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Comentários super-fixes #1

por João Miguel Tavares, em 30.05.14

Bom, isto anda animadíssimo por aqui. Antes de eu entrar em modo "vamos então falar muito a sério que há gente a ficar irritada", por causa dos posts anteriores (é ir aqui e seguir os links), queria destacar alguns comentários, conforme prometido, porque há coisas bastante boas por ali e pode haver quem esteja receoso de frequentar as caixas de comentários, não leve com alguma das garrafas que andam a voar de um lado para o outro.

 

Em primeiro lugar, queria destacar este comentário da Mãe Sabichona, que faz jus ao seu nome com uma análise deveras pertinente:

 

Bateu num ponto com o qual concordo muito. Essa ideia de exigência interna extremada, de que apenas o filho tem necessidades e vontades. Os filhos também precisam de crescer sabendo que as outras pessoas com quem (con)vivem têm desejos, nomeadamente os pais. Embora eles sejam menores e caiba-nos a nós a maior responsabilidade de os entender e não vice-versa, faz parte da vida não serem sempre totalmente compreendidos. Penso que temos de nos adaptar aos filhos tal como eles têm de se adaptar a nós e o González foca uma relação unidireccional em que o foco é sempre o dos filhos.

 

Agora, se tem uma visão extremada e idílica, isso não retira um fundo de verdade. Para mim, não é demais reflectir sobre momentos em que as nossas reacções são fruto das nossas próprias frustrações. Os pais descarregam mesmo muito nos filhos e esse é um dos motivos para se sentirem tão culpados. Porque sabem que agiram mal. Sabem que chegaram a casa e lhes deram uma palmada porque vinham massacrados com o trânsito e com o patrão. Claro que têm o direito de agir mal, não são perfeitos, e os filhos hão-de também crescer a perceber isso, ou seja, que os pais também são injustos. Mas daí a dizer que o filho levou a palmada porque realmente mereceu vai uma grande distância. É só isto que a meu ver falha no seu discurso: não conceber que, em parte, ele mexe nalgumas feridas da parentalidade. Ele foca-se demasiado nos filhos e o JMT nos pais :)

 

É uma bela lição da Mãe Sabichona, incluindo na parte em que me critica. Ela tem toda a razão: eu centro-me mesmo muito nos pais. Um princípio de justificação é este: acho que nos dias de hoje é preciso contrabalançar o barco. Tentaria explicar porquê num próximo post.

 

Queria também chamar a atenção para este comentário da Polliejean, que vai numa direcção semelhante:

 

Às vezes dá-me a sensação que o JMT se foca demasiado no papel do pai mártir que cria os filhos ali no limite da paciência porque já lhe estão a estragar o dia e berram muito ao jantar. No entanto, acredito que não é o tipo de pai que passa o tempo a bufar de cada vez que os filhos se aproximam de si. É só um certo show-off para o blogue, que tem a sua piada. Claro que sempre tem a Teresa para contrabalançar alguma falta de paciência ou momentos cutchi-cutchi com os seus filhos... :)

Mas agora ao que interessa: estas teorias do Sr. González, por muito estapafúrdias que pareçam, podem servir para encontrarmos ali um meio termo entre o estaladão e a permissividade total. Também é importante sabermos ver com olhos críticos as teorias "irrefutáveis" com que crescemos e moldá-las à nossa situação específica. Não acredito na permissividade total, mas, por exemplo, também cada vez acredito menos que o castigo seja a solução...

 

É uma posição perfeitamente aceitável - e uma excelente análise da minha pessoa. Deixo apenas esta questão: o que é que precisamos mais hoje em dia? De um pediatra que nos ensine a mimar mais os nossos filhos ou de um pediatra que nos ensine a ser mais exigentes com eles?

 

E por falar nisso, deixem-me recuperar um dos muitos comentários do Dr. Mário Cordeiro, que em boa parte por minha culpa anda para aqui a sujeitar-se a levar pancada com fartura. Ele tem cabedal para isso e não precisa de advogado de defesa, mas não ficaria de bem com a minha consciência se não fizesse duas breves notas pessoais. Em primeiro lugar, quem sugere que o Dr. Mário não respeita as opiniões dos pais só pode estar a ir às consultas de um qualquer terrível sósia ou do seu malévolo irmão gémeo - confirmem isso. Esse tipo impositivo não é, de certeza, o mesmo pediatra que atura a minha quádrupla descendência há dez anos.

