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Dia de exame

por João Miguel Tavares, em 19.05.14

Hoje é um dia muito importante para a Carolina: a esta hora, ela está a fazer o primeiro grande exame académico da sua carreira - a prova de aferição de Português do 4.º ano. Na próxima quarta-feira será a vez da prova de Matemática.

 

Eu sempre fui a favor deste tipo de exames. O final do ensino básico é uma altura muito importante na vida deles, e acho muito bem que os seus conhecimentos sejam avaliados. Mas há um "mas", que tem mais a ver com os adultos do que com as crianças. Acho óptimo que os miúdos sejam examinados; acho péssimo, estando a falar de putos com 10 anos de idade, que os pais e os professores coloquem em cima dos seus ombros uma pressão excessiva.

 

Ou seja, acredito que as crianças estão preparadas para fazerem testes e devem fazê-los - afinal, elas levam com provas de avaliação ao longo de toda a escolaridade. Mas tenho dúvidas acerca da sua preparação para lidar com pais stressados e professores de escolas demasiado competitivas, que interrompem as lições curriculares com um mês de antecedência só para preparar as crianças para os exames.

 

Como ninguém quer fazer má figura - e como a avaliação da performance das escolas é um critério cada vez mais relevante para pais e ministério da Educação -, tenho a sensação de que nalgumas escolas e em algumas famílias a pressão pela performance de excelência possa ser contraproducente. O Público trazia ontem um belo trabalho sobre o tema, onde se alertava para os perigos da transformação das escolas em "centros de treino" para exames.

 

Sei do que falo. A coisa, antes de começar a enervar os filhos começa a enervar os pais, e já tive algumas discussões com a excelentíssima esposa sobre o tema, onde me vejo no triste papel de molengas doméstico - logo eu, que sou adepto de uma educação austera e expurgada de mariquices.

 

A minha posição sobre o estudo caseiro acompanhado já foi exposta aqui e aqui, mas quando os exames apertam há certas filosofias mais difíceis de pôr em prática, sobretudo porque a Teresa insiste em que eles trabalhem mais em casa e combatam as suas dificuldades - até porque há sempre novas dificuldades que vão surgindo, à medida que as matérias se complexificam.

 

Mas eu mantenho-me na minha enquanto eles tiverem boas notas - estudar é, em primeiro lugar, responsabilidade deles, não dos pais. No mundo perfeito, e a partir da idade da Carolina (aos seis ou sete anos eles ainda são muito pequenos e falta-lhes sentido de responsabilidade), os pais só deveriam intervir a pedido dos próprios. Género: "Papá, há aqui uma matéria que não percebo. Importas-te de me explicar?"

 

A verdade - se calhar sou eu que sou ingénuo - é que acho que a Carolina faz isso. Ela em casa parece às vezes um pouco baldas, mas não acredito que seja assim na escola - é demasiado competitiva, e tem demasiado prazer em ser a melhor, para que se deixe levar pelo desinteresse académico. Além de que teve cinco a Português e a Matemárica no segundo período - ou seja, provou a sua competência e deu mostras de merecer a minha confiança.

 

E tendo ela provado até ao momento ser uma óptima aluna, eu entendo não ter o direito de lhe impor três ou quatro horas de estudo num fim-de-semana sobre matérias que ela diz dominar - e, sobretudo, depois de andar a fazer essa mesma preparação durante cinco dias por semana na escola.

 

A Teresa, claro, é mais desconfiada, e quer ver com os seus próprios olhos - via testes e trabalho a sério - essa competência. E, portanto, acusa-me de, com a minha atitude "ela é que sabe e não a chateies excessivamente", estar a demitir-me das minhas responsabilidades e a fazer o joguinho da minha filha mais velha. E como a Carolina escuta certas conversas atrás das portas, já percebeu a existência dessas divergências e, esperta que nem um cuco, utiliza-as nas suas actividadezinhas de manipulação parental.

