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O título não é meu, mas de um excelente texto que o Henrique Monteiro assina hoje no Expresso online. Eu não poderia estar mais de acordo com o que ele escreve acerca da alegada ignorância da juventude, uma acusação que tem milénios. Não percam.
Aprendemos com a raposa do Principezinho que, se soubermos as horas certas a que chegam as pessoas de quem gostamos, podemos começar a ser felizes ainda antes de elas chegarem. A raposa da Teresa teria muito que penar, na medida em que a pontualidade é a única qualidade que lhe falta. Mas, em compensação, ficámos a saber, pelo último post da Teresa, que a sua raposa aprecia ser infeliz muito antes de ter chegado, numa espécie de versão nietzschiana do livro de Saint-Exupéry - um Anti-Principezinho e uma anti-raposa, por assim dizer, que daria qualquer coisa como isto:
Se tu me telefonares às três da tarde a dizer que a Rita bateu com a penca no chão, eu posso começar a ser infeliz mais cedo. Como só vou chegar a casa às três da manhã, tenho 12 horas para ser infeliz. Quanto mais tempo passar até eu chegar, mais infeliz posso ser. Estarei cada vez mais inquieta e agitada, e descobrirei o preço da infelicidade! É preciso ritos.
Não sei porque é que o Sain-Exupéry preferiu a outra versão, quando esta faz tão mais sentido...
Digam-me: é só uma coisa da Teresa, ou todas as mulheres gostam de saber tudo a toda a hora? A Rita caiu e eu vi-a cair - foi mesmo directamente de nariz+lábio ao chão, numa queda aí de meio metro de altura. Não é que se tenha atirado do Empire State Building. A Rita ainda tentou proteger-se com as mãos, que ela já começa a desenvolver alguma esperteza, mas não chegou. Daí o lábio um bocadinho cortado pelas suas favolas e o nariz a deitar sangue.
Esta fase dos miúdos de ano e meio/ dois anos é sempre um pouco complicada, porque nunca sabemos bem o que eles conseguem fazer sozinhos. Eu tenho a mania de lhes dar a maior independência possível, e às vezes engano-me nas contas, como foi manifestamente o caso. Mas não houve cortes profundos, nem narizes tortos, até porque os miúdos nesta altura são de borracha e têm super-plaquetas. O sangue estancou em 10 segundos, ela não bateu com a cabeça. Foi uma queda maior do que é hábito, nada mais.
Sabendo eu o que fazer, para quê estar a chatear a Teresa, que estava de banco e só saía de madrugada? A opção por não lhe pôr gelo foi consciente, apesar de eu saber que a Teresa é uma fanática do gelo - ela precisava do conforto da chucha naquele momento e pôr-lhe gelo na boca iria dar origem a berraria de meia-noite. O corte não era grande, achei melhor assim, embora a sotôra discorde, provavelmente com razão. Mas para quê telefonar imediatamente, com a miúda aos berros? Para a Teresa ficar com o coração aos pulos?
Eh pá, eu sou completamente pró-verdade, pró-sinceridade e tudo o mais. Mas também sou pela poupança de desnecessárias preocupações quando a situação não justifica alarme. Que sentido faria uma médica que recebe pessoas com enfartes ficar 12 horas preocupada com um lábio inchado e um nariz esmurrado? Chamem-me insensível. Mas, como bem sabe que já viu esse grande filme chamado The Matrix, às vezes (só às vezes), a ignorância é uma bênção:
Relaxem, minhas senhoras. A intenção foi boa e em momento algum eu quis esconder o que quer que fosse, ok? Matem lá essa anti-raposa que vive dentro de vós.