Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Se não viram esta notícia no jornal Público, não percam, porque ela levanta questões muito interessantes sobre a gestão da imagem das crianças na sociedade contemporânea.
Em tempos já escrevi sobre isso aqui, embora num sentido contrário, a propósito das produções fotográficas muito atrevidas da jovem Thylane Lena-Rose Blondeau. Ou seja, é comos se a hiper-sexualização das crianças pudesse simultaneamente conduzir ao seu aproveitamento ilegítimo (como no caso da Thylane) e a uma vigilância exacerbada (como no caso em apreço, da pequena Marlow Adamo), que pode, em última análise, levar ao desaparecimento progressivo da criança do espaço público, segregada por família obcecadas com o fantasma da pedofilia.
Cito brevemente a notícia do Público para que se saiba do que estou a falar:
A fotografia de uma criança de 19 meses a levantar o vestido e a mostrar o seu umbigo levou a que a conta no Instagram da mãe fosse retirada. O site de partilha de fotografias considerou que a imagem publicada por Courtney Adamo era “inapropriada”. (...)
“Pensei que era uma fotografia adorável de minha bebé e da sua linda e redonda barriga”, conta a mulher no seu blogue, onde manifestou a sua indignação pelo que aconteceu. “A não ser que a barriga de um bebé seja considerada ‘nudez’ e certamente não é! Ela é um bebé”, escreveu.
A regra sobre nudez do Instagram determina que “não se pode publicar fotografias violentas, de nudez, nudez parcial, discriminatórias, ilegais, pornográficas ou sexualmente sugestivas ou outros conteúdos”.
A foto em causa é esta:
O Instagram acabou por reconhecer o erro e repor a conta da mãe da menina, mas tanto a proibição com a exibição são duas faces da mesma moda - a tal hipersexualização das crianças, que no caso em questão parece querer sugerir que uma imagem de uma bebé a mostrar a barriga (assinale-se que a minha Ritinha faz isso o tempo todo) pode ter uma qualquer conotação sexual, ou ser considerada perigosamente sugestiva.
É daquelas casos em que o requinte da proibição se torna preocupante. Tal como o velho padre que no escuro do confessionário exigia uma descrição detalhada dos pecados sexuais, também este rigor absurdo do Instagram nos leva a aquestionar acerca daquilo que vai na cabeça pervertida do censor.
Em finais de Novembro do ano passado, eu mostrei aqui algumas fotos incrivelmente ternurentas do pequeno Beau e do seu cachorrinho Theo, que a família foi buscar a um canil quando o bebé nasceu. Passados estes meses, Beau e Theo cresceram, como é óbvio, mas ainda assim não perderam o velho hábito. As fotos continuam a ser incríveis, e não admira que já haja 300 mil pessoas a acompanhar as suas aventuras no Instagram. Ora vejam:
Tom Fletcher, da banda britância McFly, foi pai pela primeira vez. Durante a gravidez, ele fotografou diariamente a sua mulher Giovanna, e depois fez este vídeo magnífico ("From Bump to Buzz") com esta canção maravilhosa ("Something New"), em honra do pequeno Buzz, que por esta altura tem dez dias de vida. Acompanhar a gravidez com fotografias está na moda, e há pessoas que o fazem de forma muito original, mas até hoje nunca tinha visto nada tão giro quanto isto.
...porque senão ainda cá quer meter em casa um cão pelo Natal. A família anda a pressionar-me psicologicamente para termos um cão, agora que aparentemente terminámos a produção de filhos, mas eu tenho resistido o mais que posso. Aparentemente, consegui adiar a coisa para o Natal de 2014.
Por isso, este post é uma tremenda irresponsabilidade. Porque isto é das coisas mais ternurentas que eu já vi na vida. Vejam também vocês, por favor, as fotos e a história contada no blogue Momma's Gone City. Senhoras e senhores, eis o cão Theo e o pequeno Beau.