 

Mas lá está: visto a uma certa distância, ou seja, visto daqui mesmo, frente a um ecrã de computador que me ajuda a pensar, eu mantenho-me fiel à minha filosofia da autonomia e da responsabilidade. Enquanto a Carolina provar e cumprir, ela tem direito a definir os seus métodos de trabalho e de estudo. Até porque tenho, de facto, imenso medo em pressionar demasiado miúdos desta idade - facilmente transferimos para eles os nosso nervos e, depois, estão uma pilha na hora de fazer o exame.

 

Ainda há pouco, só de estar a entrar numa escola nova onde não conhecia a sala e não via os colegas, parecia uma barata tonta. Em vez de perguntar calmamente a uma auxiliar onde deveria dirgir-se, desceu a correr as escadas da escola para me vir apanhar à porta de entrada (os pais não podiam entrar na escola), para eu a ajudar. Lá tive eu de explicar ao senhor da porta que tinha mesmo de me deixar subir, porque ela estava já toda tremeliquenta e à beira da choraminguice. Ele deixou - e é por isso que gosto tanto de Portugal.

 

A Carolina sempre teve a enorme qualidade não se enervar, de ser super-optimista, de achar que é capaz de tudo e um par de botas na hora de ser avaliada. Isso são enormes virtudes quando se entra numa sala de exame, e saber na ponta da língua a diferença entre determinantes possessivos e determinantes demonstrativos não compensa a perda da sua postura zen.

 

Claro que uma coisa não impede necessariamente a outra, mas no caso da Carolina prefiro não arriscar. E se eu sempre lhe disse "confio em ti desde que tenhas boas notas" não vou mudar de filosofia só porque se aproxima a GRANDE PROVA DE AFERIÇÃO. Eu sou totalmente pela exigência, não desculpo más notas, acho que estudar é o trabalho deles e o devem levar muito a sério. Mas também não exageremos, caraças. São putos de dez anos. Estão na quarta classe, por amor de Deus. Querer transformá-los já em mini-adultos à beira de entrar na universidade é uma homérica palermice.

 

E sabem porque é que, no fundo, no fundo, essa homérica palermice acontece? Porque hoje em dia damos demasiada atenção aos nossos filhos. Essa é que é essa. Se às vezes pensássemos mais em nós e menos neles, tudo seria muito menos complicado. Infelizmente, estamos tão habituados a que os filhinhos sejam o centro das nossas vidas, que às tantas já não conseguimos fugir à força da sua gravidade e deixar de orbitar em seu redor.

 

publicado às 09:55


41 comentários

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De Anabela a 20.05.2014 às 18:01

Existe em Portugal uma escola onde os alunos não fazem testes até ao 9º ano, ou melhor, 9ª vez, mas são obrigados a fazer os exames nacionais...
Escola da Ponte
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De Carolina Maria a 20.05.2014 às 11:42

Bom dia, concordo com a sua filosofia de “ela é que sabe e não a chateies excessivamente” uma vez que não admite más notas. Eles devem ser o mais autónomos possível (desde que controlados para não baixarem as notas claro).
Eu, sem colocação como professora, estou a dar explicações a alunos de escola primária (inacreditável não é?). Nunca pensei que crianças tão novinhas já precisassem mas agora compreendo o problema. Estes miúdos não estão minimamente atentos na escola e, depois, em casa, os pais não lhes conseguem ajudar. Então, em vez de os obrigarem a estar com atenção ao que diz a professora (para aprenderem e saberem fazer os trabalhos sozinhos), falam comigo para os ir buscar à escola 2 vezes por semana para lhes ajudar com os trabalhos de casa e explicar as matérias onde vão tendo dificuldades.
Pais estes que estão constantemente a arranjar-lhes desculpas para eles não saberem fazer as coisas, porque segundo os pais “hoje em dia dão estratégias muito difíceis a matemática e é normal que eles não saibam”. Tudo bem que eles têm alguma razão quanto à dificuldade em determinadas matérias mas a professora não é tonta, certo? Se ela mandou determinado tpc foi porque explicou essa matéria na escola. Se eles não sabem responder é porque não estiveram com atenção ao que a professora ensinou!
E depois, quando chegam os exames, os pais ficam mais nervosos do que os filhos e não param de lhes dizer "Tu está com atenção ao que diz a professora e tira todas as dúvidas com a Carolina porque tu não podes chumbar... Tu tens de ter pelo menos um 3 nos exames" (enfim...)
Só tive uma mãe que, à frente da filha, aparentou estar calma e dizia "eles não têm nada que estar nervosos, é só um teste como os outros". Parecendo que não, era a miúda que estava mais calma aqui comigo... Porque eles próprios querem ter boas notas e já andam nervosos só de pensar nas provas, se os pais lhes demonstram ainda mais nervosismo, pior!
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De Teresa A. a 20.05.2014 às 13:24

