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O filme Lego

por João Miguel Tavares, em 25.03.14

Este fim-de-semana nós fomos ver com os miúdos dois filmes: Tia Hilda!, incluído na programação da Monstra, e Lego: O Filme. Tia Hilda! é a última obra saída do prestigiado estúdio francês Folimage e é uma simpática fábula ambientalista, com a vantagem de nos propor uma alternativa visual à cada vez mais formatada animação por computador.

 

 

E, no entanto, foi a supostamente formatada animação por computador que me encheu as medidas: Lego: O Filme é um magnífico divertimento, e já não me lembro da última vez que um desenho animado me satisfazia tanto - talvez desde o último filme da Pixar realmente bom (e para isso é preciso recuar até 2010 e a Toy Story 3).

 

 

Não quero estar aqui a aborrecer-vos com uma crítica cinematográfica, mas é impressionante como Phil Lord e Christopher Miller, que assumem simultaneamente o argumento e a realização, conseguem fazer tanto com as aparentes limitações gráficas dos bonecos da Lego, que nunca deixam de ser bonecos da Lego, e moverem-se como bonecos da Lego, durante todo o filme.

 

A única borla visual que é dada aos bonecos está na expressividade dos rostos, que ainda assim são altamente limitadas em relação ao que é habitual. Mas Lord e Miller, dois rapazes ainda na casa dos 30, que já tinham dado muito bem conta de sim no super-inventivo Chovem Almôndegas, transformam essa aparente prisão num festim de imaginação e de tributo ao universo da Lego - até porque a animação não deixa de ser extraordinária, com o digital a representar o plástico com tal perfeição que apetece agarrar nos bonecos que vemos no ecrã e levá-los para casa.

 

Mas, como quase sempre, é a qualidade do argumento que faz toda a diferença. A acumulação de camadas de sentido é de tal forma sofisticada que do puto de quatro anos ao cinéfilo de quarenta (tipo... eu) não há quem não encontre ali infindáveis motivos de divertimento - então para quem gosta tanto do primeiro Matrix como eu, as piscadelas de olho não acabam.

 

E, no final, acabamos por perceber que Lego: O Filme é, sobretudo, um comovente tributo ao poder de imaginação, e àqueles que conseguem fugir ao livro de instruções para criar o seu próprio universo (isto apesar de abundar o merchandise que ensina a fazer com livros de instruções os carros e os aviões que supostamente fogem aos livros de instruções - mas essa é a maravilhosa plasticidade do capitalismo).

 

A prova de que o filme estava certo, e que a sua mensagem foi muito bem apreendida, é que o Tomás - um Mr. Livro de Instruções por exclência -, mal chegou a casa pôs-se a construir os seus próprios Legos, saídos da sua imaginação. Ao fim do dia, veio orgulhosamente mostrar-me a sua construção. E eu fiquei tão contente com aquilo, que estava capaz de dar um beijinho nas bochechas de Chris Miller e Phil Lord, se os apanhasse a jeito.

 

Cá está a nave espacial feita pelo Tomás, cujo caos criativo, por ser nele tão raro (ao contrário do Gui), me encheu de satisfação.

 

 

 

publicado às 10:47


3 comentários

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De Pedro Nogueira a 26.03.2014 às 15:03

Ainda não conheci ninguém que dissesse menos bem do LEGO® Movie. Agora imaginem a minha frustração, eu que apesar de quarentão, respiro LEGO®, construo LEGO®, fotografo LEGO®, tenho um blog exclusivamente dedicado ao LEGO® e compro LEGO®, porventura mais do que aquilo que seria recomendável para a carteira e ainda não vi o filme porque me recuso determinantemente a assistir a uma versão dobrada - compreensível para os mais pequenos – mas pouco desejável para a maioria do AFOLs (Adult Fan of LEGO®) que não são assim tão poucos como isso.
Cá vou indo, desesperadamente à espera da edição em Blu-Ray e inconformado por não ver um filme onde deve ser visto. Numa sala de cinema.
http://mylegocollection.blogs.sapo.pt/
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De Luisa Santos a 25.03.2014 às 14:51

Não vi o filme mas deixo a sugestão para a TV Morrinho, do Projecto Morrinho, feito por adolescentes na favela do Pereirão no Rio de Janeiro. Fazem imensos filmes com Lego para marcas mas também sem intuitos ditos comerciais: https://www.youtube.com/watch?v=cKnFcNzWf1Y
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De Catarina a 25.03.2014 às 13:28

Olá JMT,
Os nossos 2 filhos mais velhos foram ver o filme com o pai e os três adoraram, tendo o pai uma opinião semelhante à sua. Bem a propósito, no dia seguinte a terem visto o filme, o meu marido mandou-me este link da Economist, que vai de encontro ao tal "acumular de camadas" que o JMT fala: http://www.economist.com/news/united-states/21596982-you-can-make-what-you-it-politics-little-bricks?frsc=dg%7Cd
Ainda bem que quem decidiu fazer um filme com Lego, o fez à altura deste maravilhoso e intemporal pedaço de plástico!!!


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