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Bom, vocês não acharam que eu ia ficar completamente calado, pois não?
Só dois breves pontos:
1) Em relação à história das leituras do Buddy Longway, a Teresa não deixou um link no seu post, mas há cerca de um ano eu já falei sobre esse tema aqui. Receio bem que vá continuar a levar com ele até ao fim da vida. De cada vez que a Carolina nos desiludir, a excelentíssima esposa dir-me-á (imaginemo-nos em 2050): "Se há 36 anos tu não lhe tivesses lido o Buddy Longway, nada disto teria acontecido!"
2) Em relação à história do Tomás e do futebol, a Teresa esqueceu-se apenas de dizer que ele tinha seis anos na altura. Não 10. Mas como a excelentíssima esposa falou disso, eu recordei-me que em tempos tinha escrito sobre o assunto na página Os Homens Precisam de Mimo. Fui recuperar esse texto e, de facto, é incrível. Tão incrível que é quase romântico: a Teresa está a fazer de mim e eu de Teresa. Esse texto, intitulado "Problemas de balneário", foi publicado em Novembro de 2012, e acho que no contexto desta discussão vocês vão gostar de o ler:
A carreira futebolística do meu filho Tomás está em risco de acabar ainda antes de ter começado. Lembram-se de umas semanas atrás eu ter falado sobre o seu entusiástico ingresso nas escolas do Benfica e do convite para integrar a selecção do seu ano? Pois bem, tudo parecia estar a correr pelo melhor, eu já pensava nele como o meu Cristiano e em mim como a sua D. Dolores, a usufruir de uma vida feérica feito nababo, saltando de mansão em mansão e esgotando o dia em visitas ao cabeleireiro. Teria sido lindo, teria. Só que entretanto começaram a surgir problemas de balneário.
Não, não é figura de estilo – o meu filho Tomás tem literalmente um problema de balneário. Ele recusa-se a tomar banho em conjunto com os outros miúdos, e o treinador já lhe explicou que para fazer parte da selecção do Benfica é preciso ir ao balneário pelo menos uma vez por semana, conviver com os colegas, tomar duche no meio da maralha, e praticar as restantes actividades másculas que fazem parte do team building desportivo. O Tomás adora o futebol. Mas a paixão que tem pelos pontapés na bola é menor do que o medo que tem de ser gozado pelos outros miúdos por ser um bocado atado, atrapalhar-se no chuveiro e não saber fazer um nó decente com os atacadores.
Uma pessoa bem lhe pode explicar que o Cristiano Ronaldo não vem equipado de casa, que é no balneário que nascem e se fortalecem as equipas, que é aí que o treinador fala aos jogadores, que todos os meninos têm uma pilinha igual à sua, que ele também se despe e veste na natação sem ter problema nenhum, e patati patatá. O Tomás já tentou uma vez, por insistência da mãe, e chegou cá fora com metade da cabeça cheia de espuma, porque se esqueceu de enxaguar o cabelo. Não admira que se metam com ele.
A Teresa, preocupada, já tentou de tudo, desde conversas profundas a simulações no duche cá de casa. Mas não há forma de convencer o Tomás. E a certa altura os pais dividem-se. A Teresa acha que esta atitude dele é meio caminho andado para não conseguir ultrapassar as dificuldades da vida. Eu acho que ele só tem seis anos, é o mais desajeitado dos irmãos, e que é preciso dar-lhe tempo para crescer. Os balneários podem ser sítios muito cruéis, e infelizmente conheço demasiado bem os seus medos – eram os mesmos que eu tinha com a idade dele. E no entanto, cá estou. Vivo. E sem traumas.
O que é mais impressionante neste texto é que o Tomás, dois anos depois, já não é aquela criança, e que a Teresa decidiu fazer-se passar por mim.
Ou então é o senhor Freud quem explica tudo: cada um de nós projecta nos respectivos filhos os medos da sua infância.