De Mário Cordeiro a 18.09.2014 às 18:33
É um tema polémico, mas sabe bem, de vez em quando, ver temas sobre os quais não há consensos estabelecidos e o JMT é felizmente um perito em fazê-lo. Reflectindo sobre as coisas melhorar-se-á o sistema, disso estamos seguros. Pois então aqui vai, mesmo que o conteúdo possa ser considerado "violento".
Os Trabalhos Para Casa (TPC) geram uma enorme controvérsia. As queixas de pais sobre a sobrecarga de exercícios que os filhos trazem para fazer em casa não são novas, mas voltam a estar na ordem do dia. Os estudantes portugueses trabalham horas demais, e que nenhum sindicato deixaria passar tamanho atropelo aos direitos das crianças e jovens sem, pelo menos, um caderno reivindicativo e uma greve geral - "com as aulas, as actividades complementares e os trabalhos de casa, chegam a dedicar 40 a 50 horas por semana ao estudo.
No limite, tal como são entendidos por muitos professores e pais, os TPC são uma agressão às crianças, adolescentes e aos seus direitos. Tudo o que se sabe sobre desenvolvimento infantil e sobre técnicas pedagógicas no ensino-aprendizagem mostra que esta prática não tem, em pleno século XXI, razão para existir nos moldes em que é feita.
São vários os motivos que tornam os TPC, repito, da maneira tradicional como são exigidos, quase uma aberração:
• as crianças e adolescentes trabalham muito durante o dia, seja a estudar, seja a brincar, correr, conversar e debater ideias;
• ao fim da tarde, estão carregados de endorfinas e cansados, sobretudo se tiveram outras actividades entre a escola e a casa, como desporto;
• precisam de tempo para gozar o seu espaço regressivo caseiro;
• o que aprenderam no próprio dia ou até nos dias anteriores só será metabolizado nessa noite, pelo que tudo o que seja exigir trabalho sobre assuntos ainda não burilados pelo cérebro é quase sádico - por isso é que usamos a frase "há que dormir sobre o assunto";
• o tempo para estar em família diminui;
• a tolerância dos pais é pouca, ao fim da tarde, e o nível de irritabilidade doméstica sobe, quando deveria descer;
• são os pais que acabam por terminar os TPC, gritando com o filho e achincalhando-o;
• os professores não lêem os TPC, todos os dias;
• não há tempo para ler, reflectir, "não fazer nada", brincar;
• a imagem dos professores fica, muitas vezes, associada a uma imagem de quase sadismo, de desrespeito e de não desejarem o melhor para os alunos.
Assim, e tendo promovido há dez anos, com a Isabel Stilwell e o Eduardo Sá, um dia de greve aos TPC, para comemorar o aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança, acho que os TPC diários são uma aberração, mas que trabalhos de pesquisa ao fim-de-semana, para serem feitos com os pais, ou gastar 15 a 20 minutos a ler (ler apenas, e não estudar) as páginas das matérias do dia, para as repescar para o cérebro as trabalhar durante a noite, isso sim.
Portanto, de uma forma panfletária: "Abaixo os TPC e quem os apoiar!"
De Susana V. a 19.09.2014 às 09:58
Assino por baixo.
Aliás, acrescento que no período de início das aulas nos sentimos sempre violentados enquanto família (depois lá nos habituamos). Porque temos interesses que não podem ser estimulados com a carga absurda de TPC que os miúdos trazem para fazer à noite.
Como preparar uma visita a um museu. Ou ver em conjunto um documentário ou desenhos animados educativos (e.g., os fantásticos Era uma vez)...
E porque pensamos que as crianças simplesmente precisam de brincar e descontrair.
Mas por outro lado, não convém nada desautorizar os professores.