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Bom, vamos cá ver se acabamos com o assunto das praxes, porque se isto continua são os leitores deste blogue que vão achar que estão a ser praxados.
Quem tem acompanhado as caixas de comentários verificará que há dois Pedros Silvas defensores das praxes. O Pedro Silva II acusa-me de parcialidade nesta matéria:
O argumento do João é redutor porque só dá voz a um dos lados da questão. O João só se interessa por casos de pessoas que sofreram na Praxe porque também é contra a Praxe. Eu tento mostrar ao João que nem tudo é assim. Daí ter dado a minha opinião sobre a coisa e ter dito que comigo correu bem.
Claro que sou parcial, caro Pedro, porque acho que a praxe é algo estruturalmente errado, e que definitivamente não se deve falar dela grafando-a em maiúsculas (a "Praxe"). Por favor, não se detenha demasiado na minha autobiografia e releia o meu primeiro texto sobre o assunto: a praxe é, no meu entender, um uso de poder ilegítimo sobre o corpo de outra pessoa.
E neste ponto permitam-me abordar uma crítica muito directa que me é feita pela Fernanda (a 05.02.2014 às 18:13), a partir do meu papel no programa Governo Sombra:
Eu costumo ver o Governo Sombra, sabe? E eu, que também tive uma educação católica e cujo princípio "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti" sempre me guiou, tenho alguma dificuldade em perceber os argumentos que usa contra a praxe, fazendo o que faz com os seus companheiros durante o programa: gozar com outros. (...)
Passo a explicar: lembra-se das cerimónias fúnebres de Mandela? Lembra-se do falso intérprete de Língua Gestual Sul Africana? Lembra-se do programa em que falaram disso? Eu lembro-me. Para além de terem achado imensa piada ao que ali se passou, esqueceram que houve milhares de pessoas surdas que não só não tiveram acesso aos discursos como não conseguiram ter voz para denunciar a situação a tempo. Além de terem simplesmente ignorado a gravidade da situação, chamaram essas pessoas de "surdas-mudas" e referiram-se à língua deles como "linguagem gestual". (Presumo que - apesar de não ter lido a mensagem que lhe mandei na altura pelo Facebook porque deve estar perdida entre alguns milhares na caixa das "outras" mensagens, pois não faço parte dos seus amigos facebookianos - já tenha sabido da ignorância que estas duas expressões contêm.) (...)
Espero que não leve a mal este meu comentário, mas eu tenho uma espécie de reação alérgica de cada vez que vejo um novo tema de polémica debatido até à exaustão, em que há os da ala in, a ala da maioria, e os da ala out, apenas porque não alinham na moda da maioria. E sendo o João um homem assumidamente de direita num país "adornado à esquerda" (acho que foi assim que disse, uma vez), deve saber bem o que é que se sente quando não se faz parte da ala in.
Indo às arrecuas:
1. Não se trata aqui de estar in ou out, nem eu faço questão de estar sempre do lado das opiniões minoritárias só para me sentir diferente. Os adeptos pró-praxe estão em inferioridade numérica e ainda bem - tendo em conta o que é a praxe, mal fora que a maioria da população estivesse ao lado de desfiles de universitários a fazer figuras tristes.
2. De facto, não devo ter lido a mensagem que refere sobre a ignorância das expressões "linguagem gestual" e "surdo-mudo". Neste segundo caso, posso imaginar que é porque um surdo não é realmente mudo. No caso da linguagem gestual, não faço mesmo ideia. Mas estou sempre disposto a aprender. Venham daí as explicações.
3. Em relação à comparação com o "gozar com outros". Eu, de facto, sou gozão, mas não consigo perceber o que tem isso a ver com a praxe. A praxe não é gozar, a não ser naquelas aulas inventadas com bibliografia fictícia. A praxe é humilhar (ainda que com puríssimas e integradoras intenções), faltando ao praxado aquilo a que nunca falta a quem está a ver o Governo Sombra - um comando para poder mudar de canal. É essa liberdade que faz toda a diferença.