 

Em segundo lugar, e exactamente porque o Dr. Mário respeita as opiniões dos outros, ele de certeza que não concorda com imensa coisa que eu escrevo neste blogue. Incluindo a história da palmada correctiva. Portanto, não confundam as coisas, por favor. Nós somos duas pessoas que pensamos pelas respectivas cabeças, e apreciamos muito essa actividade, ok?

 

Dito isto, cá vai o prometido comentário, que, ao contrário do que alguns querem fazer crer, me parece uma posição perfeitamente equilibrada em relação à educação das crianças:

 

Porquê esta coisa de gerir afectos, de dar ordens sobre ensino/ aprendizagem, de regulamentar a relação pais/ filhos? (e instilar culpa, doses imensas de culpa, nos pais?). E porquê colocar sempre amor e educação como coisas antagónicas? As crianças NÃO são adultos em miniatura e estão num processo de aquisição de autonomia, de liberdade, responsabilidade, direitos e deveres. Sem modelos, faróis, guias, não irão a parte alguma. Um rio com margens muito estreitas evolui em turbulência, mas se as margens são demasiado largas e pequenas, espraia-se na lezíria e não chega à foz.

publicado às 10:25


16 comentários

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De Ana Maria a 31.05.2014 às 18:18

Uma das coisas que me incomodou mais na troca de argumentos destes últimos posts foi a ideia de que quem segue ou adota a filosofia/política/maneira de estar defendida pelo Carlos Gonzalez é obrigatoriamente new age, hippie, doido varrido ou uma pessoa que anda a potenciar o aparecimento de pequenos ditadores em vez de crianças equilibradas e saudáveis.
Quando me debatia com aquelas questões sobre "como lidar com esta bebé que chora noite e dia?" - a minha filha foi uma bebé muito difícil, daquelas que nos leva à exaustão - li muito. Enquanto amamentava percorria sites de mães e pais, li estudos, artigos, muitos PDF's sobre a melhor forma de levar uma criança a acalmar. Li de tudo, e curiosamente o autor com quem mais me identifiquei - aquele que me fez pensar "epah, se calhar até não sou a única a pensar/sentir assim" foi precisamente o Carlos Gonzalez. Não decidi seguir a sua linha de pensamento, apenas me identifiquei com ela. Validação externa? Talvez. Mas só quem tem uma bebé de dias que chora noite, dia, e intervalos, sabe como a validação externa é importante para uma mãe desfeita.
Mas continuemos, que o que me traz cá é precisamente rebater a ideia que referi acima.
Sou calma, sempre fui. Enervo-me como todas as pessoas, irrito-me com coisas, comportamentos, atitudes, mas mantenho a calma - pelo menos por fora. O que significa que não grito, não falo alto, não berro, não bato. Prefiro conversar, explicar, acalmar, e se isso não resultar paciência. Berrar/bater? Para já (friso, para já) ainda não cheguei a esse ponto.
Ora esta "calma" não é fácil de conseguir: exige muito treino, anos de trabalho. Ou será que alguém acredita que estas pessoas "zen" são desprovidas de nervos? Que não se irritam? Que nunca tiveram vontade de fugir, de gritar, de bater com a porta, de dar uma palmada?
Por mim, posso garantir que sim, perco a paciência, fico cansada, zango-me. Por exemplo: na semana passada, depois de um dia de cão, o pequeno não queria adormecer. Ria, brincava, chorava com o sono, estrebuchava, mas não dormia. E eu, cansada como estava, só queria que ele parasse e dormisse. Apeteceu-me mandar um berro, dizer um "chega", acabar com aquilo. Mas ele não tinha culpa do meu dia de cão, estava a agir como um bebé cheio de sono, estava chaaaaaaaato.
Por isso, não berrei, nem gritei, e mantive a rotina (já fora de horas) da história, e do beijo, e do colo antes de dormir.
São opções, estas do "new age" :P, por vezes muito difíceis de manter. Mas - no meu caso - foi uma filosofia de vida pensada, escolhida em consciência, e trabalhada ao longo dos tempos:)

"live long and prosper" ;)

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