Explicacoes na primária?
Ao que este país chegou....
Desculpem lá, mas eu, que vivo num país rico - Alemanha - nunca ouvi falar nisso por aqui.
Aliás, na Alemanha recorre-se muito menos à explicacao do que em Portugal.
Tenham paciência! Nem que mais nao seja, porque a malta tem pouco dinheiro para "esbanjar".
E nao estou a dizer mal dos explicadores, eu sou filha de uma professora e a minha melhor amiga também é professora e dá explicacoes. Mas eu própria, nos meus tempos de secundário (anos 80) só tive uma vez explicacoes, no 12°, a física, por causa do exame de acesso à faculdade.
Ah, e também dei explicacoes nos meus tempos de faculdade: o mal dos pais é que acham que com dinheiro se resolve tudo, como se os explicadores fossem abrir as cabecas dos miúdos para lhes enfiarem a matéria lá dentro. Ou entao, acham que os explicadores servem para fazerem os TPC dos miúdos.
E o que é que fazem quando estes filhos entrarem no mercado de trabalho? A quem é que vao pagar???
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De Carolina Maria a 20.05.2014 às 13:58

Quando terminei o curso não sabia o que fazer (pois colocação neste país é extremamente difícil para não dizer mesmo impossível). A ideia das explicações surgiu do meu namorado (companheiro) e eu também achei que não ia ter alunos.
Quando apareceu o primeiro aluno compreendi a necessidade da minha ajuda (devido ao seu défice de aprendizagem, é uma criança com bastantes dificuldades, não sei se está sinalizada como N.E.E. – Necessidades Educativas Especiais, mas estará por aí). Depois começaram a vir outros miúdos, cujos “problemas” são apenas falta de atenção na escola (são autenticas cabeças no ar) e alguns com acréscimo de excessivo mimo em casa. E sim, pela vontade de alguns pais, se eu simplesmente lhes desse as respostas estava tudo bem e não era preciso mais nada (se eu pudesse ir fazer o exame por eles acho que alguns até me agradeciam).
A questão financeira não se coloca propriamente poie eu também andei em explicações (do 7º ano 9º ano e no secundário apenas a matemática) e claro que, para a escola primária eles não pagam quase nada (eu estou a ganhar mais em experiência a explicar-lhes as matérias do que propriamente dinheiro).
Mas eu tenho a certeza que, se os pais dos meus alunos soubessem fazer os tpc por eles, não me pediam para os ir buscar. A questão aqui é que os pais já não se lembram das matérias e como algumas até são novas, eles juntam o útil ao agradável e, vindo para aqui, têm alguém que lhes explica a matéria para que consigam responder aos tpc. Lá está, eu limito-me a repetir o que a professora faz na escola – explicar!- mas como aqui eles estão sozinhos ou a pares têm obrigatoriamente que estar com atenção ao que eu estou a dizer e já percebem (simplesmente porque me estão a ouvir, algo que não fazem na escola).
Eu sou daquelas pessoas que tirou o curso de professora por gosto de trabalhar com crianças destas idades e estou a adorar dar estas explicações – não tendo uma escola onde exercer torna-se o “trabalho” mais aproximado com o que desejava. No entanto, sou a primeira a reconhecer que, se os pais lhes dessem menos mimo e os obrigassem a estar com atenção na escola e a estudar sozinhos em casa, o meu trabalho com eles tornar-se-ia dispensável. Como disse no início, eu própria não acreditava que houvesse alunos destas idades a precisar de explicação.
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De Anónimo a 21.05.2014 às 11:12

