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Confesso que continuo muito impressionado com a quantidade de gente que apareceu a testemunhar casos de abuso sexual na sequência destes posts. Muito impressionado, mesmo - são realmente demasiados testemunhos para encaixarem nos meus 0,01%. E é o suficiente para me obrigar a repensar as tais conversas que não estava a querer ter com os meus filhos, por as considerar desnecessárias.
Num das caixas de comentários, a Joana A afirmou o seguinte, com grande inteligência e ponderação:
Eu faço educação sexual com professores/as e recomendo que se fale de abusos, de práticas sexuais, de segredos bons e segredos maus. Um agressor ou abusador manipula muito bem as crianças para não ser descoberto e se lhes abrirmos a porta da comunicação elas podem sentir-se mais à vontade para contar a alguém que pode intervir, em vez de esconder e deixar-se levar pela manipulação. Se pensarmos em crianças com perturbações do desenvolvimento ou da aprendizagem (com dificuldades cognitivas, portanto), ainda mais vulneráveis são a ser manipuladas e ser vítimas.
Não podemos ter números e estatísticas, não saberemos se 99%, mais ou menos, crianças são ou serão expostas a abusos, mas a prevenção é abrir a comunicação, sem medo, deixar a porta aberta, como mães, pais, educadores em que acreditamos e sabemos do que eles falam. É que o abuso tem muitas formas e se as crianças não souberem o que são práticas sexuais, nem percebem o que está a acontecer. Alguns comentários mostram isso mesmo e é nestas alturas que me pergunto se não há muito mais casos do que conhecemos.
Mas fez mais: de seguida deixou um link para um texto do jornal britânico The Guardian sobre essa coisa, tão portuguesa, de obrigar as criancinhas a dar beijinhos a toda a gente. O texto intitula-se "Por que não se deve forçar uma criança a beijar os seus avós" e vale imenso a pena lê-lo. Lá está - é mais uma batatada no nariz dos meus preconceitos, porque nunca tinha visto as coisas desta forma.
Curiosamente, eu próprio, quando era pequeno, resistia imenso a cumprimentar as pessoas, embora nunca ninguém tenha abusado de mim. Deixo só uma frase do artigo para concluir este post e estimular o debate:
Children have powerful instincts, and sometimes adults override those instincts for social niceties that suit the adult, not the child.
[Tradução minha: "As crianças têm instintos poderosos, e muitas vezes os adultos atropelam esses instintos em nome de cortesias sociais que fazem sentido para o adulto, mas não para a criança."]