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Primeiro comem as crianças, depois comem os pais

por João Miguel Tavares, em 21.10.14

Embora eu já tenha tido épocas com jantares agradáveis, a actual fase dos miúdos tem transformado as nossas refeições nocturnas num compêndio de resmungos, gritos e birras, que me anda a irritar sobremaneira. Não só tem sido altamente complicado conversarmos uns com os outros, como eu passo a refeição inteira a dizer "come!", "cala-te!", "fala um de cada vez!", "estás-te a sujar!", "como é possível que a colher tenha caído outra vez para o chão?!?", "sim, tens de comer as ervilhas!", "não, não podes comer gelado!", num tal frenesim de berraria que me apetece passar directamente da mesa para a cama.

 

Então, dei por mim a pensar no saudoso tempo em que os miúdos comiam primeiro e os pais jantavam depois - pensamento que desconfio ser muito politicamente incorrecto, mais típico de um tempo em que eram as criadas que alimentavam as crianças na cozinha para depois servirem os patrões na sala. Não é a esse tempo que quero voltar, obviamente, mas tenho conversado com a Teresa (sem sucesso) acerca da hipótese de durante a semana eles comerem antes de nós, para tudo ser mais rápido e para que consigamos ter ali cerca de uma hora, uma hora e meia, antes de os miúdos irem para a cama, de algum tempo de qualidade. A ideia era conseguirmos conversar sobre outra coisa que não regras para estar à mesa, ou para simplesmente vermos um filme em família.

 

Talheres misturados com a conversa não está a resultar, porque eles são muitos e estão em idades muito diferentes. O ritmo de chegar a casa, dar banho, ter um jantar aos gritos e enfiá-los na cama é um concentrado de stress que não se aconselha a ninguém. Claro que eu conheço toda a bela mitologia do jantar em família, só que as refeições na minha casa não andam nada parecidas com as dos filmes de Hollywood. Em vez de tempo de qualidade, andamos a ter tempo de irritabilidade.

 

Daí me ter lembrado de vir para aqui perguntar: há alguém por aí que jante, por opção, separado dos miúdos? E resulta? E aquelas famílias que jantam juntas durante a semana, estão na posse de algum segredo para terem uma refeição calma, sem que nunca vos apeteça enfiar um garfo na língua do puto de seis anos?

 

blog_cartoon_mom_dad_kid_dinner_table.jpg

 

publicado às 10:32


79 comentários

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De Rui Vieira a 17.11.2014 às 14:06

Sou leitor inicial, ando a reler os post antigos como se de um livro trata-se, gosto!
quanto a este tema, apeteceu-me participar, porque penso que todos sofremos do mesmo, pelo menos quem tem mais do que um filho. Tenho apenas 2 com diferença de 9 anos exatos! Yap! MAs não é só uma vez por ano...lol. Enfim, voltando aos jantares ou refeições em família, ao que poderia parecer fácil este interregno de 9 anos, não é bem assim, especialmente porque o primogénito agarradíssimissimo à mãe, tem ciúmes e portante à refeição não se cala, não tem maneiras para chamar à atenção, etc. Estratégia lida num outro blogue que leio (escandinavo, escrito em inglês e ainda bem) don't stress...let it be!
Ou seja, respirem, oiçam, não esperem deles o que ainda não lhes podem dar, porque projetam neles desde cedo o vosso stress, e portanto imaginem enquanto cozinham, como calma e tranquila será a refeição, peçam por favor em vez de ralhar, mas só uma vez! oiçam o que tem para dizer ou perguntar e a seguir peçam-lhe 3 garfadas em silêncio....ao fim de algum tempo (podem ir de dias a meses...dependendo da família e do numero de crianças e suas idades) é a calma após a tempestade. Connosco resultou, comemos juntos, na maior parte da vezes quando a mais pequena aguenta, a ouvir as noticias, e a falar sobre elas ou outros assuntos do interesse de todos!
Experimentem
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De na primeira pessoa do singular a 23.10.2014 às 05:36