"lhes ajudar" ?? uma professora a escrever isto????
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De Carolina Maria a 21.05.2014 às 14:08

Tem razão, troquei o pronome pessoal. Em vez de "LHES ajudar" deveria ter escrito "OS ajudar". E sim, uma professora escreveu isso. Uma professora que antes de ser professora já era ser humano e não tem problemas nenhuns em assumir o seu erro. Aliás, assumo o erro e agradeço a chamada de atenção.
Quem nunca errou que atire a primeira pedra...
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De Anónimo a 21.05.2014 às 14:53

Trocou duas vezes e lamento dizer-lhe mas é um erro indesculpável para uma professora, ainda que ser humano.
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De Carolina Maria a 21.05.2014 às 15:10

Sim, eu já tinha reparado que dei duas vezes o mesmo erro.
Quanto ao resto, cada um tem o direito à sua opinião... Essa é a sua.
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De Anónimo a 21.05.2014 às 15:31

É mesmo essa a minha opinião e experiência. Além do facto de os pais "não obrigarem os filhos a estarem com atenção nas aulas" (até gostava desse sugestões de como conseguir tal coisa) ha um outro problema com o ensino neste momento que é os professores não saberem para si quant mais para ensinar. Seja de que disciplina for, um professor tem que saber escrever correctamente português e infelizmente não é isso que tenho vindo a verificar em muitos casos.
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De Anónimo a 21.05.2014 às 15:32

É mesmo essa a minha opinião e experiência. Além do facto de os pais "não obrigarem os filhos a estarem com atenção nas aulas" (até gostava desse sugestões de como conseguir tal coisa) ha um outro problema com o ensino neste momento que é os professores não saberem para si quanto mais para ensinar. Seja de que disciplina for, um professor tem que saber escrever correctamente português e infelizmente não é isso que tenho vindo a verificar em muitos casos.
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De Carolina Maria a 21.05.2014 às 17:08

Cada caso é um caso mas, considerando os alunos a quem dou explicações não era difícil. Bastava os pais não darem razão aos filhos quando não a têm. Ou seja, o aluno chega a casa e não sabe fazer os tpc “porque a professora não explicou nada disso”. Ora, a professora não manda tpc sem previamente ter explicado a matéria, se o aluno não ouviu a explicação na escola foi porque não esteve com atenção. Mas a preocupação dos pais é dar uma resposta correta ao trabalho dos filhos. Portanto, os pais respondem, o filho continua sem perceber mas leva o trabalho correto – e (para os pais) isso é que interessa!
Na minha opinião esta atitude não está correta. Quando os pais não sabem explicar, é preferível chamar a atenção do filho. Conversar com ele fazendo-o compreender que, se não sabe o que é pedido no trabalho, é porque não esteve com atenção na escola e por isso não vai fazer o trabalho e, no dia seguinte, vai pedir à professora que volte a explicar a referida matéria, passando pela vergonha de não ter feito o tpc.
Pode não resultar à primeira, nem à segunda mas vai haver um ponto em que o aluno se vai sentir envergonhado e vai prestar atenção ao que a professora explica para, quando chegar a casa, saber responder ao tpc.
O problema é quando o aluno diz que a professora não explicou e os pais acreditam e acham que o filho “tem toda a razão porque a professora manda trabalhos sem explicar nada”! Algo que já comprovei ser mentira porque (além de já conhecer a professora devido a falar com ela sobre os alunos) já me aconteceu corrigir trabalhos de um aluno e, na hora seguinte, um colega da mesma turma, com os mesmos trabalhos, não saber responder alegando “a professora não falou nada sobre isso” (ou, pelos vistos, o colega esteve com atenção e ele não).
Até hoje nenhum aluno meu foi com nenhum trabalho mal corrigido mas se algum dia tal acontecer não terei problemas em assumir (seja qual for o erro). Assim como não tenho qualquer problema em consultar o dicionário quando tenho dúvidas (maioritariamente com a questão da acentuação pós novo acordo ortográfico). O dicionário existe para isso mesmo, para ser consultado! Nunca conheci ninguém que soubesse tudo. E custa-me quando alguém fica ofendido por ser emendado. Todos nos podemos enganar e, quando isso acontece, só temos é de assumir e aprender para (tentar) não repetir o mesmo erro.

