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Ontem foi o Dia Europeu dos Vizinhos. Achei maravilhoso que alguém se tivesse lembrado de oficializar um "estatuto" ao qual eu sempre dei tanto valor e que é tão pouco valorizado, ou então o é mas por questões meramente burocráticas e agilizadoras de questões de condomínio.
Desde a minha infância os meus vizinhos foram sempre amigos de casa, e mesmo depois de vários anos e prédios passados continuam a ser. Na minha adolescência/ juventude vivi em Castelo Branco num prédio enorme, que tinha quatro fracções em cada andar. Acontece que as vizinhas de patamar, que ocupavam a fracção B e D, tinham o mesmo nome, e ainda hoje usamos carinhosamente as letras da fracção para as distinguir: a Anita do B e a Anita do D.
E mesmo depois de tantos anos passados, e de sofridamente a Anita do D já pertencer a outro Reino, a do B continua a ser a minha vizinha do coração. As memórias dos dias passados de porta aberta para o patamar com crianças a entrar e a sair, trocando de casa como se estivessem a trocar simplesmente de quarto, com serões passados na sala da casa ao lado, a aproveitar o aconchego da Anita do B para aprender as artes das suas mãos prendadas, são muito doces e perpetuam-se.
E é muito bonito ver como os meus filhos conseguiram (mesmo estando a viver numa cidade muito menos "aldeia" do que aquela em que eu vivi na minha juventude) perceber e aproveitar a riqueza de um bom vizinho. Os nossos vizinhos de Entrecampos continuam com a mesma proximidade três anos passados, e sempre que lá vamos chovem tostas com doce de abóbora para tapar o "buraquinho" dos mais pequenos e as conversas fazem parar o tempo.
E mesmo no Areeiro, onde vivemos agora, com a saída dos vizinhos de cima e do lado, na sequência da nova lei do arrendamento, o carinho e a disponibilidade mantêm-se e é frequente pedirem-nos uma visita para matarmos saudades. E, graça das graças, os novos, que estão para entrar, parecem igualmente simpáticos e disponíveis. Também aqui as portas estão frequentemente abertas e os miúdos sentem-se no direito de ir desafiar o vizinho solteiro do R/C para um jogo de futebol (mesmo que não queira filhos, não tem outro remédio), ir brincar para a casa dos do 5.º andar, ir visitar o cão do vizinho do lado ou receber os mimos especiais da vizinha do 6.º. E é por isso que também eles sentem tanto a diferença que existe em relação a um único caso de vizinhança falhada, para quem os valores reconhecidos no dia de ontem não fazem sentido.
É maravilhoso poder contar com bons vizinhos, ainda que espalhados por Portugal! Graças a eles não será só o "sal" e a "salsa" que nunca faltarão cá em casa.