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Aviso por antecipação: este é um post sobre a guerra dos sexos, por isso, minhas senhoras e meus senhores, ponham o capacete.
Devido às minhas andanças de promoção do Manual de Sobrevivência para Pais e Maridos, tenho sido frequentemente confrontado, por quem me entrevista, com a questão (velha como o mundo) do desequilíbrio do papel do pai e da mãe dentro do ecossistema doméstico.
Ou seja, sim, toda a gente sabe que o pai está mais presente em casa do que antigamente e assume funções impensáveis há 30 ou 40 anos, mas não, os papéis não estão equilibrados, e a mãe continua a trabalhar muito mais dentro de portas, continuando a ser a grande "sacrificada" (um dos adjectivos favoritos das mães de família).
Ainda que eu não negue a existência desse desequilíbrio, faço questão de chamar a atenção para um aspecto do problema que tende demasiadas vezes a ser esquecido na discussão: o poder. O poder das mulheres dentro de casa. O poder que elas detêm sobre todos os aspectos da vida doméstica: sobre onde vamos quando saímos, sobre o que os miúdos vestem, sobre o que fazemos no fim-de-semana, sobre que empregada devemos contratar, sobre que móveis devemos comprar, sobre onde vamos passar as férias, sobre tudo e um par de botas.
Claro que as famílias têm todas uma identidade própria, e há sempre muitas diferenças e algumas excepções. Por exemplo, cá em casa representamos os papéis tradicionais na relação com os filhos, no sentido em que a mamã é a mais carinhosa e o papá o mais autoritário. Mas eu conheço famílias em que esses papéis estão invertidos: o pai é mais "mãe" e a mãe mais "pai". Aquilo que eu nunca encontrei, contudo, dentro do meu círculo de amigos, mesmo no mais alargado, é um família onde eu pudesse dizer: "é o homem quem manda lá em casa".
Mesmo em famílias onde o pai está mais presente e cuida mais dos filhos do que a própria mãe, é a mãe quem manda. Claro que há-de haver casos - há sempre casos para tudo - em que é o homem que usa as calças. Simplesmente, eu não conheço nenhum.
Isto não tem nada a ver, como é óbvio, com força bruta ou poder absoluto - não estou a dizer que a mulher consiga pôr o homem a rebolar e a dar a patinha. Estou apenas a dizer que a liderança doméstica da mulher é algo socialmente muito entranhado, e eu raramente vejo nelas disposição para se aliviarem desse fardo.
Ou seja, as mulheres querem que o seu trabalho seja mais dividido, mas não querem que as coisas passem a ser feitas de outra maneira.
Por exemplo, uma das expressões que mais as irrita é um homem dizer "eu ajudo muito lá em casa". Isto porque - e com razão - a expressão "ajudar" já significa uma acção subalterna, no sentido "eu faço e tu ajudas". Mas, na verdade, é mesmo de ajudar que se trata, já que quando fazemos alguma coisa raramente fazemos mais do que obedecer a ordens.
Daí a dificuldade em que o equilíbrio nas tarefas domésticas alguma vez seja atingido - isso implicaria, em última análise, que as mulheres cedessem no seu poder de mandar em casa. E poder é poder - dá gosto tê-lo e nunca é fácil cedê-lo. Eis o que muitas vezes é esquecido no balanço feminino da vida doméstica no século XXI.
E pronto, senhoras. Era isto. Podem começar a dizer mal de mim.