Volto a repetir: A sugestão que dei inicialmente refere-se aos alunos com quem trabalho (não significa que resulte com todos).
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De Anónimo a 20.05.2014 às 09:38

Qual seria a sua reacção se a Carolina reprovasse?

Ana Sousa
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De Maria Amorim a 20.05.2014 às 00:24

Acontece que o stress e a pressão é normalmente da parte dos pais. Todos querem ter filhos com a melhor nota da turma. Contudo, isso não é possível ou fácil para todas as crianças. Então, a pressão é sentida de maneira diferente porque querem agradar aos pais. Até ao momento em que percebem que não conseguem, então desistem! O exame serve para avaliar escolas e professores, muito mais do que para avaliar as crianças.
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De Anónimo a 19.05.2014 às 21:54

Espero que tudo tenha corrido pelo melhor para a pequena Carolina (: o meu irmão também teve o exame de português hoje.. Mas ele já está no sexto ano! Muito boa sorte para o de matemática (:
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De Sara a 19.05.2014 às 21:46

Só um reparo: a sua filha fez um exame nacional e não uma prova de aferição. E, sim, é diferente; a prova de aferição não contava diretamente para a nota e para a passagem/não passagem de ano, enquanto o exame sim!
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De Carolina Maria a 20.05.2014 às 11:55

Olhe que nem uma coisa nem outra...
Ela fez "Prova Final". Que sim, conta uma determinada percentagem para a nota final.
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De Sofia a 19.05.2014 às 19:46

Devo dizer, João, que considero a sua atitude a ideal, bastante equilibrada: cultivar a responsabilidade mas não de uma forma sufocante. Eu concordo com os exames mas mais como forma de garantir que os conteúdos programáticos são todos devidamente leccionados, que os alunos levam as bases necessárias para o segundo ciclo, do que propriamente para estimular a competição negativa. Não convém esquecer que estamos a tratar de crianças e que muita da sua aprendizagem e formação pessoal acontece quando brincam. Eles terão tempo de sobra para stressarem com as notas quando estiverem no Secundário.
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De Pedro Macias Marques a 19.05.2014 às 16:58

O principal problema dos exames é exactamente o de transformar as escolas em "centros de treino" (expressão que pode trazer algum exagero, mas que é uma boa imagem do risco sério que se corre). O que alguns comentários já referiram relativamente a jovens de outros países é sintomático do que esta visão do ensino nos traz. O desejo de medir o que os alunos aprendem (usando uma régua bastante má) tem o efeito perverso de condicionar o ensino, empobrecendo-o.
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De Quando me encontrares a 19.05.2014 às 16:42

Estou em absoluto acordo com a sua "filosofia da autonomia e da responsabilidade"! :)
Espero conseguir-me manter-me fiel à mesma daqui a 2 anos. Para a semana, o meu filho vai ter provas intermédias (2º ano) e estou muito feliz por a sua professora não estar a transmitir-lhe qualquer stress adicional. As provas estão a ser encaradas como uma etapa normal. Como estas ainda acontecerão na sua sala, e com a sua professora, nem sequer há o factor do ambiente diferente, que assustou a Carolina. De qualquer forma, não temos falado especialmente no assunto em casa. Será mais uma avaliação, para ser levada a sério como todas as outras.
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De Conceição M. a 19.05.2014 às 17:11

