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A caixa de comentários do post sobre "As virtudes da incerteza" está cheio de textos interessantes, e é-me impossível trazê-los todos para o corpo central do blogue. Vários deles mereciam ser debatidos, mas não sendo fisicamente possível fazê-lo opto apenas por convidar os leitores a passarem por lá. Abro uma excepção para um comentário da Helena Araújo, que em boa hora volta a opinar neste espaço. Diz ela:

 

Só queria fazer um comentário sobre esse "alfa e ómega". Os filhos não são o centro da nossa vida, são o centro da vida deles, e precisam da nossa ajuda para o encontrar. A esse respeito, ler o poema de Khalil Gibran sobre os filhos - penso que todos o conhecem.

 
Não são nossos, foram-nos confiados e estão inteiramente dependentes de nós - e essa é uma enorme responsabilidade.

 
Lembro-me muitas vezes de uma pergunta numa coluna de ética de um jornal (alemão, claro...). Um pai ia buscar o filho à escola, e trazia também o filho do vizinho. Para o seu próprio filho comprou uma cadeirinha caríssima, o XXL dos cuidados de segurança, mas para o filho do vizinho comprou uma cadeirinha barata. O pai perguntava: "será que devia sentar o meu filho na cadeira barata, e o do vizinho na cadeira mais segura, já que ele está sob a minha responsabilidade?"


O filósofo que assina a coluna respondeu que pela seguranca do filho do vizinho deve responder o pai do miúdo. A ideia de dar ao próprio filho uma cadeira menos segura é absurda, porque o seu próprio filho não tem mais ninguém que zele pelos seus interesses, nomeadamente pela sua seguranca. 

"Não tem mais ninguém que cuide dele." Um bebé chora a meio da noite, sabe-se lá por que motivo - e só pode contar com o pai e com a mãe. O que é que estes fazem? Sabem merecer essa responsabilidade?

 

Acho muito curioso o exemplo que a Helena deu das cadeirinhas, e talvez, realmente, isso explique muita coisa - nomeadamente o facto de eu não ser alemão. No exemplo que dá, eu não hesitaria duas vezes: seria o filho do vizinho a ir na melhor cadeira e o meu filho a ir na pior.

 

Aliás, já aconteceu uma vez ou outra, em desenrascanços e imprevistos de última hora, ter de meter mais um par de miúdos no carro e, em distâncias muito curtas, um deles ter de ir no chão. Sendo ilegal (só este facto, aliás, seria impensável para um alemão - que provavelmente telefonaria para a Comissão de Protecção de Menores), nunca deixaria que outra criança, que não um filho meu, se colocasse nessa situação.

 

Para mim, são questões básicas de cortesia e de convivência cristã, iguais a dar o que de melhor temos em casa a uma visita. Os meus filhos são carne da minha carne, e amo-os mais do que tudo, mas racionalmente - ou filosoficamente - a vida deles não é mais preciosa do que a vida dos filhos dos outros. Se eu assumo a responsabilidade de tomar conta deles, nem que seja por apenas cinco minutos, isso significa que racionalmente - ou filosoficamente - eu assumo a disponibilidade de agir perante eles como se fossem meus filhos. E o facto de eles não serem meus filhos apenas aprofunda essa exigência.

 

Não me interessa para nada que o outro miúdo tenha um pai cuja responsabilidade é tomar conta dele. Naquele momento o pai dele não está ali, e portanto sou eu que assumo essa responsabilidade. E da mesma forma que eu estou disponível para colocar o bem-estar daquela criança à frente da minha, também tenho de estar teoricamente disponível para colocar o bem-estar daquela criança à frente da do meu filho, que é carne da minha carne e meu dependente.

 

Talvez esteja aqui a chave da diferença em relação à tolerância à palmada e a tantas questões sobre educação. A Helena vê o filho como um outro à nossa responsabilidade, eu vejo um filho como algo meu em processo de independência. Tão meu que até tem direito a ficar com a pior cadeira - a mesma que eu tomaria para mim.

