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A mamã é médica #10.1

por Teresa Mendonça, em 16.04.14

O excelentíssimo marido resolveu encostar-me à parede: 

 

Eh pá, sabem o que é que era mesmo fixe? Era eu estar casado com uma médica, e ela também ter um blogue tipo Pais de Quatro, estão a ver? Assim poderia discutir a questão das vacinas, dar a sua opinião informada, e tal. Seria tão proveitoso para os leitores do blogue... Enfim, sonhar não custa, não é?

 

A questão da vacinação está longe de ser consensual, mas sendo uma questão de saúde pública (e não individual, como se poderia suspeitar por alguns comentários ao post sobre o artigo de Daniel Oliveira), não pode deixar de ser discutida com profundidade.

 

A vacinação em Portugal, através do Plano Nacional de Vacinação (PNV), é universal e gratuita e tem um carácter orientador e incentivador. O PNV foi revisto e actualizado diversas vezes, a última das quais em 2012, de acordo com as alterações do padrão epidemiológico das doenças, o comportamento dos doentes perante medidas preventivas, o desenvolvimento social e dos serviços de saúde e o desenvolvimento científico e tecnológico que ditam o aparecimento de vacinas mais eficazes e seguras e terapêuticas mais eficientes.

 

Só existem duas vacinas que são obrigatórias em Portugal - contra o tétano e contra a difteria, através de uma lei de 1962 que nunca foi revogada. Mas até essas podem não ser administradas se os pais das crianças assinarem um termo de responsabilidade próprio para o efeito. O PNV é, em alguns grupos especiais (doentes imunodeprimidos, profissionais de risco, viajantes para áreas endémicas, entre outros), adaptável a normas próprias de acordo com as suas necessidades.

 

Os benefícios da vacinação superam largamente o simples benefício da pessoa imunizada, visto que a existência de crianças não imunizadas afecta a comunidade de diferentes formas, aumentando o risco da própria criança contrair a doença mas também o risco de contágio a outras crianças imunizadas ou susceptíveis (que não podem receber determinadas vacinas por questões relacionadas com a sua saúde ou dificuldades económicas, no caso de vacinas não incluídas no PNV), comprometendo a cobertura igual ou superior a 95% para as vacinas do PNV, percentagem fixada internacionalmente como necessária para garantir a imunidade da comunidade (há uma excepção a este objectivo de cobertura, que é a vacina contra a infecção pelo vírus do papiloma humano - HPV).

 

A decisão da não vacinação de uma criança tem de ser bem fundamentada e é obrigação dos pais procurar, junto dos profissionais de saúde competentes para o assunto, o acesso a informações credíveis e fundamentadas que exponham os riscos e benefícios da vacinação. A criação de movimentos anti-vacinação em todo o mundo, mas de modo preferencial na Europa, fez proliferar a disponibilidade de informação errada, sem qualquer comprovação científica, que é apresentada como irrefutável e essencial para quebrar a "suposta" pressão da indústria farmacêutica que, sem olhar a meios para atingir os seus fins comerciais, expõe a comunidade a "perigos incalculáveis".

 

Existem milhares de blogues e sites que divulgam dados que não têm qualquer fundamento, mas são esses dados que chegam mais facilmente aos olhos dos pais honestamente preocupados em procurar o melhor para os seus filhos, que não querem tomar essa decisão de ânimo leve. E é fácil de perceber porque os media preferem dar tempo de antena num horário nobre a uma linda e famosa actriz, que encabeça uma forte campanha para a libertação/recalendarização da vacinação nos EUA, e não a um pediatra que explica, com dados comprovados, os benefícios da vacinação.

 

Em 2007-2008, na sequência da exibição de programas com imensa visibilidade como o Oprah Winfrey Show, Larry King Live e The Ellen Show, que convidaram em sequência a actriz Jenny McCarthy - mãe de uma criança diagnosticada como autista aos 3 anos de idade e que responsabilizou a vacinação pelo diagnóstico do filho -, a percentagem de pais que recusaram vacinar os seus filhos nos EUA aumentou significativamente.

 

Assistiu-se à ocorrência de verdadeiros surtos de doenças evitáveis pela vacinação, nomeadamente sarampo e tosse convulsa, com ocorrência de raras mas muito graves complicações associadas a estas entidades. Actualmente a mesma actriz (que publicou um livro bestseller na altura da mediatização) já veio a público afirmar que recusa ser associada a movimentos anti-vacinação, e até mesmo que a doença do seu filho foi reclassificada e que não pertence às doenças do espectro do autismo. Infelizmente, o efeito devastador das suas anteriores declarações é irreversível.

 

Outro dos factos que mais prejudicou a vacinação foi a publicação, em 1998, de um artigo na revista The Lancet pelo cirurgião Andrew Wakefield relacionando autismo e vacinação. O artigo foi posteriormente retirado pela conceituada revista científica por ter ficado provado que o referido cirurgião (que entretanto perdeu a sua licença médica, e que na altura não declarou ter sido pago por uma empresa de advocacia que tinha em curso vários processos contra empresas produtoras de vacinas) alterou as histórias clínicas de todos os 12 doentes que fizeram parte deste estudo que deliberadamente relacionou, através da falsificação de dados, as vacinas e o autismo.

 

Este estudo não foi reprodutível por mais nenhum outro e anos mais tarde, depois de muito dinheiro gasto na repetição de ensaios que não mostraram qualquer relação entre as vacinas e o desenvolvimento de autismo (dinheiro e energia que não foram empregues na tentativa de obter respostas sobre as causas reais do autismo e sobre como ajudar as crianças e familiares que vivem com ele), o seu trabalho foi definitivamente comprovado como errado. Mas o impacto do estudo ultrapassou largamente o da sua refutabilidade e ainda hoje há imensas pessoas que acreditam nos dados por ele apresentados.

