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É justo admitir que Madonna sempre teve um certo fascínio por axilas peludas. Esta foto é dos anos 80.
Obviamente que a culpa é minha, mas receio bem que o post anterior sobre este tema tenha aberto a caixa de Pandora da higiene depilatória. É só mesmo para avisar que vale a pena acompanhar o que está a acontecer na caixa de comentários, aqui.
Há um par de dias Madonna colocou esta imagem no Instagram e voltou a reabrir o debate sobre a questão do pêlo no ideal de beleza feminina, acompanhando-a com a legenda "Long hair...... Don't Care!!!!!!".
Tendo em conta que a foto foi lançada numa altura em que a cantora está a lançar a sua nova linha de cosméticos, MDNA skin, há dúvidas justificadas sobre se a foto pretende tomar posição sobre um velho tema feminista ou chamar atenções sobre si. Umas deitam a língua de fora, outras não depilam as axilas.
A questão da liberdade versus mau gosto não tem resolução possível, e a maior parte das mulheres que conheço são as primeiras a considerar a não-depilação das axilas impensável. É algo que está instituído há demasiado tempo nos países ocidentais (sobretudo aqueles com grande percentagem de mulheres morenas) para poder ser invertido, ainda que por um sovaco tão popular quanto o de Madonna. Portanto, não acredito que ela vá instituir isto como moda.
A Julia Roberts atreveu-se a acenar aos seus fãs, com as axilas por depilar, durante a estreia do filme Notting Hill, em 1999, e 15 anos depois ainda se fala disso.
Mas há aqui duas questões curiosas. A primeira diz respeito à própria Madonna. Ela não é propriamente nova nestas afirmações através do pêlo. As suas famosas fotos de finais dos anos 70, princípios de 80, mostram-na com as axilas peludas, mas de uma forma bastante diferente da actual.
Ou seja, aqui ela está realmente ao natural, podendo reclamar liberdade total para a mulher. Na foto recente do Instagram, pelo contrário, os pêlos das axilas estão devidamente aparados e... pintados. Donde, é difícil ela justificar aquele "don't care" - imagino que colorir cuidadosamente o sovaco dê bastante mais trabalho do que rapá-lo. Madonna pode estar a querer lançar uma nova moda, semelhante aos cuidados que muitas mulheres têm com o desenho dos pêlos púbicos, mas o "não quero saber!" é uma grande treta.
A outra questão curiosa tem a ver com a natural reacção pró-pêlo de uma sociedade que é capaz de ter levado a sua paixão pela depilação longe demais. Eu não faço ideia de quem estabelece as modas ao nível do pêlo púbico (feminino e até masculino) - o cinema pornográfico?, as esteticistas?, as séries de televisão tipo Sexo e a Cidade e Dona de Casas Deseperadas? -, mas a proliferação da "brazilian wax" até a um ponto em que tudo desaparece e as mulheres ficam ali entre a boneca Barbie e o estado pré-púbere parece-me um radicalismo depilatório que haveria naturalmente de originar alguma espécie de reacção.
Algumas pessoas têm vindo a tomar posição contra isso, como Cameron Diaz, ao que parece muito pró-bush no seu novo livro, The Body Book (eis um artigo bastante divertido sobre o tema, aqui), e no último Dia dos Namorados uma das lojas novaiorquinas da American Apparel deu muito que falar com esta perturbante montra.
Não me parece que o florescimento capilar dos anos 70 esteja de volta, mas esta reacção contra a obsessão de querer que o corpo de um adulto fique com a textura do de uma criança parece-me saudável. Embora o statement de Madonna soe um pouco a falso, a questão que ela levanta é actual.