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"Abaixo os TPC e quem os apoiar!"

por João Miguel Tavares, em 19.09.14

Na caixa de comentários a este post, o Dr. Mário Cordeiro mostra-se igualmente um desapaixonado dos TPC:

 

Os Trabalhos Para Casa (TPC) geram uma enorme controvérsia. As queixas de pais sobre a sobrecarga de exercícios que os filhos trazem para fazer em casa não são novas, mas voltam a estar na ordem do dia. Os estudantes portugueses trabalham horas demais, e que nenhum sindicato deixaria passar tamanho atropelo aos direitos das crianças e jovens sem, pelo menos, um caderno reivindicativo e uma greve geral - com as aulas, as actividades complementares e os trabalhos de casa, chegam a dedicar 40 a 50 horas por semana ao estudo.

No limite, tal como são entendidos por muitos professores e pais, os TPC são uma agressão às crianças, adolescentes e aos seus direitos. Tudo o que se sabe sobre desenvolvimento infantil e sobre técnicas pedagógicas no ensino-aprendizagem mostra que esta prática não tem, em pleno século XXI, razão para existir nos moldes em que é feita.

São vários os motivos que tornam os TPC, repito, da maneira tradicional como são exigidos, quase uma aberração:

• as crianças e adolescentes trabalham muito durante o dia, seja a estudar, seja a brincar, correr, conversar e debater ideias;

• ao fim da tarde, estão carregados de endorfinas e cansados, sobretudo se tiveram outras actividades entre a escola e a casa, como desporto;

• precisam de tempo para gozar o seu espaço regressivo caseiro;

• o que aprenderam no próprio dia ou até nos dias anteriores só será metabolizado nessa noite, pelo que tudo o que seja exigir trabalho sobre assuntos ainda não burilados pelo cérebro é quase sádico - por isso é que usamos a frase "há que dormir sobre o assunto";

• o tempo para estar em família diminui;

• a tolerância dos pais é pouca, ao fim da tarde, e o nível de irritabilidade doméstica sobe, quando deveria descer;

• são os pais que acabam por terminar os TPC, gritando com o filho e achincalhando-o;

• os professores não lêem os TPC, todos os dias;

• não há tempo para ler, reflectir, "não fazer nada", brincar;

• a imagem dos professores fica, muitas vezes, associada a uma imagem de quase sadismo, de desrespeito e de não desejarem o melhor para os alunos.

Assim, e tendo promovido há dez anos, com a Isabel Stilwell e o Eduardo Sá, um dia de greve aos TPC, para comemorar o aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança, acho que os TPC diários são uma aberração, mas que trabalhos de pesquisa ao fim-de-semana, para serem feitos com os pais, ou gastar 15 a 20 minutos a ler (ler apenas, e não estudar) as páginas das matérias do dia, para as repescar para o cérebro as trabalhar durante a noite, isso sim.


Portanto, de uma forma panfletária: "Abaixo os TPC e quem os apoiar!"

 

publicado às 09:57


70 comentários

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De Nicole I. a 24.09.2014 às 10:10

Acho que o problema hoje em dia é a quantidade absurda que é exigida as crianças e não estou a falar do ensino secundário onde já é normal o grau de exigência tal como no 9 ano.

A minha filha esta na cresce e faz trabalhinhos giros que os pais tem de completar em casa com frases ou textos, boa maneira de nos envolver sem qualquer problema até acho giro.

O problema surge depois logo no 1º ano ao 4º ano, de certo que já deve te ter mais de 18 anos, logo na sua altura não havia exames nacionais a não ser no ensino secundário. Havia provas globais ao 9, 10 e 11 ano.