 

Existem vários sites credenciados que devem ser consultados pelos pais que se preocupam em proteger os seus filhos dos riscos das vacinas. Não existem vacinas 100% seguras nem eficazes e essa preocupação é compreensível. Por isso, discutirei nos próximos posts alguns dos problemas sobre vacinas que mais preocupam os pais.

 

No entretanto, deixo aqui vários sites credíveis onde as pessoas mais preocupadas com este tema devem procurar informação que depois devem discutir com os pediatras das suas crianças:

 

O site Vacinas, e o Portal da Saúde, em português.

Centers for Disease Control and Prevention.

American Academy of Family Physicians (colocar na janela de busca o termo "vaccines" - para quem não domina o inglês, também existe uma versão do site em espanhol).

American Academy of Pediatrics.

Infectious Diseases Society of America (conhecido como IDSA).

Institute for Vaccine Safety, da Universidade John Hopkins.

O portal Allied Vaccine Group, precisamente dedicado a reunir informação de sites credíveis sobre vacinação.

National Foundation for Infectious Diseases.

O site da Organização Mundial de Saúde, com muitos dados globais sobre o tema.

Vaccine Information You Need, bem organizado e bastante "amigo do utilizador".

Por fim, a conhecida FDA, US Food and Drug Administration, popular em filmes e série de televisão, e que também sem preocupa com vacinas.

 

 

publicado às 09:43


A mamã é médica #9.2

por Teresa Mendonça, em 20.01.14

Cá estou de volta, como prometido, para o segundo e último post sobre o uso da chucha (o primeiro encontra-se aqui).

 

Quanto às estratégias de abandono da chucha/ sucção do polegar:

 

- o sucesso de qualquer intervenção depende da vontade do próprio em participar. Uma criança, a partir do momento em que começa a perceber o que lhe dizemos e a compreender como funciona o ambiente em que vive, tem vontade própria e não deve ser tratada como um bebé. Temos que explicar à criança, em termos simples e adaptados, o porquê da necessidade do abandono da chucha e que acreditamos que ela é capaz de o conseguir. A estratégia de abandono deve ser planeada em conjunto;

 

- substituir a chucha/ dedo por um elemento de transição, como um lençol ou cobertor macio ou um brinquedo fofo e aconchegante;

 

- ajudar a criança a encontrar alternativas para se acalmar e auto-confortar: jogar um jogo de que goste muito - como um puzzle especial, cantar, ouvir música, aconchegar-se com um peluche da sua predilecção. Fazer uma massagem leve e reconfortante à criança ou ler-lhe uma história é uma óptima maneira de a acalmar. E uma sessão de mimos especiais de mamã/ papá (sem olhar para o relógio) é imbatível.

 

- parar de a repreender durante um período de tempo (por exemplo, um mês) sobre o seu hábito. Algumas crianças usam-no para chamar a atenção dos crescidos e quanto mais falamos sobre isso e os recriminamos mais eles irão insistir. Ignorar e reforçar os mimos nesse período;

 

- reduzir progressivamente a frequência da utilização da chucha e restringi-la o mais possível ao sono;

 

- criar um sistema de recompensas: coloque um calendário no frigorífico e assinale ou cole um sticker por cada dia em que a sua criança não use a chucha ou não chuche no dedo. No final de cada semana arranje uma pequena recompensa para lhe oferecer (uma história extra ao deitar, um pequeno brinquedo, assistir a um filme na sala com ela) e anuncie um piquenique especial para o momento em que ela cumpra um mês de sucesso no abandono do hábito. Elogie-a muito, e não a recrimine se ela recair. Reforce que acredita que ela vai conseguir;

 

- a ajuda do odontopediatra/dentista pode ser vital. Se a criança ouvir o seu médico a dizer-lhe que tem mesmo que abandonar a chucha ou o chuchar do dedo e este lhe explicar, como a um crescido, o que lhe poderá vir a acontecer, a solenidade do momento e o peso das consequências podem convencê-la da urgência da mudança de hábito;

 

- furar a chucha para que ela "deixe de funcionar" pode ser uma das técnicas mais eficazes, como alguns leitores sugeriram, mas não deve ser utilizada. Qualquer chucha (latex/ silicone/ borracha) que se encontre danificada (com cortes/ zonas de descoloração, gotas de água no seu interior) deve ser imediatamente deitada ao lixo. Nem pensem duas vezes! Está fora de questão expor as crianças a produtos eventualmente carcinogéneos. Daí que seja essencial trocar frequentemente de chucha - na pior das hipóteses, de três em três meses, e mais frequentemente se as crianças já tiverem dentes - para evitar contaminações, riscos de contacto com substâncias eventualmente perigosas e diminuir a dependência de uma chucha em especial. E lavá-la frequentemente com água quente e sabão;

 

- em relação especificamente à sucção no dedo, técnicas como o uso de meias nas mãos, ligaduras, dedeiras de borracha, verniz com sabor amargo ou uso de camisolas com as extremidades das mangas cozidas têm que ser explicadas à criança e esta tem que aceitar e compreender a sua utilidade para que funcionem - mas numa criança motivada são altamente eficazes. Nas crianças mais velhas, depois da erupção dos dentes definitivos, em que o hábito persistente de sucção no dedo prejudica directamente o seu desenvolvimento, e em casos muito particulares, o odontopediatra pode planear a utilização de um dispositivo intra-oral que facilite o abandono do hábito. Também ajuda distrair as crianças com actividades que ocupem as duas mãos. Manter a criança ocupada a fazer puzzles, legos, jogar à Wii, a trepar árvores, a jogar voleibol/basquetebol, brincar com plasticina, fazer colagens ocupa-lhe as duas mãos e ajuda a distraí-la da necessidade de sucção para se sentir bem;

