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Sobre a pedofilia

por João Miguel Tavares, em 24.02.14

O meu post anterior já mereceu dois comentários bastante impressionantes sobre a questão da pedofilia, que trago de seguida para aqui. Mesmo que números sobre pedofilia sejam sempre muito difíceis de averiguar, o que mais me interessa é a questão de partida: devemos mesmo conversar com uma criança sobre a possibilidade de alguém mais velho poder tocar-lhe e como deverá reagir nesse caso?

 

Por outras palavras: a pedofilia é uma questão de tal modo presente, e um perigo de tal modo real, que justifique o mesmo género de conversa que se tem, por exemplo, com uma miúda de 10 ou 11 anos sobre o período? Eu, francamente, sempre achei que não. Mas diante de testemunhos como os que se seguem, talvez esteja errado. Gostava de saber a vossa opinião.

 

Este é o primeiro comentário, de R. (versão integral aqui):

 

Bom dia, João. Acompanho com interesse o blogue há algum tempo e nunca antes comentei, mas hoje tenho de o fazer: "99,9% das crianças não serão sequer vagamente expostas à pedofilia" é uma absoluta falsidade, sendo grave e perigoso disseminar tal ideia.

Citando a Wikipédia: "In the UK, a 2010 study estimated prevalence at about 5% for boys and 18% for girls" [...] "Surveys have shown that one fifth to one third of all women reported some sort of childhood sexual experience with a male adult." (...)

Se é verdade que falar de sexualidade e pedofilia às crianças pode ser difícil e embaraçoso, os efeitos de não o fazer podem ser muito piores. Se me tivessem dado luzes sobre isso em criança, talvez eu soubesse que deveria denunciar aquelas "festinhas" do professor de matemática aos 6 anos. Mesmo que fosse através de um vídeo piroso. Em vez disso, como nunca ninguém me falou especificamente do assunto (sexualidade em geral e pedofilia em particular), presumi que esse era um assunto tabu, a nunca abordar, e só compreendi a coisa terrível que me acontecera muito mais tarde, quando estourou o caso Casa Pia. 

A meu ver, esperar que as crianças façam perguntas (quando elas nem sabem o que perguntar) é deixá-las desnecessariamente mais vulneráveis. É preferível que elas saibam o que é a sexualidade (o bom e o mau) desde logo em vez de o deduzirem/aprenderem - quase sempre equivocadamente - através de amigos, da experiência ou dos telejornais. (...) Não devemos fomentar a paranóia nem abordar o assunto à bruta/cedo demais/etc., mas there’s no such thing as TMI neste domínio. Quanto mais conhecimento, menos medo e mais liberdade. Espero tê-lo ajudado a ver as coisas de outra maneira. 

 

E este é o segundo comentário, de uma leitora anónima (versão integral aqui):

 

(...) Como o João, sou grande apologista do TMI e respondo sempre às perguntas da minha filha de 4 anos, mas não tento dar-lhe informação que ela não requer. (...) Mas o que eu queria escrever mesmo é que fui vítima de "festinhas" nos seios durante as aulas de violino no Conservatório, devia ter para aí uns 6-8 anos. E tinha horror às aulas, mas nunca contei a ninguém porque tinha vergonha. Quando veio um professor novo, foi uma felicidade!!! E também fui vítima durante muito tempo de um senhor, grande amigo dos meus avós, que também gostava de me tocar em partes do corpo quando me apanhava a jeito. E também nunca contei a ninguém, por a família dele ser tão amiga da minha... Devo dizer que só fui molestada, felizmente nunca sofri abusos sexuais. Mas chegou para me traumatizar.


Além disso, acreditem ou não, sofri uma tentativa de violação. Um tipo deu-me boleia (!!!) e eu era tão garota e tão ingénua que aceitei. (...) Fui salva por um casal que vinha na direcção contrária. Estou a contar isto para alertar para um erro colossal que os meus pais cometeram na altura: depois de irmos para a esquadra, cheguei a casa e fui para a cama. E a partir daí os meus pais NUNCA mais falaram comigo sobre o que se tinha passado. Tanto que eu durante muitos anos não tive a certeza se a coisa tinha mesmo acontecido ou se tinha ido um "sonho". Tanto que nem sei que idade tinha na altura... Só muuuuitos anos depois é que perguntei aos meus pais se aquilo tinha acontecido. Eles quase iam "morrendo" do choque! Pelo menos fiquei a saber que aconteceu, mas eles, mesmo tantos anos depois, não quiseram falar muito no asssunto. E a resposta deles à pergunta de porque é que não tinham falado comigo sobre o que se tinha passado na altura, foi que pensaram que se não dissessem nada, eu ia esquecer o que tinha acontecido. ERRADO! Tenho 43 anos e não esqueci!

 

publicado às 14:04


33 comentários

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De Sílvia a 27.02.2014 às 10:22

Olá Joana!
Poderia recomendar um livro ou filme que eu pudesse usar para abordar essa temática com os meus filhos (8 e 5 anos)? Preocupa-me especialmente o mais velho. É autista.
Obrigada!

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