Agora os míudos tem um exame nacional para fazer no 4 ano, ok faz com que passem só os alunos bem preparados para o 5 ano, mas um exame nacional com media do 3 e 4 ano. Eu acho excessivo estamos a falar de crianças com 8 e 9 anos. O papel do professor durante esses 4 anos é que devia de decidir se a criança esta preparada ou não para passar de ano e este devia de ter autoridade para o fazer.
Eu olho para os manuais de primeiro ano e vejo que é exigido logo que leiam e escrevam bem no primeiro ano... eu recordo pelo meu primeiro manual que aprendiamos o abecedário e no final a juntar algumas palavras, e a matemática aprendiamos a contar e a somar apenas... Hoje em dia aprendem a somar a subtrair e afins... tudo no primeiro ano... estamos a falar de crianças com 5 a 6 anos a entrarem e de repente todos os dias para além da escola e ATL atenção aos horários, chegarem a casa e fazerem a ficha de português, de matemática e a ficha de estudo do meio, e tem de ter a ajuda dos pais porque ainda não sabem ler... ISto todos os santos dias como já vi pais meus amigos se queixarem, que a criança pequena que brincava e corria passa os dias da semana entre escola, ATL e mais escola em casa e quando quer brincar é hora de dormir porque precisam de dormir pelo menos 10 horas para se aguentarem bem a mais um dia de aulas que é das 8:30 as 17:00...

No meu tempo, até ao 4 ano só tinha aulas da parte da manhã e a tarde a minha mãe ficava comigo e os meus amigos iam para o ATL... tinhamos trabalhos de casa sim mas eram poucos... nunca me senti pressionada no 4 ano... não havia testes e nem me lembro de estudar... faziamos fichas nas aulas e a professora corrigia..
Hoje vejo crianças no 2 ano e terceiro a passarem noites ansiosas porque tem o teste e não podem ter má nota...
Onde está a infância.... que eu tive... e garanto que eu sou Licenciada e nunca tive tanto TPC como agora existe... e tenho emprego...

Diferenças entre privado e público, a escola RAIZ uma escola privada e super conceituada só acredita em dois TPCs, a quarta feira para rever materia e ao FDS levam um pouco mais, mas nada que não se faça em 1 ou 2 horas....
No público uma criança no 1ºano nas primeiras férias de Natal que são 15 dias levou 40 fichas para fazer.... quando foi a reunião de pais em Janeiro metade das crianças não as tinham feito e os pais foram lá reclamar com o professor porque em 15 dias o normal seria vá uma 8 fichas para os miudos brincarem tem 6 anos... e não 40... resposta do professor ha não era tudo obrigatório mas sei que havia meninos a ir para o ATL e tinham de se manter ocupados... então e no ATL não podem brincar?! Se o estado decreta férias escolares não serão elas necessárias para cerebros em desenvolvimento poderem descansar?!
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De Anónimo a 25.09.2014 às 14:55

É mesmo isto que eu penso.
Tenho dois filhos. Um no 7.º ano e outro no 2.º.
A diferença de exigência do primeiro ciclo aumentou tanto nestes (poucos) anos que estou pasmada.
Acho o programa do meu mais novo, agora no segundo, sobretudo a matemática puxado demais.
Há quem diga - temos de puxar pela competitividade desde pequenos. Pois, é verdade, mas há que ter atenção que as crianças não se desenvolvem todas de igual forma e que aos 6/7 anos algumas ainda não desenvolveram toda a capacidade de raciocínio, em especial matemático.
Essas crianças começam, desde já, a ficar "de lado" porque não acompanham...

Um exemplo, no ano passado, a minha filha ainda não sabia ler tudo, porque não tinha aprendido todas as letras, e nos livros tinham problemas com enormes enunciados! Como é que os vão fazer?

A professora diz que tem de mandar trabalho para casa, e que os pais têm de trabalhar muito com eles em casa, porque o programa é extenso, têm testes intermédios e se não trabalharem muito em casa não conseguem!

Considero-me uma mãe exigente, nada galinha acreditem, mas o nível de ensinmo está de uma maneira que, das duas uma, ou vão todos dar supra sumos da inteligência ou queimaram os fusiveis todos antes de irem para a faculdade.

Não sei o que querem fazer às nossas crianças!

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