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Dia de exame #3

por João Miguel Tavares, em 21.05.14

A Ana Sousa deixou uma pergunta interessante nos comentários a este post:

 

Qual seria a sua reacção se a Carolina reprovasse? 

A pergunta é uma boa pergunta. Eu diria que depende muito. Se há regra fixa que eu aprendi ao fim de quatro filhos é esta: não há regras fixas. Depende do filho. E depende do contexto.

 

No caso da Carolina, se ela reprovasse provavelmente levaria um castigo dos grandes, na medida em que falhara o compromisso que assumira comigo e com a sua mãe. Dissera-nos que sabia a matéria toda e, afinal, era mentira. Sendo estudar o seu trabalho, ela havia sido incompetente, e teria de sofrer as consequências disso.

 

Mas devo dizer que, recentemente, a Carolina fez uma prova de piano que lhe correu mal. Mais exactamente, correu-lhe mal quando comparado com aquilo que se tinha esforçado, que naquele caso, e para ela, fora bastante. Trabalhou muito para aquela prova, mas quando lá chegou enervou-se um bocadinho, tinha muita gente a olhar para ela, e tocou mal.

 

Aí não fiz mais nada além de confortá-la, até porque já lhe tinha dito o mais importante antes da prova: "Não te preocupes, porque o papá viu que te esforçaste. Se correr bem, excelente. Se correr mal, paciência, tu fizeste o teu melhor."

 

Suponho que o segredo esteja exactamente neste "fazer o seu melhor". Quem dá o que tem a mais não é obrigado. Há miúdos com capacidades muito diferentes. Não tenho dúvidas acerca das capacidades escolares da Carolina e do Tomás, portanto eles não têm desculpas para terem notas fracas. Tenho algumas dúvidas em relação às capacidades escolares do Gui - ele preocupa-me bastante mais, porque os seus circuitos cerebrais são de um outro tipo, funcionam a outra voltagem.

 

Tudo isto tem de ser gerido com pinças. Citando o barbudo Marx, que é coisa que fica sempre bem, a filosofia é esta: "De cada qual, segundo a sua capacidade; a cada qual, segundo as suas necessidades." Como forma de governo de um país não é, como já se viu, grande coisa. Mas como forma de governo de uma casa, na gestão da vida familiar, parece-me um óptimo conselho.

 

Eu recuso-me a ser mole com eles, mas também não quero ser injusto. Claro que nunca é um equilíbrio fácil, essa dosagem entre exigência e complacência. Mas é o que torna isto de educar filhos realmente giro e desafiante.

 

publicado às 09:55


8 comentários

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De aboutmeandsometimestherestoftheworld a 22.05.2014 às 09:34

Achei que o João (se calhar até já conhece) ia gostar de ler. Eu achei muito interessante e um bom espelho daquilo que muitos pais fazem hoje em dia. Tornar os filhos competitivos e esquecer que são apenas crianças.

http://uptolisbonkids.com/2014/05/10/o-que-deve-saber-uma-crianca-de-4-anos/
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De carla patau a 21.05.2014 às 21:56

Como professora e mãe de filhos em idade escolar, o que acho importante é eles ganharem hábitos de trabalho, pois quando o grau de exigência for maior poderão não ter estaleca para aguentar. Desculpem o exemplo, ressalvando que não percebo nada de futebol, mas eu costumo perguntar aos meus alunos se eles acham que o Cristiano Ronaldo acordou um dia e decidiu ser brilhante? Se eles têm noção da quantidade de horas que ele treina? E estudar é um bocadinho isso, aprender desde cedo a organizar-se, não se limitar a fazer os tpcs, conseguir ter a matéria em dia, etc. Há Estudos que provam que os alunos, mesmo sendo bons, que começam desde cedo a estudar e a organizarem-se quando as coisas apertam eles destacam-se dos outros. Claro que o equilíbrio é dificil de encontrar. Também acho que não lhes podemos fazer a papinha toda, mas eles precisam de alguma orientação. E sem dúvida que não há receita que resulte com todos...
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De Mj a 21.05.2014 às 17:37