Durante mais 15dias somos 4, depois seremos 5.
Todos os dias chegamos tarde, muitas vezes depois das 20h. E ainda é preciso fazer os tpcs, fazer o jantar, por a lavar, estender ou apanhar roupa, eventualmente passá-la, os banhos ( obrigatórios em dias de desporto e de mais calor) ou as lavadelas. Ainda assim, jantamos normalmente juntos, no caos, tal como fazemos ao pequeno almoço.
Ao fim de semana temos ainda os almoços e as refeições mais ou menos tranquilas em casa dos meus sogros ou as que desafiam todas as leis do ruído em casa dos meus pais, com primas juntas, irmãs/irmão e respectivos...tudo a falar alto e bom som à volta da mesa. Conto com a ajuda preciosa do marido, que arruma a cozinha. Ao fim do dia estamos todos KO. As miúdas deitam-se tarde, nos ainda mais tarde, tudo parece correr mal, mas não me parece melhor trocar as filhas pelo sossego que desejaríamos,vamos ter muito tempo para estarmos sozinhos quando elas saírem de casa!
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De Anónimo a 22.10.2014 às 21:11

Nesta casa somos 5. Os miudos comem sempre antes de nós mas com a nossa companhia. Permite-nos ser mais eficientes na conversa das ervilhas e termos os dois uma refeiçao mais fácil depois.
Funciona bem para a nossa família. Da nossa parte sentimos que somos melhores pais se estivermos menos stressados e no limite mais felizes por partilhar os dois uma refeição.
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De ana a 22.10.2014 às 14:54

Na nossa casa somos 3, sendo que a pequena Margarida tem 21 meses e sempre comemos os 3 há mesa, uns correm bem outros nem por isso, tendo em conta que a Margarida já come "sózinha" com o apoio de um dos pais....
mas é bom momento de familia e muitas vezes divertido.....
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De Zé Pinho a 22.10.2014 às 11:44

Biba
Temos 5 filhos e, embora perceba muito bem o que diz, confesso que estou numa outra fase. Quando os miúdos eram pequenos tomamos a firme resolução de não irmos jantar fora por uns (largos) tempos. Foi depois de um jantar num dos Shoppings do Porto onde, ao mesmo tempo, tivemos um filho engasgado com um pedaço de carne que ainda não tivéramos tempo para partir enquanto outro se entretinha a atirar a sua carne para quem passava no piso de baixo. Tudo devidamente acompanhado pelos gritos histéricos dos outros. Consciencializámos aí que isso dos jantares perfeitos com filhos pequenos é coisa de filme.
Mas ao longo dos anos sempre fizemos questão de estarmos todos juntos ao jantar e ao almoço de domingo. É o caos (à semana somos 8, com a minha sogra, ao domingo somos 14, com os tios velhos e surdos), mas é muito melhor que a alternativa. Ficamos todos a par do que se passa com todos, falamos de coisa nenhuma (sempre com vários a falar ao mesmo tempo), por vezes pega-se na viola e canta-se e dança-se enquanto se arruma a cozinha (isto quando a escala da cozinha funciona)...
Mas como afirmei, começamos agora a estar numa outra fase. 4 dos nossos filhos estão na faculdade, com horários um pouco mais diferentes e nem sempre fáceis de conciliar. Este é o último ano de faculdade de 2 das minhas filhas e antecipamos já a sua ausência na mesa e na casa, o que prefigura um cenário que, apesar de ter sido muitas vezes desejado, não parece agora nada agradável.
Depois de todo estes anos de caos à mesa, de confusão e cantorias - e também de muitas discussões, sempre que foram necessárias - não trocaria nenhum desse reboliço por qualquer coisa mais civilizada mas vazia de vida. Muito do que somos enquanto família foi conquistado à volta da mesa. Aliás, não foi à toa que um dos atos mais importantes de Jesus foi justamente à volta da mesa.
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De Ricardo Navalho a 22.10.2014 às 11:10

Boas.

