre os 2 e os 4 anos. A utilização da chucha durante o sono até aos 5 anos não é provável que cause problemas irreversíveis e a longo prazo. No entanto, de forma a evitar perturbações odontológicas, alterações no desenvolvimento craniofacial, na musculatura e na fala pela sua utilização frequente e prolongada, é importante aconselhar os pais das crianças que usam chucha até mais tarde a planear o abandono deste hábito antes da erupção dos dentes definitivos, de preferência começando a planear essa suspensão entre os 4 e os 5 anos;

 

- as chuchas devem ser trocadas com frequência e, sobretudo, a qualquer sinal de danificação devem ser imediatamente deitadas fora;

 

- existem múltiplos truques para se abandonar o hábito de chuchar mas não vale a pena insistir em nenhum deles se a criança ou os pais não estiverem preparados. É que às vezes são os pais quem precisa daquela chucha, e não a criança.

 

publicado às 10:09


9 comentários

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De Anabela Sousa a 17.02.2018 às 09:39

E eu que chuchei no polegar direito até aos 12 anos...se os pais tivessem lido isto... é que era tão bom chuchar no dedo 😁😁😁. Só terminei o processo quando uma prima me envergonhou😫😫😫custou muito mas...estávamos nos anos 70!!! Obrigada pela dica. O Vicente que vai nascer em maio próximo meu neto já vai ter a vovó Anabela para o ajudar neste desenlace🙏🙏🙏🌈🌈🌈
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De Mãe de 3 a 03.10.2015 às 21:27

Olá pais,

Certo dia, os pais decidem tirar a chucha. Conversam com a criança e apresentam um plano dizendo que está na hora de largar a chucha porque já é uma criança crescida. Em seguida fazem desaparecer a chucha. Vai chorar 1, 2, 3 dias
ou mesmo uma semana e depois paz. Silêncio. Haverá recaídas e mas já está. Simples e grossa.

Boa sorte.

Mãe de 3
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De Anónimo a 29.04.2015 às 15:17

Cara Teresa,
Foi assim que fizemos com os nossos 2 filhos rapazes, agora com 24 e 19 anos. Era assim que faríamos se fosse agora.
E tudo resultou, pois acreditamos na franqueza que devemos ter para com os filhos quando eles já conseguem compreender e porque pensamos sempre que somos pais 'suficientemente bons'.
Com amor e firmeza, nunca com mentira ou chantagem, as crianças vão lá, pois sentem nos pais o aconchego e apoio que necessitam, mesmo nos momentos em que estamos presentes.
Excepcionalmente, nenhum deles aceitou objecto de transição substituto. Era um 'vai que que t'avia' de peluches atirados da cama para o chão com um veemente 'nã queio!'.
Abraços.
Lília Tavares
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De Sílvia a 02.03.2015 às 22:16

Olá, estou a comentar porque agradecia que me desse ideias para conseguir com que a minha sobrinha de 2 quase 3 anos largasse a fralda. Nós (família- mãe, avós, tios e tias) tentamos o verão passado mas sem sucesso. Ela começou bem, mas passado algum tempo não quis chorava desalmadamente, o que ainda acontece, tivemos que adiar o processo. De tempos a tempos pomos-lhe só a cuequinha, o que ela adora, mas quando chega a hora H (quando sente a dita vontade), pede a fralda e como a gente diz que não, é para a sanita, ela faz uma cena descomunal, acabando por fazer na roupa ou alguem cede e lhe põe a fralda.
PS: eu não tenho filhos por isso agradecia algumas palavras de sabedoria
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De verónica silva a 25.06.2014 às 13:56

Dr. Teresa,
Li atentamente este seu post sobre o " deixar/retirar" a chupeta e preciso de uma ajuda/opinião sua. Tenho uma pequena que faz 3 anos em Nov. e no fim de semana decidiu entregar as duas chupetas a avó que seriam supostamente para a boneca ( cadelita da avó ), aproveitei a deixa e não lha voltei a dar, dizendo que não tinha pepe que ela deu a pepe para a boneca... bla bla... mas certo é que me dá mtª pena dela, geme, pede, questiona, mesmo ao fim de 3 noites sem ela, chega a dizer-me " mas eu tenho sono" noto-a mais agitada, adormecia sozinha e isso agr não acontece. Será que me precepitei na decisão, deveria voltar a dar-lhe a chupeta ? É que por mtª pena que tenha dela, e tenho, penso que se lha dou de novo, dps vai ser mtº mais complicado retirar.
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De Maria a 28.02.2014 às 14:22

Eu e a minha mãe plantámos as chuchas num vaso para depois aparecem as "flores da chucha". Estranho, mas resultou. Além disso fiquei muito contente quando vi as flores. :)
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De Sandra a 20.01.2014 às 12:41

Bom dia. O David largou a chucha em Setembro, com quase 28 meses, porque apanhou um vírus que lhe provocou borbulhas por todo o corpo, na boca e na garganta. Deixei a chucha à vista durante algum tempo, mas ele nunca mais a quis e acabei por deitá-la fora sem conversar com ele. Acontece que, desde Dezembro, quando tem sono, ele tem vindo a agarrar as orelhas e a esfregá-las, por vezes com alguma violência. Se está ao nosso colo, esfrega as nossas da mesma forma. Sinceramente, nunca prestei muita atenção, porque a minha sobrinha mais velha fazia o mesmo, mas ela usava chucha. Entre Setembro e Dezembro passaram 3 meses. Será que tem alguma coisa a ver?? Ou terá algum outro motivo? Estou a falar agora nisto porque ele ultimamente tem feito com mais frequência e com mais força... Obrigado.
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De Teresa Mendonça a 15.04.2014 às 17:35

Olá Sandra.
Diria que esfregar as orelhas, no caso do David, é um sinal de sono e o melhor a fazer nessa altura, para evitar que esses sinais se tornem auto-agressivos, é criar rapidamente condições para que ele adormeça, montando o ritual a que o habituou na hora do sono.
O facto de ele ter deixado a chucha pode ter facilitado a necessidade de encontrar outra forma de se acalmar e preparar para o sono, mas substituir esse hábito pelo regresso à chucha seria um passo atrás.
Se começasse a generalizar a sua ocorrência, associando-se a situações de stress de uma forma sentida como irreprimível e involuntária, poderíamos estar a passar para o desenvolvimento de tiques, que não me parece que seja o caso.
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De Céu Franco a 20.01.2014 às 11:25

Olá. Muito obrigada pelos seus posts - tal como referi em comentário anterior, a questão da chucha, cá em casa, não foi problema. Mas com o pequeno Lucas, que tem 32 meses, temos o problema da fralda.
Todas as crianças que conhecemos com esta idade já deixaram as fraldas - e pior, ele percebe muito bem que nos está a atingir ao fazer cocó na fralda (a mana Mariana diz que ele goza claramente connosco), mas pedir, é que nem pensar... a mim parece-me que temos que deixar de falar na fralda por uns tempos - porque acho que ele o faz para chamar a atenção, mas não é fácil ter que tirar a fralda supermalcheirosa, quando seria perfeitamente evitável, e ele ainda gozar com a situação, sem "reclamar" (pelo menos) um bocadinho. :) Obrigada

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