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A excelentíssima esposa deu-me ontem uma sova argumentativa e estou há 24 horas a saborear esse feito. Como eu ontem disse à Maria João Marques, que no Facebook me atirou com um
Foste arrumado, João Miguel :-) (a Teresa também escreve muito bem).
a verdade é que nós nunca perdemos quando somos derrotados pelas nossas mulheres. A razão é simpes: se ganhamos a discussão, ganhamos a discussão e somos muito espertos; se perdemos a discussão, podemos sempre dizer com justíssimo orgulho: "Estão a ver esta miúda super-inteligente que me deu uma coça? Consegui que ela se casasse comigo." E somos ainda mais espertos.
Claro que eu continuo a achar que a miúda super-inteligente não tem nenhuma razão nesta questão - só que isso deixou de interessar. Quando a capacidade de expor a sua perspectiva é tão eficaz que os leitores consideram que ela ganhou o debate, há que sair de mansinho e saborear o facto de a ter conseguido enganar em 1992. E continuar a enganá-la, 22 anos depois.
A propósito da morte de Gabriel García Marquez, José António Saraiva escreveu no jornal Sol uma crónica que terminava com uma breve reflexão sobre discussões domésticas:
Valendo-se da sua experiência de vida de casado 56 anos com a mesma mulher, [Gabriel García Marquez] dizia mais ou menos o seguinte nas memórias: "Quando nos casais as pessoas se zangam, há quem diga que devem falar um com o outro, esclarecer tudo exaustivamente, até ao fim; pois eu dou o conselho oposto: quando há um problema no casal, um mal-entendido, uma zanga, o melhor é não falar e deixar passar um tempo. A conversa só vai agravar a situação." Sempre pensei exactamente o mesmo.
Eu não tenho por hábito pensar exactamente o mesmo do que José António Saraiva (ou Gabriel García Marquez), mas neste caso penso exactamente o mesmo do que os dois - o que vai um bocadinho contra aquilo que é o domesticamente correcto nestas matérias. O costume, de facto, é aconselhar o casal a não se deitar zangado, a resolver os problemas antes de adormecer, a evitar levar para a almofada quaisquer ressentimentos.
Parece-me muito bonito - mas também muito lírico e até perigoso. O tempo é sempre o melhor conselheiro, e quando nos esforçamos para resolver problemas quando ainda estamos a fumegar pelas orelhas, só para cumprir a máxima do "não deitar zangados", corremos um risco semelhante ao de pegar nos tachos quando eles ainda estão a ferver. Os riscos de queimadura são muito elevados.
Mas eu gostava de saber, aí desse lado, se alguém ainda leva a sério a máxima do "não deitar zangados", ou se este é mais um daqueles lugares-comuns que se ouvem nos programas do Dr. Phil, mas aos quais já ninguém liga a mínima. Afinal, as pazes são feitas antes de ir para a cama, na cama ou depois de sair da cama? Digam coisas.