Concordo com tudo o que disse. Mas, relativamente a uma temática que nao abordou, acho que também é muito importante o tipo de castigo que se dá. Tenho amigos que quando os filhos têm notas baixas os castigam retirando-lhes o telemóvel, por exemplo. Outros que os impedem de ir ás festinhas dos amigos. Há ainda aqueles que acham que duas palmadas no rabo no momento é o que eles merecem. Ou aqueles que proibem de ver televisao, ou sair do quarto, ou brincar no jardim. Sinceramente, acho que é isso que muitas vezes falha. Com a minha filha acho que nenhum destes castigos resultaria de forma a que houvesse uma melhoria na nota. O que eu faria seria obrigá-la a estudar um x número de horas por dia durante as férias, resolver x fichas por dia, verificar várias vezes os erros que cometeu. Não sei se tenho razão ou não porque realmente cada caso é um caso. Mas é a minha opinião.

Já agora, muitas felicidades pelo blog.
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De Anita a 21.05.2014 às 15:45

Olá

Não posso deixar de concordar. Não se podem criar e exigir dos filhos o mesmo. São pessoas diferentes com capacidades diferentes. Isto sim, saber e conhecer as diferenças, penso que é o que fará de nós pais e uma luta diária na tarefa educacional dos nossos filhos.

Partilho, portanto da mesma opinião.

Bem haja

Anita
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De Simplesmente Ana a 21.05.2014 às 14:18

Há bastante tempo vi uma entrevista a um pai e filha conhecidos da praça. A filha, boa aluna, disse o seu pai lhe ofereceu um ramo de flores quando teve uma nota baixa, o que a entristeceu imenso. Fiquei sempre com isto na ideia: é mais importante valorizar o esforço do que os resultados.
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De Mar a 21.05.2014 às 12:37

Claro que a pergunta só é boa retoricamente. Por um lado, era preciso dar uma coisinha muito má à Carolina para, numa prova semelhante às que está habituada a fazer, reprovar. (Nem há isso, pois esta prova corresponde a 30% da avaliação final...). Por outro, deu oportunidade ao JMT de fazer este belo post sobre a forma como lidamos com os filhos e suas diversidades. Assunto que tem que ser tratado com pinças, como ele próprio diz. É que muitas vezes os filhos não percebem e acham simplesmente que somos injustos, "gostamos mais de uns do que de outros".
Coragem!
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De Isa R. a 21.05.2014 às 11:31

É isso mesmo! Eles têm de fazer o seu melhor e cabe-nos a nós perceber qual é o melhor de cada um, tendo em conta o esforço que dedicaram à tarefa. Por isso é que concordo consigo: perante um resultado negativo temos de avaliar é o esforço que foi feito previamente.

E também acho que perante um resultado positivo ou muito positivo devemos avaliar também o mesmo... o esforço, a capacidade de resolução de problemas, a capacidade de iniciativa, a dedicação, o querer dar o seu melhor, etc. e não o resultado em si.

Refiro-me aqui aos casos em que, perante uma excelente nota escolar, os pais dizem: "muito bem, és tão inteligente!", ou "és o melhor/o maior" etc. em vez que enfatizarem o esforço: "muito bem! quando nos esforçamos, conseguimos!", ou "quando queres e trabalhas para isso, atinges os teus objetivos! muito bem, estou orgulhosa de ti!". Este dar destaque ao trabalho que foi feito antes vai deixar os filhos com mais vontade de trabalhar e superar-se, enquanto que o destacar os resultados, ao longo do tempo, vai fazer com que os miúdos interiorizem que são bons, mesmo bons, os melhores e não precisam de trabalhar/lutar por aquilo que querem.
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De Isabel Prata a 21.05.2014 às 10:19

por acaso eu não acho que seja uma boa pergunta. Porque não se reprova assim de repente surpreendendo os pais. Se a filha do João Miguel Tavares reprovasse era de perguntar onde andou o JMT durante estes anos para deixar chegar a filha a este estado?

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