 

- voltando à chucha, escolher uma cerimónia ou uma viagem especial para a enterrar ou a dar pode ser uma boa estratégia: entregar a chucha ao bebé Jesus, ao Pai-Natal, ao coelhinho da Páscoa, à bebé girafa numa ida ao Zoológico. Ou aproveitar uma situação inesperada e que os marque para resolver a situação. No nosso caso, o instrumento que usámos para a Carolina e depois o Tomás deixarem a chucha foi um sapo que nos apareceu inesperadamente na Urra. Quando íamos deitar-nos, já de noite, encontrámos um sapo gigante. Ficámos todos espantados, em especial a Carolina. Nessa noite a chucha desapareceu para sempre. E o assunto ficou muito resolvido na cabeça da Carolina, pois foi obviamente o sapo que a foi buscar durante a noite. Qual seria a outra razão para ele ali ter aparecido?

 

- ou então pode-se sempre aproveitar para entregar a outro a tarefa de desmame. Há dois anos, quando mudámos de casa, fizemos um acampamento na sala da casa nova (com tenda e tudo) e convidámos uns amigos do Tomás para virem passar connosco o fim-de-semana. Os miúdos tinham 5 anos e iam entrar para a escola primária daí a uns meses. Dormiram todos na sala, em grande excitação e camaradagem, e eu fiquei no sofá para controlar as tropas. Em 5 segundos, depois de tanta brincadeira, caíram para o lado e só acordaram 10 horas depois. Todos, menos uma menina, que gemeu durante três horas e só adormeceu ao meu colo depois de muitos mimos e canções. Soube no dia seguinte porquê. O pai não lhe quis enviar a chucha, sem a qual nunca antes tinha dormido, porque receava que gozassem com ela. E resolveu fazer isso sem me dizer nada. Nessa manhã apeteceu-me enfiar uma chucha pela garganta abaixo desse pai, mas a história teve um final feliz: a menina largou a chucha de vez. (Claro que se quiserem fazer isso, talvez não seja má ideia perguntar primeiro à outra pessoa se está disponível para a tarefa.)

 

Em resumo, e para quem não teve paciência para ler isto tudo:

 

- o uso da chucha durante o sono é recomendável para todas as crianças, sobretudo durante o primeiro ano de vida, pela sua relação com a redução da SMSL (Síndrome da Morte Súbita do Lactente);

 

- a sua introdução deve ser atrasada, nas crianças amamentadas, para depois de a amantação estar firmemente implantada;

 

- a chucha é uma grande aliada quando se pretende acalmar, consolar ou confortar uma criança, mas por norma nunca deve ser utilizada como primeira linha de defesa para não aumentar a sua dependência dela e ajudar a criança a criar outras medidas de auto-controlo. Uma mudança de posição, uma canção de embalar, uma história ou uma sessão de mimos especiais de mamã/ papá são tão eficazes no conforto da criança como a chucha, e como tal devem ser utilizadas em primeira linha para potenciar os seus efeitos no futuro;

 

- a utilização da chucha ou de qualquer outro objecto alternativo para sucção não nutritiva (fralda de pano/ cobertor/ brinquedo/ lençol) é sempre preferível ao uso de um dedo para chuchar. O abandono deste hábito será sempre mais tardio e difícil;

 

- a frequência da utilização da chucha deve ser restringida para os momentos de sono e para situações de SOS em que os métodos alternativos de conforto e controlo não sejam eficazes, de modo a fortalecer métodos alternativos de auto-controlo na criança;

 

- a maioria das crianças deixa de usar a chucha entre os 2 e os 4 anos. A utilização da chucha durante o sono até aos 5 anos não é provável que cause problemas irreversíveis e a longo prazo. No entanto, de forma a evitar perturbações odontológicas, alterações no desenvolvimento craniofacial, na musculatura e na fala pela sua utilização frequente e prolongada, é importante aconselhar os pais das crianças que usam chucha até mais tarde a planear o abandono deste hábito antes da erupção dos dentes definitivos, de preferência começando a planear essa suspensão entre os 4 e os 5 anos;

 

- as chuchas devem ser trocadas com frequência e, sobretudo, a qualquer sinal de danificação devem ser imediatamente deitadas fora;

 

- existem múltiplos truques para se abandonar o hábito de chuchar mas não vale a pena insistir em nenhum deles se a criança ou os pais não estiverem preparados. É que às vezes são os pais quem precisa daquela chucha, e não a criança.

 

publicado às 10:09


A mamã é médica #9.1

por Teresa Mendonça, em 17.01.14

Na sequência do pedido da Joana Silva (e da pressão do excelentíssimo esposo), aqui vai um "A Mamã É Médica" sobre a chucha, as suas vantagens e os seus problemas.

 

O reflexo de sucção é inato e surge durante a gestação em quase 100% dos bebés. Por essa altura, os bebés costumam usar os dedos para chuchar, mas depois de nascerem a chupeta, a fralda, um brinquedo ou um cobertor servem para os ajudar a relaxar, concentrar, auto-controlar ou confortar. A maioria das crianças costuma abandonar este hábito entre os 2 e os 4 anos mas cerca de 20% das crianças mantêm-no depois dos 3 anos, sendo mais frequente ocorrer nas crianças que não têm irmãos mais velhos (os primogénitos, sempre os primogénitos) e nas crianças que usam o dedo em vez da chucha.

 

Muitos estudos têm sido feitos sobre os benefícios e riscos associados à utilização da chucha pela preocupação antiga da sua relação com o insucesso da amamentação, problemas dentários a longo prazo e efeito de protecção da Síndrome de Morte Súbita do Lactente (SMSL). Resumamos, então, os prós e os contras que se conhecem até ao momento.