 

publicado às 10:10


17 comentários

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De Helena Araujo a 24.06.2014 às 12:18

JMT, reli o seu post, e há 3 passagens na sua argumentacäo que näo consigo acompanhar:

1. "Sendo ilegal (só este facto, aliás, seria impensável para um alemão - que provavelmente telefonaria para a Comissão de Protecção de Menores), nunca deixaria que outra criança, que não um filho meu, se colocasse nessa situação."
Se é ilegal, porque é que faz? As leis näo tem razäo de ser, só existem para chatear os contribuintes, é? Porque é que goza o "alemäo" que quer fazer cumprir uma lei que existe para proteger os interesses dos menores?

2. "E o facto de eles não serem meus filhos apenas aprofunda essa exigência. Não me interessa para nada que o outro miúdo tenha um pai cuja responsabilidade é tomar conta dele. Naquele momento o pai dele não está ali, e portanto sou eu que assumo essa responsabilidade. E da mesma forma que eu estou disponível para colocar o bem-estar daquela criança à frente da minha, também tenho de estar teoricamente disponível para colocar o bem-estar daquela criança à frente da do meu filho, que é carne da minha carne e meu dependente."
Ui, isto tem muito pano para mangas. Na ausencia do pai do outro miúdo, escolhe assumir a responsabilidade perante o outro em prejuízo da responsabilidade que lhe é exigida em relacäo ao seu próprio filho. Vou exagerar: o pai do outro está ausente, mas o seu filho é que é tratado como se fosse um orfäo desvalido...
Outra questäo: porque é que se pöe a si em situacäo de igualdade com o seu filho? Mesmo que esteja disposto a viajar sem seguranca, correndo o risco de ir parar ao hospital todo partido, o que lhe dá o direito de abusar do seu poder de pai para obrigar o seu filho a correr esse risco?
Já agora: o que é que lhe dá o direito de decidir que o seu filho pode viajar com menos seguranca que o filho do outro? Independentemente de quem é o pai, todas as criancas tem o direito a viajar com o máximo de seguranca. Ninguém pode dizer a um menor "em caso de azar, decidi que quem se vai lixar és tu". Se é o pai a fazer isso, o caso é ainda mais grave, porque é ele o adulto responsável directo pela seguranca da crianca.

3. "A Helena vê o filho como um outro à nossa responsabilidade, eu vejo um filho como algo meu em processo de independência. Tão meu que até tem direito a ficar com a pior cadeira - a mesma que eu tomaria para mim."
O que significa "täo meu"? Somos proprietários dos filhos? Täo nosso que temos o direito de decidir sobre a vida e a saúde deles? Temos o direito de os fazer correr riscos que podem ter consequencias graves para a sua saúde?

Filosofias à parte: o que é que nós podemos fazer, no caso concreto? Se houver outro adulto, além do condutor, sentar as criancas com seguranca e ver se o adulto se voluntariza para fazer a viagem sem condicöes de seguranca, ou ir a pé. Chamar um táxi. Dizer "infelizmente näo temos espaco para todos". Säo solucöes que ocorrem quando damos por adquirido que todas as criancas tem direito às mesmas condicöes de seguranca.

Bem sei que normalmente näo acontece nada, e parece que estou a complicar o que pode ser simples. Mas basta pensar "e se nos acontecer um azar?" para ajudar a por tudo isto na perspectiva certa. Se houver um terrível azar, ao menos näo vai carregar para sempre a culpa de ter acontecido uma tragédia a um filho seu devido à sua escolha de desrespeitar a lei e ignorar deliberadamente regras essenciais de seguranca.

(Se bem o conheco, agora vai-me arranjar artigos que provam que criancas sentadas no chäo do carro viajam com mais seguranca que as sentadas nas cadeirinhas. Ou que as cadeirinhas é que säo causa de problemas graves, em caso de acidente. Venham eles, para serem reenviados a quem faz estas leis. :) )
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De Maria a 24.06.2014 às 12:23

Resumindo, este post não lhe chega aos calcanhares...
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De Maria a 24.06.2014 às 10:05

Eu realmente tenho de deixar de vir espreitar este blog....
Mas há algo que me atrai, género curiosidade idiota pelo acidente do outro lado da segunda circular...

O João reitera novamente a "tolerância a palmada", mas passe a expressão, isso é uma forma um tanto ou quanto "pussy" de defender a coisa! Depois deixa a cargo dos seus comentadores mais dados à violência a verdadeira tarefa argumentativa.

Se está tão seguro da sua convicção porque não faz um post inteiramente dedicado ao assunto?
Sugestão de titulo: As virtudes da violência infantil. Soa-lhe bem?

