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A discussão a propósito deste post, na caixa de comentários, está a atingir níveis particularmente acirrados, pelo que eu pedia um pouco mais de moderação aos leitores, para eu próprio não ser obrigado a moderar o que ali é dito. Como sabem, os meus níveis de tolerância argumentativa são bastante elevados, mas convém mantermo-nos dentro de certos limites de razoabilidade.
O que se querem são opiniões equilibradas e, de preferência, argumentadas, como é o caso desta da faty eilans:
Confesso que este debate acerca de amamentar me deixa muito frustrada. Ter um seio à mostra para dar de alimento a um filho está longe de ser obsceno, a natureza fez-nos fisiologicamente eficientes. Infelizmente, ter um seio à mostra é visto por uma sociedade dita evoluída como um acto sexual.
Logo, esteja o seio à mostra para amamentar ou por qualquer outro motivo, a interpretação do acto acaba por não ser diferenciada. Nos dias de hoje, em que uma mulher é julgada por se sentir capaz de suportar os olhares muito indiscretos na exposição do seu corpo, aceita-se mais facilmente uma Kim "artística" do que uma Alyssa "mãe que alimenta filho".
Respeito ambas, mas nunca julgarei uma mãe que alimenta um filho e que o partilhe numa rede social. Como mãe que sou e que amamenta, luto todos os dias contra o preconceito de amamentar em espaços públicos quando a minha filha precisa. Um seio à mostra para amamentação não é um acto sexual, seja ele visto ao vivo ou fotografado.
Países como o Reino Unido introduziram o Acto de Igualdade em 2010, de forma que a amamentação não seja ostracizada quando feita em público. Acto este que permitiu a defesa de uma mãe que foi fotografada sem saber a amamentar na rua e a sua foto publicada numa rede social com um título ofensivo. O debate sobre este tópico merece um pouco mais de construção e menos julgamento moral & trocas de insultos.
O caso que a leitora refere neste último parágrafo aconteceu em Março deste ano, quando uma inglesa chamada Emily Slough foi fotografada às escondidas a amamentar o filho na rua e a sua foto acabou vítima de insultos no Facebook. A imagem é esta e o inacreditável comentário está em baixo:
O Daily Mail conta a história aqui. Várias dezenas de mães reagiram numa manifestação pública, em que deram de amamentar aos seus filhos no mesmo local em que Emily Slough foi fotografada.
A questão, obviamente, não se coloca apenas em Inglaterra. Aqui encontram um texto brasileiro que faz um bom resumo da situação, e dá exemplos - a meu ver, inconcebíveis - de mulheres que são incomodadas, inclusivamente em instituições públicas, por amamentarem os filhos.
Foi o que aconteceu à modelo Priscila Bueno num museu de São Paulo, também este ano, o que deu origem a um protesto no mesmo local semelhante ao das inglesas em defesa de Emily Slough, a que os brasileiros dão o colorido nome de "mamaço". A história pode ser lida aqui.
O facto de estarmos na presença de uma mulher muito bonita, apenas dá razão àquelas que defendem que o problema não está no acto em si mas na cabeça de quem olha para ele. Nesse sentido, não há como negar a utilidade do Equality Act referido pela faty eilans, e que no que diz respeito à amamentação pode ser consultado aqui.
O que o Acto de Igualdade diz é muito simples: é considerada discriminação sexual tratar desfavoravelmente uma mulher por estar a amamentar em público. Ninguém pode pedir que pare, nem recusar prestar-lhe um serviço (num café, por exemplo) por causa disso. Parece-me uma coisa básica - mas, pelos vistos, há coisas básicas que necessitam de ser verbalizadas.
Queria alertar os meus amigos - mas sobretudo os meus inimigos - que eu apareço este mês na revista Máxima envergando uns espectaculares sapatos de salto agulha.
E isto porquê? Por causa da igualdade entre homens e mulheres, que levou 99 outros machos como eu a envergarem as criações de Luís Onofre (no meu caso, sapato vermelho número 45) para o projecto "100 Homens, Sem Preconceitos - Um Passo pela Igualdade". A iniciativa deverá em breve dar origem a uma exposição.
Num ano em que 32 mulheres já morreram vítimas de violência doméstica, e em que o problema está longe de ser encarado entre nós com a seriedade que lhe é devida, esta campanha é apenas um pequeno contributo para despertar as consciências mais adormecidas.
E agora podem gozar comigo.
O jornal The Independent publica hoje um estudo (soube dele via Observador, que tem vindo a dar - e bem - muita atenção a estas coisas da família e das relações) que demonstra que, a partir dos anos 90, os casamentos têm tendência para serem mais sólidos se homem e mulher tiverem o mesmo nível de educação.
Não era assim nos anos 50, em que o homem casava abaixo das suas habilitações - afinal, era o tempo em que eles preferiam as loiras. As loiras baixavam a bolinha, conformavam-se ao seu papel de fadas do lar, e os casamentos duravam e duravam. A partir dos anos 60 tudo isto implodiu, e pelos vistos foram precisas três décadas para os casais conseguirem assimilar um posicionamento igualitário dentro de casa.
Só que igualdade com igualdade se paga - e aqueles contos de fada do príncipe que descobria uma qualquer Cinderela infeliz e poeirenta tornaram-se mais complicados. Infelizmente, eles já não vivem felizes para sempre: o príncipe do século XXI não tem pachorra para uma Cinderela pouco letrada.
O título do artigo do The Independent é: "Gentlemen prefer brains: similarly educated couples last". Mas a questão não é só dos "brains" - é que a educação e o "upbringing" têm um efeito poderosíssimo em relações não-hierarquizadas, como é suposto serem as actuais. Se ela é professora universitária e ele tem a quarta classe, a vida nunca será fácil. É pouco romântico, mas é mesmo assim.