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Eu sou daqueles que se assanha um bocadinho com o uso demasiado entusiasmado da palavra "igualdade" sempre que se trata de definir as relações entre homens e mulheres. Não porque ache que homens e mulheres devam ter direitos distintos, mas porque a igualdade é, demasiadas vezes, um rolo compressor que tende a esbater todas as diferenças, a esquecer as especificidades genéticas dos sexos masculino e feminino e, em última análise, a diminuir a diversidade do mundo.
Nesse sentido, a febre igualitária pode, a meu ver, ser empobrecedora - e por isso sou sensível às questões biológicas e respeitador de certas predisposições genéticas. Não sou daqueles que acha que os meninos gostam mais de soldados e as meninas mais de bonecas simplesmente porque há uma sociedade opressora que define os papéis sociais de cada um.
Dito isto, as abordagens biológicas encerram os seus perigos - nomeadamente, os de legitimação de certos preconceitos que me parecem algo desfasados do tempo. Peguemos, por exemplo, em dois comentários do José Moreira. Um deles cita o livro O Mito da Monogamia:
"Os espermatozóides são baratos e facilmente repostos; os ovos são caros e difíceis de obter. Não é com surpresa, por isso, que descobrimos que os machos são geralmente muito liberais com os seus espermatozóides, ao passo que as fêmeas tendem a ser cuidadosas e exigentes quanto ao modo com dispõem dos seus ovos."
Continua José Moreira:
Uma análise que se aplica aos passarinhos, mas poderá também aplicar-se, com as devidas adaptações, a humanos. (...) O amor é lindo. A biologia é que não.
Por aqui, eu tenderia a concordar com o José Moreira (e com a biologia). Mas depois ele volta ao tema num outro comentário:
Uma pequena provocação estatística: as mulheres que mais vezes recusam sexo com os maridos, têm maior probabilidade de ser traídas. O sexo no casamento não deveria ser encarado como um dever, como é óbvio. Mas também é óbvio que homens e mulheres, biologicamente, têm diferenças de apetites no que diz respeito ao truca-truca: aqueles sempre com fomeca, estas nem por isso. (...)
Como pequeno incentivo para as senhoras: pensem nisso como uma contrapartida do dever de fidelidade. Bem sei que este é recíproco, mas o esforço dos gajos para o cumprir é muito maior. Enfim, é a biologia. ;)
Eh pá, não, José, aqui é que eu acho que nós nos separamos e a biologia vai longe demais - porque o que o José está a fazer (ainda que com uma dose assumida de provocação) é encontrar uma justificação biológica para a infidelidade masculina. Tipo: por favor, tenham pena de nós, potentes gajos, que temos mais propensão para isso do que vocês, castas mulheres.
No way, José. Se calhar é falta de líbido da minha parte, mas nunca achei, em nenhuma altura da minha vida, que fosse mais difícil manter-me fiel à Teresa do que a Teresa a mim. A propensão masculina para o encornanço, aos meus olhos, é simples tanga.
Aliás, se nos mantivermos no estrito domínio da heterossexualidade, eu tenho um argumento matemático para contrapor ao argumento biológico: supondo que as traições não se fazem a sós, um homem infiel precisa de uma mulher para cometer a infidelidade.
Eu sou muito pró-biologia, mas também sou muito pró-cultura. Sou muito pró-instinto, mas também sou muito pró-cabeça. Não estamos condenados a que as partes baixas mandem nas nossas vidas.