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A quantidade de reacções aos postos dos beijos na boca tem sido muito supreendente - olhem ali para baixo, à direita, para a contagem dos posts mais comentados de sempre deste blogue: estão lá os dois -, e é impossível trazer para aqui todos os comentários interessantes já feitos pelos leitores.
Queria, no entanto, chamar a atenção para um acrescento do Dr. Mário Cordeiro, explicando porque é que o beijo na boca é tão diferente de outras manifestações de carinho:
O dar a mão, como se escreveu aqui abaixo, é um argumento que não colhe. Repare: se vir duas pessoas (não interessa agora se são homem e mulher, dois homens ou duas mulheres) de mão dada ou a dar um beijo na face ou um aperto de mão, fica sem saber a sua relação. Podem ser - imagine agora dois homens a beijarem-se na face, para ir buscar um exemplo que, no nosso país, não é tão comum - familiares, pai e filho ou até velhos amigos.
Não consegue descobrir a sua relação - no sul de França e em muitos outros locais os homens beijam-se em público, quando dois amigos se encontram. Agora, aqui ou na China, se vir duas pessoas a dar um beijo na boca, a relação só pode ser uma - a de amantes - porque se entrou numa intimidade que só tem um significado (salvo se for no ecrã de um cinema ou num teatro!). É essa a razão.
E queria também dar conta da partilha da C.S., não porque corrobore a opinião do Dr. Mário, que ele não precisa de guarda-costas, mas por demonstrar a impressionante complexidade das cabeças dos seres humanos.
Sou filha, não mãe, por isso o meu comentário vale o que vale. Sempre fui educada com regras q.b., palmadas no rabo e na cara q.b., puxões de orelha q.b., 'nãos', beijinhos na testa, na cara, na barriga, no "pescocinho delicioso" como dizia o meu pai, levei ataques de cócegas, tomei banhos familiares, recebi massagens para adormecer ou acalmar em pequenina e sempre andei de mão dada com a minha mãe pela rua.
Aos 20 anos encontrei o meu 'príncipe encantado' e sofri e fiz sofrer porque não lhe sabia 'demonstrar carinho e amor'. Após uma ida a um psicólogo/sexólogo percebemos, duas horas depois, que a proximação excessiva, já pouco nítida por causa da adolescência, entre mim e os meus pais (e não sou filha única, se é que a educação difere sendo um ou dois filhos) me estaria a bloquear a maneira de sentir e demonstrar os sentimentos.
Houve um afastamento q.b. dos meus pais para que pudesse dar lugar à minha relação. E agora estou bem amorosamente e amo muito mas mesmo muito os meus pais, e se alguma vez forem para um lar não será porque não os amo, apenas porque quero que tenham um resto de vida confortável e feliz, mas comigo e com a minha irmã sempre por perto :-)
Devem estar a pensar "o que tem a ver isso com o assunto?". Serviu-me de experiência para agora, 4 anos depois, poder 'ajudar' os pais de uma amiga que teve uma depressão assustadora (com risco de suicídio) aos 17 anos. Em tempos foi gozada por dar beijos na boca aos pais, acabou por se mostrar ao mundo cedo demais e agora não entende o sentido da vida.
Acredito a 100% que educar uma criança a quem queremos todo o bem do mundo e mais algum seja difícil, mas pela minha pouquíssima experiência de vida atrevo-me a dizer que "Tudo o que é demais, faz mal". A nós, filhos, e aos que nos querem bem.
Em relação ao meu post anterior sobre várias decisões de tribunais espanhóis que obrigaram pais a pagar a educação dos filhos mesmo sendo maiores de idade (alguns com 30 anos), há dois comentários de leitores que eu gostava de destacar.
Um deles, da simples e nice, já levou pancada com fartura na caixa de comentários, e não é minha atenção fazer o mesmo - só que aquilo que ele diz é importante para aquilo que eu quero dizer:
É a primeira vez, desde que leio este blogue, que não concordo nada com a sua opinião, mas respeito, claro. A diferença entre pais e filhos é que os filhos não escolheram nascer, mas os pais escolheram ter os filhos. Por isso, que remédio têm os pais se não levar com os filhos até ao resto da vida deles. Se não querem isso, simplesmente não façam filhos. Problema resolvido. Se os filhos na idade adulta se tornaram umas bestas, a culpa é dos pais que não souberam dar-lhes a educação que eles mereciam.
