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Ontem, à hora de deitar, não ganhámos para o susto: a Rita entrou no nosso quarto, fechou a porta, e do alto dos seus dois anos e meio decidiu rodar a chave.
Nós ficámos de fora, ela ficou dentro, e até os nossos telemóveis ficaram do seu lado - nem chamar os bombeiros conseguíamos. A Rita percebeu que tinha feito asneira, ainda tentou rodar a chave para o outro lado, mas não conseguia. Quando deu por si sozinha começou a chorar, cada vez com mais força.
Nós tínhamos uma chave sobresselente, mas não havia forma de ela entrar na fechadura. A chave do lado da Rita não tinha dado a volta completa: ficou virada para cima e do lado de fora não conseguíamos que ela saltasse do canhão de maneira nenhuma. E a Rita cada vez mais desesperada.
Podíamos ir chatear os vizinhos, pedir para chamar os bombeiros ou uma Chaves do Areeiro qualquer, mas a Rita estava a chorar desalmadamente, os três irmãos estavam super-preocupados, e nós não a podíamos deixar uma hora sozinha a berrar daquela maneira.
Portanto, para grandes males, grandes remédios: no feliz reino do contraplacado, três ou quatro pontapés com força chegam perfeitamente para arrombar uma porta moderna. E assim foi.
Lá parti a porta (espero, por todos os santinhos, que a fechadura tenha sobrevivido), e pudemos entrar todos para resgatar a pequena princesa em apuros.
A Rita ficou muito aliviada de nos ver, como imaginam - e prometeu nunca mais rodar a chave (mas, pelo sim, pelo não, acho que vamos fazer desaparecer por uns tempos as chaves das portas de casa, casas de banho incluídas).
Balanço do dia: uma porta a menos, que o Tomás e o Gui decidiram tentar simpaticamente arranjar com... fita-cola.
Com resultados duvidosos.
Mas enfim: passado o susto, eu ganhei imediatamente o estatuto de super-homem doméstico, sobretudo aos olhos do Gui, que repetiu 37 vezes "uau, o papá partiu a porta", como se eu fosse o seu Clark Kent caseiro.
Ele é que estava vestido com o pijama do Homem-Aranha, mas não parava de olhar maravilhado para a façanha do pai. "Uau, o papá partiu a porta!"
Tendo em conta que eu e ele andamos numa fase difícil, se calhar vou ter de começar a arrombar uma porta uma vez por mês para ganhar algum do seu respeito e pôr mais juízo na sua cabeça.
Sai um bocado caro, mas é educativo. E excelente para o moral.
É só para avisar os visitantes cá de casa que as regras para entrar no quarto do Gui, já antes definidas neste post, alteraram-se durante o dia de ontem. Dado nem sempre ser fácil acompanhar a velocidade a que a tecnologia evolui dentro da sua cabeça, eu faço o papel de livro de instruções.
Como se explica neste desenho, afixado na porta e produzido com a sofisticação e o cuidado habituais, não se pode entrar no quarto de qualquer maneira.
A imagem da esquerda significa (pedi-lhe que me traduzisse os gatafunhos) que a Carolina não pode abrir a porta rodadando simplesmente a maçaneta. Ela tem de marcar o código. E que código é esse?
Este código:
Quem tem a sorte de possuir este código super-exclusivo, pode então introduzi-lo no teclado que se segue, sem dúvida uma das grandes criações do maluco cá de casa (atentem só na pachorra):
Depois de introduzido o código, basta carregar no botão vermelho.
Que botão vermelho? Este botão vermelho:
E pronto, é isto. Se nos vierem visitar, já sabem.
Para entrar no quarto do Gui, actualmente é indispensável executar as seguintes operações:
1. Dirigir-se ao objecto A - um mini-gravador/reprodutor digital em forma de relógio que vinha a acompanhar umas sapatilhas Geox -, proferir a palavra-passe "Guilherme" e carregar num botão para ouvir "Guilherme" de volta.
2. Após escutar "Guilherme" (antes disso não funciona), dirigir-se ao objecto B, um botão vermelho oriundo não se sabe de onde, e pressionar com força.
3. Simplesmente abrir a porta e entrar no quarto deixou de ser permitido desde as 20 horas do passado dia 1.
4. Todas as infracções serão punidas com mais uma investida desvairada aos rolos de fita-cola caseiros.
O austríaco Klemens Torggler tem andado a trabalhar em portas que se movem através da rotação de dois quadrados. Mas agora parece ter finalmente chegado a um modelo que junta estética, eficácia e aquele toquezinho de sci-fi que nos faz sentir modernos e pensar "porque é que ninguém se lembrou disto antes?".
Imagino que esta Evolution Door seja caríssima, e provavelmente nem sequer cumpre algumas daquelas funções básicas para as quais as portas foram criadas, tipo não deixar entrar o frio, diminuir o ruído, e tal. Agora, que tem uma grande pinta, tem. E que eu não me importava nada de ter uma cá em casa, não importava. Vejam o vídeo: