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Este fim-de-semana nós fomos ver com os miúdos dois filmes: Tia Hilda!, incluído na programação da Monstra, e Lego: O Filme. Tia Hilda! é a última obra saída do prestigiado estúdio francês Folimage e é uma simpática fábula ambientalista, com a vantagem de nos propor uma alternativa visual à cada vez mais formatada animação por computador.
E, no entanto, foi a supostamente formatada animação por computador que me encheu as medidas: Lego: O Filme é um magnífico divertimento, e já não me lembro da última vez que um desenho animado me satisfazia tanto - talvez desde o último filme da Pixar realmente bom (e para isso é preciso recuar até 2010 e a Toy Story 3).
Não quero estar aqui a aborrecer-vos com uma crítica cinematográfica, mas é impressionante como Phil Lord e Christopher Miller, que assumem simultaneamente o argumento e a realização, conseguem fazer tanto com as aparentes limitações gráficas dos bonecos da Lego, que nunca deixam de ser bonecos da Lego, e moverem-se como bonecos da Lego, durante todo o filme.
A única borla visual que é dada aos bonecos está na expressividade dos rostos, que ainda assim são altamente limitadas em relação ao que é habitual. Mas Lord e Miller, dois rapazes ainda na casa dos 30, que já tinham dado muito bem conta de sim no super-inventivo Chovem Almôndegas, transformam essa aparente prisão num festim de imaginação e de tributo ao universo da Lego - até porque a animação não deixa de ser extraordinária, com o digital a representar o plástico com tal perfeição que apetece agarrar nos bonecos que vemos no ecrã e levá-los para casa.
Mas, como quase sempre, é a qualidade do argumento que faz toda a diferença. A acumulação de camadas de sentido é de tal forma sofisticada que do puto de quatro anos ao cinéfilo de quarenta (tipo... eu) não há quem não encontre ali infindáveis motivos de divertimento - então para quem gosta tanto do primeiro Matrix como eu, as piscadelas de olho não acabam.
E, no final, acabamos por perceber que Lego: O Filme é, sobretudo, um comovente tributo ao poder de imaginação, e àqueles que conseguem fugir ao livro de instruções para criar o seu próprio universo (isto apesar de abundar o merchandise que ensina a fazer com livros de instruções os carros e os aviões que supostamente fogem aos livros de instruções - mas essa é a maravilhosa plasticidade do capitalismo).
A prova de que o filme estava certo, e que a sua mensagem foi muito bem apreendida, é que o Tomás - um Mr. Livro de Instruções por exclência -, mal chegou a casa pôs-se a construir os seus próprios Legos, saídos da sua imaginação. Ao fim do dia, veio orgulhosamente mostrar-me a sua construção. E eu fiquei tão contente com aquilo, que estava capaz de dar um beijinho nas bochechas de Chris Miller e Phil Lord, se os apanhasse a jeito.
Cá está a nave espacial feita pelo Tomás, cujo caos criativo, por ser nele tão raro (ao contrário do Gui), me encheu de satisfação.