P.S. Até aposto que se o seu filho não quiser calçar os sapatos para sair de casa não lho permite, fazendo uso se necessário da dita ferramenta de educação imprescindível, não vá ele cortar-se num vidro, ou simplesmente porque parece mal.
Mas pô-lo no chão do carro ignorando as mais importantes regras de segurança já não merece tanta atenção e podemos ser portugueses cool do desenrasca!
Faz todo o sentido.
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De Sofia a 23.06.2014 às 14:56

Caros papás, mamãs e outros tais, cada um tem direito à sua opinião, esta é a minha.

Sou responsável pelos meus filhos, pelo seu bem-estar. Cabe-me a mim (e ao pai) amá-los, educá-los, vesti-los, alimentá-los, protegê-los...

Proteger é proporcionar segurança, nomeadamente rodoviária, desta forma é meu dever não apenas ensiná-los a andar pelo passeio, a atravessar a estrada nas passadeiras, como também, transportá-los adequadamente nas viagens diárias em que assumo o papel de mãe-motorista.

Tenho 3 filhos (ainda não cheguei ao quarto...), o D. com 4 anos, a M. com 2 anos e a bebé M. de 9 meses. Entram e saem os 3 pelo lado do passeio (Sim, não é tão prático, mas é mais seguro e isso basta-me.) Viajam os 3 em cadeirinhas adequadas ao seu peso e idade, presos em arnês de 5 pontos, sendo que as cadeiras são constantemente verificadas (Sim, dá trabalho, mas pode fazer toda a diferença em caso de acidente.). Nem quero pensar quando o D. deixar de ter peso para viajar seguro com arnês, ele que prefere, de longe, viajar em Rear Facing!

Crianças no chão da carrinha, nem meu filho, nem de outros. Crianças na carrinha, para além dos meus filhos, sim, desde que lhes possa assegurar o transporte com o sistema de retenção seguro ou os pais o disponibilizem (Não aceito bancos elevatórios, não são seguros!). Pessoas a mais?! Jamais!!! Se a lotação é de 7 lugares, esse é o número máximo de viajantes, excepto se lá for uma grávida e contarmos com o/os que vai/vão na barriga. ;) Temos de ser conscientes e responsáveis!!!

Viagens escolares... Que filme (de terror)!!! A legislação não é cumprida e as crianças são transportadas em perigo continuo. Mesmo no caso em que são enviados autocarros com cintos e/ou cintos e bancos elevatórios, se os papás e mamãs vissem o que eu vi e vejo... acabavam-se as visitas de estudo/passeios, etc... É dito às crianças que coloquem os cintos e pouca vigilância é feita para conferir se efetivamente o fizeram e se está ajustado e a passar onde deve... No dia que acontecer uma desgraça acordarão para a realidade.

Prporcionar às crianças que ficam à minha responsabilidade o mesmo que dou aos meus filhos, sim, mas sem retirar aos meus! Se não me for possível proporcionar o mesmo, não assumo a responsabilidade e explico isso mesmo aos papás e mamãs da(s) criança(s) em questão, pois só assim estarei a zelar pela segurança de todos os envolvidos.
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De Bruxa Mimi a 23.06.2014 às 22:41

"Viagens escolares... Que filme (de terror)!!! A legislação não é cumprida e as crianças são transportadas em perigo continuo. Mesmo no caso em que são enviados autocarros com cintos e/ou cintos e bancos elevatórios, se os papás e mamãs vissem o que eu vi e vejo... acabavam-se as visitas de estudo/passeios, etc... É dito às crianças que coloquem os cintos e pouca vigilância é feita para conferir se efetivamente o fizeram e se está ajustado e a passar onde deve... No dia que acontecer uma desgraça acordarão para a realidade."

Não posso falar por todas as empresas de autocarros, por todas as escolas, por todos os motoristas de autocarro, por todos os professores, por todos os envolvidos nestas situações, mas sei que quando há visitas de estudo/passeios na minha escola, as crianças viajam em segurança. Se o autocarro não vier em condições para transportar crianças, a empresa é contactada e tem de enviar outro (e envia mesmo, apesar dos inconvenientes doa atraso). Uma vez dentro do autocarro, tanto o motorista como os professores e os outros adultos acompanhantes verificam a forma como cada criança vai presa (quer dizer, não verificamos todos cada uma, mas cada uma é verificada - e, no caso dos meus alunos, todos são verificados por mim).

De resto, concordo com o que escreveu.
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De Maria a 26.06.2014 às 00:30

Bruxa, só por curiosidade, em que local deve passar o cinto de segurança? E como fazem com as cadeirinhas/bancos elevatórios na sua escola? Obrigada.
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De Sn a 23.06.2014 às 13:48

Crianças no chão do carro? OMG.
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De Maria a 23.06.2014 às 13:35

Eu sou um bocado picuinhas com a história das cadeiras. Se não tenho cadeiras que assegurem a segurança, não vão, ponto. E sem cadeirinhas, muito menos.

A história de que o azar só acontece aos outros já não me diz nada. A história da distância ser curta também não.

Fiquem aborrecidos comigo, pensem que sou egoísta e não quero dar boleia a ninguém...não quero saber. Se alguém morrer ou ficar mal ao meu cuidado, quem fica com a vida estragada não é só essa pessoa e a sua família. Eu também.

Por exemplo e levantando uma questão que é pouco divulgada: sabiam que nas visitas de estudo com crianças é RARÍSSIMO a legislação ser cumprida? Sabiam que muitas vezes usam cintos de segurança que passam na zona do fémur, o que é meio caminho andado para serem projectados em caso de acidente? Ou que não usam banco elevatório/cadeirinha correctamente?

E há crianças a serem transportadas diariamente nestas condições. E as empresas que as transportam sabem, a polícia sabe, mas ninguém faz nada. Só a APSI tem falado no assunto. Um dia que haja um acidente grave, quero ver se as seguradoras não se vão esquivar, pois, na verdade, o transporte foi incorrecto.

Conclusão: os meus não vão a visitas de estudo. Infelizmente, a polícia não fiscaliza se houver denúncias.

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De Helena Araujo a 23.06.2014 às 13:35

Também tenho esse impulso de sentar o meu filho no chäo e os filhos dos outros com seguranca. Por isso reparei tanto nesta resposta, e no argumento em que ele se baseia para responder assim: o meu filho está inteiramente à minha responsabilidade. Se eu escolho para ele uma situacäo de menos seguranca, para favorecer o filho de outra pessoa, estou à altura dessa responsabilidade?
E é muito engracadinho fazer piadas às custas dos alemäes, mas se um dia tivesse um acidente, e o seu filho que ia sentado no chäo batesse com a cabeca no banco e se ferisse gravemente, seria capaz de se perdoar? E o seu filho ia entender porque é que o pai decidiu que, em caso de um terrível azar acontecer, havia de ser justamente ele a pagar o preco?

Também pergunto à mäe que durante duas semanas teve a filha sentada numa cadeira desconfortável e menos segura, para dar a melhor a outra menina (cujos pais tinham meios para pagar uma cadeira confortável para a sua filha): porque é que fez isso? Porque é que o conforto e a seguranca da filha dos outros é mais importante para si que o conforto e a seguranca da sua própria filha? Eu poderia eventualmente reduzir o meu próprio conforto e seguranca, para fazer um jeitinho a outras pessoas. Mas näo me parece bem ser simpática para os outros à custa do bem-estar dos meus filhos. Em última análise, eles também säo "os outros". E, além de näo me pertencerem, estäo sob a minha responsabilidade e näo tem mais ninguém que os proteja.

O meu filho, de 17 anos, regressou agora de férias em Portugal com seis amigos. Tinham um carro com lugar para sete, mas durante uns dias tiveram com eles um oitavo, que foi de aviäo. O meu filho contou que uma vez foi um bocado chato fazerem cada percurso Viana do Castelo - Guimaräes duas vezes, porque näo cabiam os oito no carro. Eu, portuguesa, perguntei "e näo podiam sentar-se dois numa cadeira só?". Respondeu que näo, porque o carro só tem seguro para sete pessoas. É muito alemäo? Talvez. Mas pelo menos näo correm o risco de ter más surpresas.
(Para bem ser, o pai da outra crianca comprava uma cadeira boa para o seu filho. Porque é que é o pai que dá boleia que tem de fazer essa despesa?)
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De Polliejean a 23.06.2014 às 15:05