 

A favor da utilização da chucha:

 

- a chucha pode acalmar, controlar e confortar a criança. Não é aconselhável que se utilize para atrasar ou substituir refeições e só deve ser oferecida se a criança não tiver fome. É uma óptima aliada quando precisamos de distrair e sossegar as crianças em situações de colheita de sangue ou administração de vacinas, adormecê-la, ou simplesmente quando precisamos de tirar uma fotografia e as outras medidas extraordinárias não resultam;

 

- está documentada cientificamente a associação entre o uso da chucha durante o sono e a redução do risco da SMSL, apesar de se desconhecer o mecanismo de associação. É, portanto, recomendado o uso da chucha no primeiro ano de vida durante o sono diurno e nocturno, adiando-se a sua introdução para depois do estabelecimento firme da amamentação (+/- um mês), nas crianças amamentadas. Está estabelecido que a chucha deve ser oferecida ao bebé quando este é colocado no berço e não deve ser reintroduzida depois de este adormecer nem forçada a sua utilização se a criança a recusar;

 

- a utilização da chucha pode ajudar a ultrapassar o desconforto/dor nos ouvidos provocado pelas alterações da pressão atmosférica durante os voos;

 

- quando a criança estiver preparada para deixar a chucha esta pode simplesmente deitar-se fora. Quando a criança usa os dedos para se acalmar a tarefa será bem mais complicada.

 

Contra a utilização da chucha:

 

- a utilização precoce de mamilos artificiais ou chuchas parece estar associada com o insucesso da amamentação exclusiva e a diminuição da duração da amamentação, apesar de não ser claro se estes serão a causa ou a solução para um problema existente;

 

- o uso da chucha pode aumentar o risco de otites, mas a sua incidência parece ser menor até aos 6 meses, quando o risco da SMSL é maior e o bebé pode estar mais interessado na sua utilização, pelo que os riscos e benefícios têm de ser bem ponderados;

 

- os problemas dentários provocados a longo prazo pela sucção não nutritiva (chucas/ dedos/ brinquedos/ fraldas) está directamente correlacionada com a frequência, intensidade, duração e natureza do hábito e com factores genéticos e raciais. A utilização de chucha durante o sono até aos 5 anos não é provável que cause problemas irreversíveis e a longo prazo. No entanto, o seu uso prolongado e frequente pode provocar perturbações odontológicas (mordida aberta, mordida cruzada, diastema – espaços entre os dentes –, palato atrésico – céu da boca alto e estreito –, protrusão dos incisivos superiores – projecção dos dentes da frente), alterações no desenvolvimento craniofacial (deficiente desenvolvimento da mandíbula, alterações nas funções reflexo-vegetativas (respiração oral, mastigação e deglutição), alterações na musculatura da língua, lábios e bochechas e dificuldades na fala. É importante aconselhar os pais das crianças que usam chucha até mais tarde a planear o abandono deste hábito antes da erupção dos dentes definitivos, de preferência começando a planear essa suspensão entre os 4 e os 5 anos.

 

Em relação às estratégias de abandono, que era o pedido directo da Joana, receio bem que vá ter de ficar para o post seguinte. Este já vai longo, o dia começa a nascer e eu preciso de ir colocar a chucha à Rita. Mas prometo regressar rapidamente. 

 

publicado às 09:50


A mamã é médica #8

por Teresa Mendonça, em 19.04.13

Uma leitora perguntou acerca deste post:"Já agora essa questão da penetrância incompleta expressa-se na generalidade dos genes ou só em alguns? (Sou bióloga e tenho curiosidade natural sobre o tema!) Ensinaram-me que por exemplo a hereditariedade do tipo de sangue 'não falha'. É mesmo assim ou já detectaram excepções?"

Felizmente para o comum dos mortais não geneticistas, a penetrância incompleta não ocorre na maioria dos genes. De outra forma só os especialistas conseguiriam entender as transmissões genéticas. Já em relação ao que lhe ensinaram sobre a hereditariedade do tipo de sangue, receio bem que esteja errado: o sangue é exactamente um dos exemplos de fuga às leis genéticas básicas previstas por Mendel - mas só em casos excepcionais.


Realmente, o que aprendemos na escola secundária em geral não contempla excepções cujas explicações ultrapassam o programa escolar. Como a esmagadora maioria das conjugações de grupos sanguíneos são explicadas pelas regras básicas do funcionamento dos genes, aquilo que não encaixa - até pela sua complexidade - é deixado de fora. 


A maioria das pessoas conhece (ou pelo menos deveria conhecer) o seu grupo sanguíneo: A, B, AB ou O. Podem ainda saber se são Rh+ ou Rh-. Mas muito provavelmente não sabem se são Langereis ou Junior + ou -. Acontece que se conhecem até à data 32 grupos sanguíneos diferentes, tendo os dois últimos atrás referidos sido descobertos há pouco mais de um ano.


É muito pouco provável que algum dia precisemos que todos os nossos grupos sanguíneos sejam caracterizados. Os mais frequentes sê-lo-ão, com certeza, no caso de algures na nossa vida precisarmos de uma transfusão sanguínea, por exemplo. Mas outros só serão necessários caracterizar no caso de intervenções médicas complexas, que incluem transplantes de órgãos ou novas terapêuticas contra o cancro, o que felizmente é raro. 


Acresce a isto que a transmissão genética dos grupos sanguíneos também é baralhada por fenómenos como mutações, formação de quimeras sanguíneas, penetrância incompleta, compensação ou recombinação genética. 


Isto faz com que seja possível, ao contrário do que aprendemos no secundário, que um pai do grupo O possa ter um filho AB ou que um pai e uma mãe com o grupo O tenham filhos de grupos A, B ou AB, ou ainda, para complicar mais um pouco, que um pai AB e uma mãe A possam ter um bebé do grupo O. 


