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Queria apenas acrescentar uma nota em relação ao já vasto debate sobre a questão da amamentação (aqui e aqui), que muito me tem surpreendido. Até porque, a meu ver, faltam opiniões de homens, que se têm envergonhado de participar, talvez por acharem que isto não é com eles.
Ora, eu sou daqueles que sempre preferiu ver a excelentíssima esposa amamentar com algum recato, por manifestas dificuldades em olhar para as suas mamas - ainda que apenas por três, seis ou nove meses - exclusivamente como um apêndice alimentar ao serviço de bebé. Aliás, muitos pais têm uma relação complicada com os filhos recém-nascidos, e existe até com frequência uma espécie de ciúme manhoso, em boa parte relacionado com a diminuição drástica da atenção da mamã para com o papá.
Aconteceu comigo quando nasceu a Carolina, e embora os pais não tenham quase nunca coragem de o verbalizar, existe efectivamente aquela sensação do "e se tirasses as mãos e a boca do meu brinquedo, ó desdentado!" A amamentação é, de certa forma, a prova definitiva da total perta de exclusividade - um conceito que é obviamente importantíssimo num casal monogâmico. Não sei se os vossos maridos alguma vez vos fizeram esta conversa, ou se sou eu que sou particularmente badalhoco, mas, de facto, senti tudo isto.
Dito isto, é aqui que alguns (ou melhor: algumas) dão um salto que me parece ilegítimo: o facto de eu preferir o recato, ou de me poder sentir desconfortável se uma amiga está alegremente a amamentar ao pé de mim - porque, em última análise, sou incapaz de des-sexualizar mamas -, não significa que eu exija o recato ou que me passe pela cabeça fazer qualquer espécie de observação em relação à pessoa que amamenta ao meu lado.
A civilização é isso: sermos capaz de combater os nossos próprios preconceitos. Podemos continuar a tê-los dentro de nós, mas não vamos tentar impô-los - ou sequer justificá-los - à humanidade. Ou seja: parece-me evidente que uma mulher tem todo o direito de alimentar o seu filho onde e quando lhe apetecer. Se alguém se sentir desconfortável - como eu próprio por vezes me sinto - azarucho: que vire a cara ou feche os olhos. Porque o direito daquela mulher a responder às necessidades do seu bebé obviamente se sobrepõe ao meu desconforto.
Acho que se aceitarmos isto encontramos com mais facilidade uma plataforma de entendimento. Eu prefiro o recato. Mas não me passa pela cabeça exigi-lo a uma mãe que está a dar de comer à sua criança.