A "filosofia da autonomia e da responsabilidade" é muito fácil de seguir no 1º ciclo - tenho cá para mim (se calhar é uma mera perceção sem qualquer fundamento cientifico...) que uma criança sem problemas de maior, com um ambiente familiar regular, em que a criança tenha noção de que a escola e a aprendizagem são algo importante... essas crianças, dizia, em regra têm boas notas no 1º ciclo - basta que estejam com alguma atenção nas aulas, cumpram as tarefas que os professores determinam, que haja atenção dos pais às orientações dos professores... Até porque para a avaliação conta o comportamento na sala de aula e, muitas vezes, este acaba por "ditar" a nota, mais do que propriamente a pura aquisição de conhecimentos ou o mérito cientifico do aluno...
A nossa crença nessa "filosofia" começa a ser posta à prova é nos anos subsequentes - com disciplinas mais especificas, com mais matéria, com mais professores, que têm uma postura muito diferente do professor do 1º ciclo... isso significa, mais TPC's, mais testes, mais trabalho... a idade começa a ser outra, outros interesses começam a surgir... muitas vezes a escola é diferente, há colegas diferentes e muitas coisas interessantes para descobrir - o tempo para o trabalho escolar começa a reduzir-se e, às vezes, é preciso "pormos mesmo mão na coisa", senão descamba...
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De Quando me encontrares a 21.05.2014 às 12:12

Eu tenho também outra filosofia: a de dar a autonomia e liberdade que a criança merecer. Ou seja, se uma criança disser "estou preparado para o teste e não preciso de estudar mais", acho que se deve dar o benefício da dúvida. Se o resultado depois não for o melhor, tem de haver consequências, ou seja, a redução da autonomia. :) É um equilíbrio difícil, mas que acredito ser possível. E que, obviamente, varia de criança para criança.
Mas não concordo com essa grande distinção do 1º ciclo. Não acho nada que seja o comportamento a ditar a nota! Comportamento e aproveitamento são coisas muito distintas. Além disso, acho que o volume de trabalho vai aumentando gradualmente. Vejo frequentemente pais a falarem do 2º ciclo como se fosse o 12º ano e acho um enorme disparate...
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De Rita a 19.05.2014 às 15:58

Por curiosidade, aqui fica uma breve descricao do sistema de ensino finlandes, onde nao ha exames formais ate aos 16 anos. Admito que nao seja facil adequar um sistema como este (que pressupoe um acompanhamento muito individualizado dos alunos) `a realidade portuguesa, e e' claro que o sucesso e' o resultado de um conjunto imenso de factores, mas de qualquer forma aqui fica:

http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/finland/10489070/OECD-education-report-Finlands-no-inspections-no-league-tables-and-few-exams-approach.html

A ideia de responsabilizar os alunos desde cedo pelo seu proprio estudo parece-me, de facto, bem mais interessante do que treina-los compulsivamente para um qualquer exame. Trata-se de incentivar a aprendizagem pela aprendizagem e nao pelo gosto de se ter uma nota excelente (ou a melhor da turma, ou qualquer outro objectivo do genero). E isto nao significa que nao ha momentos de avaliacao, mas que esta e' feita de forma mais continua.

Da minha experiencia a ensinar na Holanda (em aulas praticas, na Universidade), vi uma diferenca clarissima entre os alunos holandeses e os portugueses erasmus que de vez em quando tinha. Enquanto que os primeiros demonstravam interesse em compreender o assunto, com menos preocupacao sobre o facto de a resposta estar eventualmente menos completa ou correcta, os portugueses queriam saber "o necessario para ter a cotacao toda na pergunta X". Em geral, claro :).

Esta diferente perpectiva da avaliacao e', parece-me, estimulada logo desde a escola basica - em Portugal "treina-se" os alunos para os exames, nos paises nordicos poe-se os miudos a questionar coisas e estimula-se o gosto pela aprendizagem.

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De Bruxa Mimi a 19.05.2014 às 22:43

Gostei do seu comentário. Disse o que eu queria dizer, mas de uma forma mais clara. Obrigada.
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De Joana Mendonca a 25.05.2014 às 11:44

Concordo em absoluto. Não percebo esta furia dos exames, e a verdade é que se nota essa diferença nos alunos portugueses na faculdade, embora os alunos portugueses sejam muito bons e muito competentes a executar, tudo o que é fora desse formato eles não respondem.
E também acho que os meninos devem estudar por si. Só acompanhei a minha filha agora que ela tem uma dificuldade que precisa de ultrapassar. De resto, ela estuda sozinha e pede ajuda quando precisa. Até agora tem tido bons resultados. Para o ano terá as provas.

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