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O dr. Mário Cordeiro é o pediatra a quem calhou a fava da família Mendonça Tavares: já lá vão dez anos a aturar a nossa rapaziada. Para além de se dividir por 472 actividades, desta vez o dr. Mário ainda teve tempo para vir dar uma perninha opinativa ao nosso blogue, por causa deste post. Eis o seu comentário:
É preciso sempre grande cuidado ao interpretar estes dados. Para já, não são amostras representativas, mas sim de conveniência, o que retira qualquer hipótese de extrapolação - não sabemos quantas pessoas responderam mas, mais importante, quantas se recusaram a responder e porque o fizeram.
Depois, as razões para responder "sim" (no sentido de ser vítima ou perpetrador) podem variar conforme o à-vontade com que as pessoas das diversas culturas e países se sentem relativamente a temas "tabus" ou "obscuros". Para já, nem sabemos qual a "definição de caso" usada nos diversos países e como ela é compreendida e interpretada neles.
Há um bom par de anos, um estudo brasileiro mostrava que na Suécia havia muito mais crianças com síndroma de Down ("mongolismo") do que no Brasil, tendo-se depois verificado que a amostragem era o número de crianças com esta doença que se viam na rua... as brasileiras estavam escondidas em casa!
Não embarquem, pois, nas "primeiras páginas" - ainda hoje se dizia que os casos de violência sobre crianças tinham aumentado creio que 12,5% - não são "os casos", mas "os casos reportados", o que é muito diferente. Claro que, para um jornal, o primeiro título vende mais... Pena é que não haja uma análise epidemiológica e uma meta-análise coerente e consistente destes estudos e surjam, apenas, resultados aqui e ali que são fogachos e que, bastas vezes, não expressam o real sentido do fenómeno.
Talvez por isso, também, é que as pessoas continuam com medo dos pedófilos a ponto de eu ver pais obcecados com as fotografias aos filhos, quando mais de 90% dos abusos sexuais ocorrem em casa, com pessoas conhecidas da criança. Aliás, os media falam de "crime de pedofilia"... que não existe porque a pedofilia não é nem pode ser crime: o que é crime é o abuso sexual ou, melhor, o crime contra a liberdade e autodeterminação sexual de uma criança. Ser pedófilo e não cometer crime de abuso não é passível de denúncia, sequer... é uma parafilia, mas não um crime. Poderemos "esmiuçar" este tema, se o JMT quiser.
O dr. Mário regressa no seu parágrafo final à questão da pedofilia, que já havia sido abordada aqui e aqui. Aparentemente, ele acompanha o meu tom mais despreocupado do post inicial sobre o tema. Só que esse tom mudou depois da quantidade impressionante de pessoas que partilharam neste blogue casos pessoais de abuso, quando crianças. Por isso, sim, não me importava nada de "esmiuçar" o tema. Até porque ainda não tive com nenhum dos meus filhos a tal conversa sobre os potenciais perigos da pedofilia.