Não querendo baralhar muito, mas uma vez que a leitora é bióloga, vou tentar explicar estes três casos muito resumidamente. Para isso, precisamos de rever três conceitos básicos em genética:


1º - cada um de nós tem duas cópias de cada um dos nossos genes - uma que recebemos da mãe e outra que recebemos do pai;
2º - estas cópias, apesar de pertencerem ao mesmo gene, têm versões diferentes (alelos); 
3º - por vezes um alelo é dominante em relação ao outro.

Grosso modo podemos comparar os genes e alelos aos carros. A mesma marca e modelo de carro (gene) pode ter duas ou quatro portas (2 alelos diferentes). Os carros fazem exactamente a mesma coisa se tiverem duas ou quatro portas, mas são carros diferentes.


No caso do grupo sanguíneo ABO temos três tipos de alelos: A, B e O, sendo o A e o B dominantes em relação ao O mas não entre si. Daqui resulta que podemos ter quatro tipos de grupos sanguíneos: grupo A (se tivermos os alelos A/A ou A/O), grupo B (se tivermos os alelos B/B ou B/O), o grupo O (alelos O/O) ou o grupo AB (alelos A/B).


Retomamos as excepções de que falei acima.


O primeiro caso pode ocorrer em várias situações: existe um tipo de sangue raro - Bombaim - em que os indivíduos podem ter os genes A ou B mas no teste de determinação do grupo (que só detecta a presença da proteína A ou B e não o gene) aparecem sempre como O (falsos O). Isto porque os portadores deste grupo sanguíneo não têm uma proteína (H) que se transforma nas proteínas A e B através da acção das proteínas produzidas pelos genes A e B.


Imaginemos que os genes são uma receita de culinária e as proteínas o alimento cozinhado que resulta da receita. Os genes (ex. A e B) até podem ter uma receita absolutamente deliciosa, mas se não têm os ingredientes certos disponíveis (ex. proteína H) nunca farão os cozinhados desejados (ex. proteínas A e B que serão testadas para determinar o grupo sanguíneo).


O primeiro caso também pode ser explicado pela existência de subtipos raros do gene A (Ax ou Am) ou pela existência de uma quimera sanguínea (algumas pessoas têm mais do que um grupo sanguíneo ABO ao mesmo tempo - são AB mas geneticamente são do grupo A e do grupo B - resultado da partilha in utero de células estaminais entre dois gémeos não idênticos).


O segundo exemplo pode explicar-se pela ocorrência de mutações (alterações no DNA) ao longo da vida de um ser humano. Estima-se que no dia em que nasce, um ser humano já seja portador em média de 100 novas mutações. E aqui entram os agentes mutagénicos de que tanto se fala: agentes físicos (radiação ionizante e raios UVC e UVB), químicos (substâncias cancerígenas como os hidrocarbonetos presentes no fumo do tabaco e radicais livres) e biológicos (vírus e bactérias). As mutações alteram a receita (gene) culinária e portanto o cozinhado obtido (proteína) vai ser diferente do previsto.


O terceiro exemplo pode explicar-se pela existência de um raro alelo (cópia) do gene do grupo sanguíneo ABO (cis-AB) que ocorre em alguns asiáticos ou japoneses. Neste caso, além dos clássicos alelos A, B e O temos também um cis-AB. Admitindo que nesses casos um dos alelos é sempre o cis-AB, qualquer que seja o outro alelo (A, B ou O), o grupo sanguíneo será sempre AB (porque o teste detecta a presença das proteínas A e B). Se imaginarmos o caso de um pai cis-AB/O e uma mãe A/O temos 25% de probabilidades de terem um filho O/O e portanto do grupo O.


Portanto, a genética básica com que estamos familiarizados funciona na maior parte dos casos, mas não em todos. O melhor é, antes de desatar a renegar pais e filhos, baseado em conceitos básicos de hereditariedade, consultar um geneticista. E, afinal, até parece que isso não acontece assim tão raramente. O caro esposo que frequenta este blogue é o primeiro a fazê-lo.



publicado às 07:54


A mamã é médica #7.1

por Teresa Mendonça, em 16.01.13

Um leitor escreveu: O leite não é a maior fonte de cálcio disponível, não sendo necessariamente essencial à dieta de uma criança (como muitos meninos e meninas intolerantes à lactose que nem por isso deixam de crescer saudáveis o comprovam). Até amêndoas e sementes de sésamo têm mais cálcio do que o leite (e ambos podem ser incluídos facilmente em pães ou até bolachas caseiras - em que se controla os açúcares e nem por isso deixam de ser atractivas para os mais pequenitos.)
E ainda outro, a respeito de um post em que uma mãe se preocupava por o filho não gostar de leite: O pequeno parece comportar-se como os restantes mamíferos conhecidos. Ao que parece somos os únicos que insistem em continuar, e até obrigar-nos, a beber leite de outros bichos. 

Nos últimos anos têm sido muito acesas as discussões e debates sobre se o leite é ou não um alimento saudável para os humanos, em especial para as crianças. Os argumentos de um e outro lado da questão são múltiplos e por vezes extremados e pouco simpáticos (ou não fossem os nomes dos pobres animais que produzem o dito cujo - vacas e cabras - propícios a trocadilhos deselegantes). Por decreto, quando nos referimos a leite alimentar estamos a falar de leite de vaca. Quando queremos falar de leite de cabra ou outros temos que especificar a origem.


Como há muitos pontos importantes a discutir, divido a discussão em dois posts.