Os jantares lá em casa têm sido parecido ao que descreve. Eu acrescentaria apenas a frase "Fala mais baixo, por favor" e "FALA MAIS BAIXO!".

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De Cininha a 24.10.2014 às 11:58

Onde é que eu já vi isso? Ah, em casa, claro...
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De Ricardo resende a 22.10.2014 às 02:01

Parece-me que temos um problema de expectativas muito altas. Queremos sossego à mesa, partilha do dia, crianças bem comportadas, comida quente. Para ontem.

Isso vai-se conseguindo, há dias melhores e piores e de vez em quando podemos facilitar.
Mas o dia nunca irá chegar se não se percorrer o caminho das pedras (o do João Sem Medo).
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De Catarina Queiroz a 21.10.2014 às 22:33

Tenho uma pequena de 3 anos e como estamos na Holanda seguimos o sistema vigente: toda a gente (salvo raras excepcoes) sai do trabalho cedo, logo o jantar e entre as 18h e as 19h. Depois as criancas vao para a cama e os pais relaxam. Geralmente conseguimos jantar todos juntos. Ha pouco tempo escrevi um artigo com dicas sobre este assunto, mas adaptado a realidade daqui, posso deixar o link so por curiosidade: http://www.amsterdam-mamas.nl/stories/parenting/toddlers/dinnertime-toddlers-witching-hour?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=dinnertime-toddlers-witching-hour
O que sentia quando trabalhava e vivia em Portugal e que chegavamos a casa tarde e ja cansados, logo a hora de jantar era bem mais dificil de gerir
(peco desculpa nao tenho acentos neste computador)
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De Patrícia a 21.10.2014 às 22:18

Nós optamos por um "misto":

Comemos todos juntos (sim, com muitos "come", "não deites a colher para o chão", etc. pelo meio), e vamos tentando conversar por princípio. A ideia é que lhes fique qualquer coisinha ;)

Mas depois a fruta ela come na sala sozinha a ver a Princesa Sofia (esse grande clássico), e nós ficamos esses abençoados 15 minutos sozinhos, a tomar café e conversar, antes de irmos para a sala ter com ela.

Não tem corrido muito mal… sendo que tem dias, como tudo!
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De Mário Cordeiro a 21.10.2014 às 17:30

Acho que depende muito da idade. E os seus são ainda pequenos (uns... outros não). Creio que é de estimular as refeições em família, a conversa sobre o dia que passou em vez do "come-não come", etc, mas é preciso, mesmo sendo mais velhos, pôr ordem na freguesia, e para isso é que os pais existem... É muito maçador (leia-se "chato") ter de estar a viver um kafarnaum no final do dia, quando apetece emigrar para uma ilha deserta. Todavia, se não os for ensinando eles não aprenderão, ou dito de outra forma, uma coisa são as "aulas teóricas", que é estar a dizer-lhes as boas maneiras, as prioridades, quem fala primeiro, etc, outra as "práticas" que é vivenciarem - pais e filhos - esses momentos.
Custa, João, mas dentro de 15 anos, entre Erasmus, estudos no estrangeiro e emigrações, terão mesmo de arranjar um cão para poder arengar com alguém à hora do jantar. Vai sentir saudades (não estou a ser cínico!). E um berro bem berrado de vez em quando, faz eco e testa a solidez do betão das paredes...
(se precisar de mais três, de 12, 11 e 11 anos, disponha, por favor...)
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De Maria Isabel Prata a 22.10.2014 às 10:13

Concordo totalmente com o Mário Cordeiro. E quem disse que era fácil?

E muito depressa chega a altura do tal cão para arengar. Encham-se de paciência e arranjem umas fugas de vez em quando para desopilar.
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De Maria Isabel Prata a 22.10.2014 às 10:17

Televisão à mesa é que nunca. Este fundamentalismo só é posto à prova com os jogos de futebol da selecção, mas mesmo nesse caso mais vale atrasar ou adiantar o jantar ou, em desespero, tentar que coincida com o intervalo.

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