"Porque é que o conforto e a seguranca da filha dos outros é mais importante para si que o conforto e a seguranca da sua própria filha?"
Tem toda a razão. Não é. Mas lá em casa não sou só eu que decido. Há um que coloca o bem-estar dos outros à frente dos seus, há outro que não. Nesta batalha parece-me haver um vencedor óbvio.
(Segurança à parte, não estamos a falar de uma cadeirinha sem cinto ou que não encaixe bem, claro!)
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De Joana a 23.06.2014 às 21:18

Nunca compraria uma cadeirinha pior para outra criança a meu cargo (tenho muito medo da estrada e levo a segurança rodoviária muito a sério) mas, se um vizinho me pedisse para lhe trazer o filho da escola, dir-lhe-ia que precisava de uma cadeirinha extra ou não poderia transportar a criança. Ou seja, a resposta do filósofo não me espanta: sendo os pais são os responsáveis pela segurança dos seus filhos, ao chegarem a acordo com o vizinho para este lhes trazer o filho da escola seriam responsáveis por lhe comprar uma cadeirinha de transporte para o carro do vizinho.
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De Maria a 24.06.2014 às 12:20

Na minha opinião a Helena escreveu no post anterior os cometários mais bem argumentados, inteligentes e interessantes...Este post não faz justiça às questões pertinentes que levantou.
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De Anónimo a 23.06.2014 às 11:43

Há questões que, de tão básicas, nem pensamos nelas como "questões".
E nem nos ocorre que alguém possa fazer de maneira diferente da nossa.
Para uns é óbvio que é assim, para outros é igualmente óbvio que é assado!...

P.S.: Estou com o JMT!
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De Polliejean a 23.06.2014 às 10:33

Interessante esse exemplo. Fugindo um pouco da realidade dos filhos, durante os 4 anos que vivi no meio deles, percebi, por exemplo, que os alemães não fazem fretes, nem sacrificam o seu tempo ou a sua vida pessoal em prol do bem-estar de outros. Nós, pelo contrário, preferimos abdicar de certas coisas (como no caso da cadeirinha melhor) para que os outros possam estar bem, porque assim ditam as regras da cortesia, da boa-educação, do civismo, sejamos cristãos ou não. Voltando aos filhos, foram já várias as vezes em que emprestámos a cadeirinha boa da minha filha a amigos (curiosamente alemães) que vieram cá de férias e que até podiam alugar um carro com cadeirinha, mas ficar-lhes-ia mais caro e nós insistimos (e a minha filha andou 2 semanas numa cadeirinha menos segura e muito desconfortável...).
Nesse caso em concreto, não sei se poria a minha filha na cadeirinha pior. Vamos a ver, o outro miúdo está sob a minha responsabilidade naquele momento, mas a vida dos meus filhos ainda me é mais valiosa do que qualquer outra. Pode ser o resultado de 4 anos a viver na Alemanha, mas na melhor das hipóteses, talvez considerasse trocar a cadeirinha pior por uma equivalente à outra para não ter peso na consciência. Agora, se me caberia a mim gastar dinheiro na cadeira para o outro miúdo? Não. Mas muito dificilmente iria pedir ao pai do outro miúdo que o fizesse ele...
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De Sofia Lopes a 23.06.2014 às 11:07

Curiosa, essa forma de olhar para os filhos. Para mim, o meu filho está e estará sempre acima dos filhos de qualquer outra pessoa! Nesse exemplo em concreto, se um pai me pedisse para dar boleia ao filho dele, nunca eu sentaria o meu filho numa cadeira pior em detrimento da outra criança... epá não, ainda não cheguei a esse estágio de vida, em que abdicamos de dar o melhor aos nossos para dar aos dos outros. Talvez seja egoísta, mas o meu filho primeiro! E sendo que neste caso em concreto estamos a falar da proteção da vida, não é um brinquedo xpto por oposição a um da loja do chinês.
"Olhe, ó sr pai do ZéManel, eu até levava o ZéManel, mas não tenho cadeira para o sentar! Ah não faz mal, pode ir nessa toda podre? Pronto, você é que sabe o que é melhor para o seu filho!"
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De carla a 24.06.2014 às 02:09

Completamente de acordo consigo!
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De Sofia Lopes a 23.06.2014 às 11:08

(peço desculpa, não queria comentar o seu comentário mas olhe, saiu assim e agora não há volta a dar!)

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