Comecemos pelos argumentos contra a ingestão: que há alimentos mais ricos em cálcio do que o leite, que somos a única espécie que bebe leite depois da infância e a única que bebe leite proveniente de outra espécie, que o leite contém hormonas que são administradas às vacas para crescerem mais rapidamente, que a maior parte dos lacticínios é pasteurizada e que esse processo destrói as proteínas do leite, que é homogeneizada e isso desnatura as proteínas e torna o leite mais difícil de digerir, que o leite tem mais colesterol que o bacon, que as vacas são alimentadas com milho e soja geneticamente modificados, restos de animais, pesticidas e antibióticos, que existe maior incidência de fracturas osteoporóticas em países com elevado consumo de produtos lácteos, que quem consome produtos animais tem um cemitério de bichos no estômago, e por aí adiante.

 
A decisão de ingerir ou não produtos animais é uma filosofia de vida e, desde que todos os nutrientes sejam incluídos na dieta, por vezes com necessidade de recorrer a suplementos, é uma escolha que só a cada um diz respeito. Não devem ser aqui esquecidas as crianças (em especial os lactentes) que em raros casos sofrem défices vitamínicos importantes, com sérias consequências para a sua saúde, pelas escolhas alimentares pouco informadas dos pais.
 
É verdade que existem alguns alimentos mais ricos em cálcio do que o leite. As sementes de sésamo ou as amêndoas (estas muito menos) são um exemplo. Agora vejamos: aproximadamente, a quantidade de cálcio existente numa chávena de amêndoas integrais é 378 mg e numa de leite é 300 mg. Só que se ingerirmos a primeira estamos a consumir cerca de oito vezes mais calorias do que com a segunda. Percebe-se, portanto, porque é que as amêndoas não são consideradas pela FDA (órgão governamental que controla os alimentos e medicamentos nos EUA) um boa fonte de cálcio (por definição a quantidade de referência diária de um determinado alimento deve fornecer 10-19% da dose diária recomendada desse nutriente para ser considerada uma boa fonte nutricional), ainda que o seu consumo seja altamente recomendável.
 
Sobre o conteúdo ilícito de antibióticos, hormonas, pesticidas e bactérias no leite alimentar não me vou pronunciar. Os métodos de análise e controle do leite estão regulamentados, são minuciosos, e é suposto que funcionem e sejam verificados pelas entidades responsáveis.
 
É verdade que o tratamento térmico que o leite alimentar sofre (com vista a destruir os organismos indesejáveis), e a sua homogeneização, alteram significativamente a fracção proteica útil do leite e induzem perda de nutrientes. Aqui o que conta é o que se obtém da relação custo-benefício e ainda assim o resultado, segundo estudos credíveis de equipas credenciadas na área de Pediatria e Gastrenterologia, é positivo, re-assumindo-se o leite como uma fonte primordial de proteínas e cálcio.
 
Sobre o conteúdo de gorduras no leite já aqui me referi em A mamã é médica #2.

Em relação às patologias que se associam ao consumo de leite falarei no post seguinte. 



publicado às 11:30


A mamã é médica #6

por Teresa Mendonça, em 11.01.13

Uma leitora escreveu: "O meu filho de 4 anos, que mamou em exclusivo até aos seis meses e mamou até aos 12, odeia leite. Ja tentei com sabores, batidos de fruta, de soja, sem lactose e não consigo que passe o copo dos lábios. Também nada de iogurtes, queijo e afins. O único leite que consigo que beba, e tem de ser pontualmente, é o da Mimosa, com chocolate, light. De manhã, o pequeno almoço é sempre farinha láctea. Ao lanche mando dia sim dia não o leite mas nos restantes dias, apenas sumo ou água. Como ele gosta de pudins, mousse, arroz doce, podem estes ser opção ou aqui os benefícios do leite são anulados pelo açúcar?"


Algumas crianças, nos primeiros anos de vida, passam por fases em que não querem beber leite e/ou os seus derivados. Quando isso acontece (até lhe costumam chamar "greve aos lacticínios") e a criança não apresenta sinais que façam suspeitar da existência de uma doença (e isso o seu pediatra dir-lhe-á), geralmente trata-se de um mecanismo fisiológico de auto-regulação do metabolismo do cálcio e da gestão que o corpo faz dele. A esmagadora maioria dos nutricionistas e pediatras dizem que nestes casos se deve respeitar as vontades biológicas da criança, desde que estas não correspondam a birras ou caprichos (e para isso a criança vai ter que ingerir cerca de 15-17 vezes o alimento antes de poder ter "autoridade" de dizer que não gosta dele). 

 
Não podemos, no entanto, esquecer que as proteínas e o cálcio são indispensáveis na infância e adolescência para o crescimento e desenvolvimento da massa óssea. Há então que variar, reagindo positivamente, oferecendo-lhe o leite sob outra forma. Existe uma variedade enorme de cereais no mercado, já experimentou vários para perceber se ele gosta de algum (misturado com leite) que não contenha muito açúcar? Papas de aveia ou muesli, por exemplo. Utilize leite para fazer sopas em substituição da água e pode cozinhar os legumes (legumes gratinados com creme de leite costuma resultar), as massas, os purés com leite em natureza ou em pó. Batidos de leite ou vegetais (já tentou vários?), sorvetes caseiros (podendo limitar-lhe o conteúdo calórico), requeijão, cremes gelados, queijo pouco curado e de sabor menos intenso. 
 
Claro que as farinhas lácteas, os pudins, mousses e arroz doce também são uma opção, mas por geralmente conterem açúcar em quantidades exageradas não devem ser consumidos com frequência. E nunca entre as refeições, pois a ingestão de doces antes das refeições principais pode saciar e "tirar o apetite" às crianças com a consequente redução de ingestão de frutos, legumes, carne e peixe ou cereais. Na moderação é que está o ganho.