O outro comentário é da Teresa A., que alerta para um problema semelhante de dependência, mas no outro extremo da vida:
[Na Alemanha], os filhos são obrigados a pagar os lares de terceira idade ou afins se os pais não tiverem condições para isso. Soa bem, mas, se imaginarem um filho que não tem contacto com o pai/mãe há anos, e que nunca teve ajuda deste(s) - do género de ter de financiar os estudos ele próprio, ter sido deserdado ou posto fora de casa, nunca ter tido ajuda financeira ou outra (por exemplo, tomando conta dos netos) durante a vida, ter construído alguma coisa por si próprio e/ou com ajuda de outras pessoas -, e que é obrigado a usar o seu dinheiro para sustentar a(s) pessoa(s) que nunca o sustentaram a ele, será que cham justo?
O problema do comentário da primeira leitora, para além da desresponsabilização de pessoas maiores de idade, já criticada por outros leitores, é que me parece confundir leis com afectos. E os afectos não se legislam. Nem todos os deveres morais devem traduzir-se em obrigações jurídicas, porque quando assim é estaríamos a permitir uma intromissão absolutamente excessiva na nossa esfera de liberdade individual. Por exemplo, enquanto homem comprometido numa relação amorosa, eu tenho o dever moral de ser fiel à minha companheira - mas os tribunais não me multam se eu for pinar com a vizinha.
Da mesma forma, é óbvio que eu sinto o dever moral (e afectivo) de cuidar dos meus filhos, e às tantas lá terei mesmo (espero que não, espero que não) de lhes estar a dar mesadas até aos 35 anos. Hoje em dia, qualquer pai normal quer que um filho tire um curso, portanto, pelo menos até aos 23 ou 24 anos estará condenado a patrociná-lo. Aliás, os meus pais fizeram isso comigo - eu só comecei a trabalhar depois de terminar o curso, e quando o terminei já tinha 25 anos, porque antes de mudar para Ciências da Comunicação ainda andei dois anos e meio perdido em Engenharia Química.
Mas uma coisa é os pais fazerem isso porque querem - outra, muito diferente, é fazerem isso porque são obrigados. No meu entender, se alguém é maior de idade, é maior de idade para tudo - inclusivamente para se fazer à vida. Ou seja, a um pai não deve ser negado o direito de dizer "já não sustento mais este gajo", mesmo que tenha sido ele a pô-lo no mundo. Essa decisão pode fazer dele um pulha, um pai nojento e um fdp - mas não um alvo de acção judicial, pela simples razão que um tribunal não serve para nos obrigar a ser fixes.
E quanto aos pais idosos e aos lares de terceira idade que a Teresa A. refere? A regra é a mesma. Mas mais sobre isso já a seguir.
Um excelente comentário, a propósito deste post, da Teresa Power:
Diz a Paula no seu comentário que os filhos são todos diferentes, e daí a nossa diferente abordagem com cada um. Eu ia um bocadinho mais longe: nós, pais, também somos diferentes do que éramos há dois, cinco ou dez anos! Nunca gostei do comentário muito frequente: "Nem parece que aquelas duas crianças foram educadas pelo mesmo pai e pela mesma mãe!" Porque, de facto, não foram.
É que, se o nosso crescimento, as nossas discussões, os diferentes pontos de vista que vamos escutando, assimilando, afastando ou aceitando, não nos vão modificando, então que andamos nós a fazer na vida? Eu estou consciente que não estou a educar a Sara, de dois anos, da mesma forma que eduquei o Francisco, agora com quase dezasseis, ou qualquer um dos outros irmãos. Eu mudei. Para melhor, espero! E é porque quero continuar a melhorar, que humildemente vou escutando, vou lendo, vou testando - e vou tendo filhos :)
O meu amigo Hugo Neves - e a leitora Maria João Resende, quase ao mesmo tempo - diz que viu este anúncio aos cereais Cheerios e se lembrou logo de mim. Tomo-o com um elogio. E, tal como nestes dois casos, ou ainda mais do que nesses dois casos, este é um anúncio absolutamente extraordinário, onde o pai é tratado como o maior.
Não percam, porque vale mesmo a pena. "This is how to dad", indeed.
Ah, e tal, coitadinhas das mulheres e dos preconceitos de que são alvo. E os homens, minhas senhoras? O que é que me têm a dizer deste anúncio supostamente sensível de uma empresa de telecomunicações móveis tailandesa chamada DTAC, que nos últimos dias se tornou viral?
À boleia de uma campanha que gostaria de ser muito humanista, e que garante que "a tecnologia nunca substituirá o amor", o que se está a fazer é tratar os papás como anormais e incapazes - uau!, incrível!, o gajo conseguiu largar o telemóvel e pegar no filho ao colo!, que extraordinário!
Em bom tailandês, fuck off.