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Dia 6/3/14; 21:55m
- Está? João? Desculpa. Há pouco estava com um doente, não podia atender. Era para os miúdos se despedirem?
- (A murmurar) Schuu! A Carolina queria falar contigo.
- Está tudo bem? Os miúdos adormeceram bem?
- Sim, está aqui a Carolina...
- Olá, mamã!
- Olá, princesa. Então como foi o teu dia?
- Tudo bem. Queria contar-te uma coisa.
- Então diz lá. A mamã está a trabalhar e não pode demorar.
- Sabes aquele banquinho para onde a Ritinha gosta muito de subir para ver os popós?
- No quarto de brincar, princesa?
- Não, na biblioteca.
- Sim, diz lá.
- Esta tarde ela subiu para lá e caiu para a frente e rebentou a boca.
- (Voz ao fundo) Não rebentou nada a boca!
- O quê, Carolina? Não se brinca com coisas sérias. O papá não me disse nada.
- E rasgou o lábio...
- (Voz ao fundo) Que exagero!
- Hã????
- E deitou muito sangue do nariz e da boca...
- Carolina, mas tu estás a brincar comigo? Isto não tem graça nenhuma. Achas que estás a filmar os apanhados? Passa-me lá o papá.
- Adeus, mamã.
- João? Mas afinal o que é que se passa?
- Nada. Ela caiu mas já está bem.
- Mas quando é que isso foi?
- Às três ou quatro da tarde.
- E porque é que não me telefonaste?
- Não te queria preocupar.
- Mas onde é que tu estavas quando isso aconteceu?
- Estava no computador.
- Mas ela não pode ficar em cima do banco sozinha. É muito alto.
- Pensei que não ia cair. E logo por azar tinha tirado os sacos dos livros que estavam por baixo e podiam amparar-lhe a queda.
- Que irresponsabilidade! E tu? Puseste-lhe logo gelo?
- Não.
- Não? Mas porquê?
- Porque ela estava a chorar muito e precisava da chucha para se acalmar.
- Da chucha? Mas tu estás doido? E agora? Como é que ela está?
- Está óptima. A dormir.
- E o nariz? E a boca? Parece um monstrinho, não?
- Não. Só deitou muito sangue.
- E tem o nariz torto? Respira bem?
- Tem o lábio inchado. Faz um bocado de barulho a respirar. Mas eu pus-lhe muito soro.
- Deve estar bonita! Pelo menos lembraste-te do soro! Não voltes a esconder-me uma coisa destas, ouviste?
- Não foi nada sério.
- Pois não. Foi por isso que encomendaste o relato à Carolina?
- Ela é que me pediu muito para te contar.
Não sei se me alegre por poder confiar na filha dramática, se me aflija por o excelentíssimo esposo ter tanto medo de mim que se esconde atrás da filha mais velha para me contar o que se passou. Acho que vou descobrir quando for ele a esmurrar acidentalmente o seu próprio nariz e boca e me telefonar a perguntar o que há-de fazer.
"Mete uma chucha!", vai ser de certeza a minha resposta.