Na verdade os produtos ricos em sacarose só deveriam ser ingeridos quando fosse preciso uma reposição energética rápida, o que acontece depois de exercício físico vigoroso ou uma crise de hipoglicémia, uma raridade nesta fase da vida. E não nos podemos esquecer das cáries dentárias, da obesidade e diabetes, consequência de um consumo abusivo de açúcar. Mas a glicose (a sacarose que existe no "açúcar de mesa" desdobra-se em glicose) tem um papel muito importante para o organismo pois é o combustível mais rápido e eficaz e essencial para as células do sistema nervoso e sanguíneo. Só os excessos fazem mal.

publicado às 09:32


A mamã é médica #5

por Teresa Mendonça, em 10.01.13

Uma leitora escreveu: "O meu filho, que tem 2 anos e 10 meses e é um miúdo bem constituído, desde sempre tende a rejeitar a 'comida cozinhada' ao jantar. Ao invés disso gosta de petiscar: pão, queijo, fruta, iogurte, etc. Eu lá vou insistindo porque me parece que ele é muito pequeno para prescindir de uma refeição mais composta, mas muitas (muitas!) vezes a refeição acaba ou em choro ou com ele a não comer nada... O que devo fazer?"

O apetite das crianças varia muitíssimo em função do clima, da época do ano, da actividade física que desenvolvem, do seu humor e da necessidade de se afirmarem. Cá em casa acontece exactamente o mesmo. Se isso se mantém há algum tempo o importante é avaliar o tipo de alimentação que o seu filho faz ao longo do dia e perceber se ele cumpre as doses diárias aconselhadas para a sua idade (cerca de duas doses de lacticínios, três doses de verduras e legumes, seis doses de pão ou equivalentes em arroz, massa e batata, duas doses de carne/peixe/leguminosas e duas doses de fruta). E ainda perceber se os percentis do peso e altura do seu petisco se mantêm equilibrados. Já discutiu esse assunto com o seu pediatra?

De qualquer forma, não é aconselhável comer muito à noite, até para as crianças. Mas, claro, de comer pouco a petiscar vai uma grande diferença. Será que ele come alguma guloseima pouco tempo antes do jantar e depois não tem apetite para comer "de prato"? 

Eu acho sempre positivo explicar às crianças as razões das coisas, escolhendo os argumentos mais adequados à sua idade e às suas necessidades. E depois deixe-o participar na escolha dos legumes/frutas quando vai às compras, transportar um saco mais leve até ao carro ou até casa, armazenar as compras, preparar os ingredientes para o menu do jantar, juntar o sal e o azeite à sopa, e no final deixe-o servir-se da quantidade que ele quiser. O nosso pediatra sempre nos disse que se eles só se servissem de uma colher então que comessem só uma, mas até ao fim.

Se ele ajudar a fazer a sopa (experimente a chamar-lhe um nome diferente como creme ou néctar do Pocoyo ou dos Power Rangers) vai ter curiosidade em prová-la. Arranje umas receitas divertidas usando ingredientes diferentes para lhe despertar a curiosidade: em vez de esparguete use massa chinesa, em vez de uma alface simples faça uma salada arco-íris usando alfaces de várias cores, milho doce, tomate, maçã vermelha com casca aos cubinhos, croutons... Eu não juntaria é o leite ou seus derivados com a sopa, as saladas ou outros nutrientes contendo ferro, pois este não será absorvido, e uma vez que ele gosta de petiscar pode não ingerir as quantidades diárias necessárias.

publicado às 19:15


A mamã é médica #4

por Teresa Mendonça, em 10.01.13

O marido que frequenta este blogue escreveu acerca da sua fabulosa técnica de segurar chuchas: "A técnica consiste em agarrar a pega sem jamais tocar na parte reservada à Rita. É uma coisa só ao alcance dos verdadeiros profissionais. A não ser que o herpex simplex nãoseiquêsex seja recordista do salto em comprimento nas Olimpíadas Virais, estou relativamente confiante da minha inocência quanto à última maleita da minha filha. Até porque tenho pelo menos três excelentes álibis com menos de um metro e meio cá em casa."

Pois, caro esposo, tenho a dizer-lhe que, deixando de lado o facto de obviamente não haver qualquer hipótese de confirmar qual foi a causa da primo-infecção herpética da Rita (infecção inicial) e de eu me estar claramente a meter consigo, o vírus Herpes simplex 1 (causador do herpes labial comum) é muito  contagioso. E, já agora, muito frequente, pelo que 80-90% dos adultos portugueses são portadores do vírus, ainda que nunca tenham detectado vesículas típicas na sua pele ou mucosas. E os álibis que refere não se confirmam pois o nosso viral amigo já abancou nos neurónios dos seis habitantes da nossa casa (o vírus é neuroinvasivo e fica latente nas células nervosas, escondendo-se do sistema imune, sofrendo esporadicamente - ou não - episódios de reactivação).

Quer isto dizer que, com os orifícios que as novas chuchas têm para os bebés respirarem melhor e as propriedades escorregadias que a saliva (veículo de contágio do vírus) tem (não, não estou a dizer que se baba, apesar de haver uma relação comprovada entre a infecção pelo Herpes simplex e a Doença de Alzheimer), se quer ter a certeza de não contagiar mais nenhum bebé é melhor abandonar essa técnica inovadora. Uma vez que o vírus se transmite mais frequentemente por contacto directo da pele infectada ou pela saliva as outras causas de contágio mais frequentes são o beijo e a partilha de objectos pessoais (batons, escovas de dentes) ou copos/talheres.

