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Esta partilha da Olívia é de tal forma comovente, que ela não poderia deixar de vir para aqui:

 

Não podia deixar de comentar este texto, falando na primeira pessoa.


Conheci em tempos uma menina, muito querida e uma simpatia nos seus 11 anos de idade, à primeira vista uma menina como tantas outras, mas olhando mais perto esta menina (institucionalizada há uns meses) não sabia ler, nem sequer fazer aquelas contas "em pé" com 3+4=, era realmente uma tristeza ver que esta menina chorava só de olhar para aquilo.

 
Fiz uma experiência e comecei a perguntar-lhe pelos trabalhos e pelos recados da professora todos os fins de semana em que ela vinha a nossa casa, ajudando a conhecer o alfabeto através de imagens e tentando explicar a matemática com objectos.


Para espanto da professora esta menina começou a participar mais nas aulas, a menina que estava colocada "à parte" porque tinha o tal défice de concentração e aprendizagem começa a orgulhar-se de apresentar os seus trabalhos de casa. Estava então no 3º ano a fazer o 1º e 2º anos, e assim lá foi até ao final do ano lectivo em que atingiu os mínimos e pela primeira vez e passou de ano.


Houve então a grande mudança da vida dela e veio viver connosco nessas férias tornando-se nossa filha, e durante todos os dias das férias (menos nos dias em que estive na maternidade para ter a mana dela) ela fazia um exercício da escola, um dia matemática noutro português e por aí adiante... entrou na escola primária no tal 4º ano a fazer o 3º e foi uma surpresa para a nova professora que pensou que ia ter lá uma menina deficiente.


Com um acompanhamento diário concluiu este ano com aproveitamento e passou para o 5º, sim mesmo sem ter feito o 4º.

 
Aqui resolvi intervir nesta coisa maravilhosa que é o ensino em Portugal e pedi ao ministério a sua reprovação, que foi assinada pela professora, professores de ensino especial, psicóloga e o pedido foi aceite. Ficou então no 4º ano a fazer o 4º ano, e com muito esforço, muito trabalho diário em casa acompanhada por mim conseguiu passar para o 5º ano tendo sido aceite que tivesse adequações às suas capacidades.


Estamos agora no 8º ano e continuamos a trabalhar diariamente, arduamente e vemo-nos confrontadas com o facto de que este trabalho também não chega, precisamos de voltar a pedir à escola que olhe para ela e lhe permita fazer cada ano em dois dividindo as disciplinas, é duro e foi difícil esta opção, mas tomámo-la porque nunca desistiremos de lutar para que esta menina que todos diziam não ser capaz de aprender e que apenas precisava de nós, do nosso tempo e da nossa ajuda nos estudos possa chegar onde os outros jovens chegam!


(Sei que me alonguei, mas era só para que ficasse registado que por vezes é mesmo preciso acompanhar bem de perto o que se passa na escola.)

publicado às 14:40


18 comentários

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De Olívia a 11.02.2014 às 20:17

Acho que tem toda a razão, eu jamais corrijo os trabalhos de casa, posso dar algumas orientações, mas ela faz como sabe e caberá aos professores que corrijam e expliquem aquilo que ela não entendeu na aula. ~
Ela tem tabelas com a planificação e horários de estudo para cada disciplina, tem métodos de estudo, tem folhas de resumos (que ela já faz sozinha), imprimo centenas de fichas da Internet (abençoados professores que se dão ao trabalho de as colocar à nossa disposição), quando são trabalhos para apresentar ela faz sempre sozinha 1º e só depois é que eu tento explicar aquilo que ela não entendeu. Como tem um vocabulário ainda limitado tento explicar de forma simples o que é pedido, e ela trata de "puxar pela cabeça" e assim tentamos criar os tais hábitos independentes, devagar, muito devagar!
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De Carolina a 11.02.2014 às 20:48

Olivia, não quis de todo desvalorizar o seu esforço e a sua história. Acho que está de parabéns e merece a todo a valorização por ter conseguido que a sua menina esteja a alcançar os objectivos a que se propõe.

Fiquei ainda mais a gostar do seu testemunho agora que concordou comigo de que a autonomia e o não passarem a imagem de perfeitos para os professores é o melhor.

Parabéns pela coragem de pedir que a sua filha "chumbe" por saber que é o melhor para ela, tomara termos mais pais assim no nosso país!
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De Maria C. a 12.02.2014 às 11:06

Olá Carolina
Não sei se vai ver este meu comentário. Não sei se é professora.
Quanto ao seu comentário final, acho que a maioria dos pais não sabe que isso é possível ( e, possívelmente, não será fácil!). Eu tenho um filho com 18 anos e uma com 14 - felizmente nunca se colocou essa questão de chumbar: com mais (no caso dele) ou menos apoio da minha parte, os resultado, em ambos os casos, têm sido satisfatórios. Mas devo dizer-lhe que, até há bem pouco tempo, nunca tinha ouvido falar dessa possibilidade, de pedir que um educando chumbe - e eu sou uma EE participativa, que acompanho a vida escolar, que participo nas atividades, quando as há...
A ideia que eu tenho - posso, claro, estar errada - é que isso não interessa muito à escola e "essa modalidade" não é muito divulgada. Se o fosse, acredito que muitos pais o fizessem porque em grande parte das vezes (nas situações em que tal questão se coloca, naturalmente), os EE têm a noção que os filhos acabam por ir passando de ano, com as notas dadas só para tal efeito e que isso acaba por prejudicar os alunos, pois passam sem a consolidação de conhecimentos devida e com a agravante de, no fundo, se convencerem que afinal não precisam de se esforçar grande coisa pois acabam por passar de qualquer forma.
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De Olívia a 12.02.2014 às 12:14

Maria C. só lhe quero dizer que nem eu sabia que isto era possível, mas não vi outra forma de contornar a situação (como é que alguém poderia ir para o 5º se efectivamente não tinha feito o 4º?) e escrevi uma carta com o coração e com a razão, além de que foi muito bem fundamentada, tive o total apoio de todos os envolvidos no ano escolar, talvez por isso este pedido foi aceite, não sei, nunca recebi uma carta de resposta apenas a escola foi informada de que poderia fazer a retenção da aluna. E agradeço por isso.

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