Mas não se recrimine. O contágio ocorre, na esmagadora maioria dos casos, na primeira infância, pelo que a Rita, a viver nesta casa 100% infectada, iria receber a visita do herpezito mais tarde ou mais cedo. E agora, uma vez que a erradicação não é possível, temos que investir (como fazemos com os outros miúdos) em soporíferos para o vírus, para evitar que este acorde e provoque reactivações. São muitas as razões que parecem estar relacionadas com a reactivação: gripe ou outras infecções, febre, stress, exposição solar ou a frio intenso, alterações hormonais durante a menstruação ou gravidez, avulsões dentárias, ingestão de certos medicamentos ou alimentos... Por isso as regras básicas de promoção da saúde, que o nosso secretário de Estado recentemente referiu e que foram tão mal percebidas, também servem para evitar os surtos herpéticos. Mas isso são outras histórias.

Fiquemo-nos por lavar bem e frequentemente as mãos, usar protector solar, reduzir o stress, não partilhar objectos pessoais e deixar-mo-nos de beijoquices a pessoas que não conhecemos.

publicado às 14:59


A mamã é médica #3

por Teresa Mendonça, em 07.12.12

O marido que frequenta este blogue escreveu sobre a gravidez da Kate: "quatro dias internada por causa de enjoos? Enjoa-se assim tanto do outro lado do canal da Mancha?"

Estarei eu a denotar algum preconceito em relação à pobre duquesa de Cambridge, excelentíssimo esposo? Todos sabemos que a gravidez, em especial durante o primeiro trimestre, é um período em que os enjoos são muito frequentes. Há quem lhes chame até enjoos matinais, se bem que de matinais não têm nada, pois  acontecem em qualquer altura do dia. Ora, uma em cada 300 grávidas sofre de uma grave apresentação destes enjoos, a que se chama hiperemese gravídica. Nestes casos, as náuseas e os vómitos são incoercíveis e violentos, e não cedem aos tratamentos habituais, podendo desencadear distúrbios nutritivos e metabólicos significativos, com perda de peso acentuada (por definição superior a 5% do peso corporal habitual).


A causa não está bem esclarecida, mas parece estar relacionada com as alterações hormonais da gravidez e stress intenso. Exactamente para evitar as consequências da desidratação e distúrbios que referi, algumas grávidas têm que ser hospitalizadas. Ora, as distintas grávidas de sangue azul têm as mesmas alterações hormonais que as grávidas da plebe, e até parece que sofrem de stress acentuado, pelo que têm todo o direito de necessitar de um internamento até deixarem de vomitar que nem uma pescada. E já agora, o tratamento desta situação passa por um suporte emocional, que parece ser muito importante. Portanto, o príncipe William vai mesmo ter de fazer um pouco mais do que uma visita por dia para que a sua duquesa se sinta melhor.

publicado às 16:28


A mamã é médica #2

por Teresa Mendonça, em 06.12.12

Um leitor escreveu: "Agora fiquei cheia de dúvidas... Leite magro para crianças?!? Os filhotes aqui comem pouca gordura, nada de manteigas, margarinas ou queijos gordos, mas a gordura do leite não é importante para o armazenamento do cálcio no organismo? O leite e iogurtes para crianças não devem ser meio-gordo? Os iogurtes magros (excepto os naturais) têm adoçantes artificiais e sempre pensei que não era recomendável para crianças. Isso é mentira?"

Então vamos lá ver. A gordura fornece energia, ácidos gordos essenciais e é imprescindível à absorção de vitaminas lipossolúveis. Portanto, é importante que as crianças em fase de rápido crescimento e  desenvolvimento hormonal e cerebral consumam gorduras. É no tipo de gorduras que elas devem consumir que está o busílis. E na sua quantidade, que varia com a idade e com a actividade da criança. 

O leite de vaca contém três vezes mais gordura do que o leite materno (esse, sim, é produzido com a quantidade ajustada às necessidades da criança), e não estamos a falar, na sua maioria, da gordura "boa", insaturada, que podemos encontrar nos azeites vegetais, frutos secos e peixes gordos. Uma criança com 2-8 anos deve beber em média dois copos de leite (ou o equivalente em derivados) por dia, e entre os 9-18 anos três copos de leite para suprir as suas necessidades.

Quando falava dos lanches dos miúdos para a escola, referia-me às crianças em idade escolar (com mais de 5 anos). A partir dos 5 anos, se as crianças tiverem uma alimentação variada que inclua as gorduras "boas", devemos limitar as gorduras saturadas e as provenientes do leite, bastando-lhes consumir leite magro. Por as necessidades nutricionais serem diferentes, até aos dois anos não se recomenda leite com restrição de gordura, e dos 2 aos 5 o leite consumido deve ser meio-gordo.

Em relação aos iogurtes, estes devem ser magros (excepto para as crianças até aos 5 anos, na lógica do que escrevi para o leite) e de preferência sem adição de açúcar. Os adoçantes, quando ingeridos nas quantidades habituais, não provocam qualquer doença. No máximo, a sua ingestão aumenta a vontade de consumir mais alimentos doces. No entanto, deve-se, por regra, ler com atenção os ingredientes e a tabela nutricional de cada produto, e depois escolher o que tiver menos açúcar, mais cálcio, não incluir aditivos (nomeadamente corantes artificiais, conservantes ou adoçantes) e de preferência ser de tipo "bio"(com lactobacilos de diversos tipos). O ideal é mesmo o iogurte natural magro não açucarado. Mas  é importante ter em conta o paladar de cada criança.

Uma boa dica para os miúdos que não estão habituados ao sabor do iogurte natural magro é juntar fruta fresca, frutos secos ou muesli. Há combinações infindáveis, que dão para surpreender os miúdos todos os dias. A nossa Carolina, por exemplo, é fã de diospiro (bem maduro) misturado com iogurte natural. E lá vai ela de tupperware e colher (todos coloridos, é claro, para dar estilo) para a escola. 

No entanto, como pode imaginar, há múltiplas opiniões sobre o assunto e cada criança tem particularidades que só o seu pediatra ou nutricionista pode avaliar.

publicado às 18:28



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