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O tabu da amamentação #3

por João Miguel Tavares, em 19.11.14

Queria apenas acrescentar uma nota em relação ao já vasto debate sobre a questão da amamentação (aqui e aqui), que muito me tem surpreendido. Até porque, a meu ver, faltam opiniões de homens, que se têm envergonhado de participar, talvez por acharem que isto não é com eles.

 

Ora, eu sou daqueles que sempre preferiu ver a excelentíssima esposa amamentar com algum recato, por manifestas dificuldades em olhar para as suas mamas - ainda que apenas por três, seis ou nove meses - exclusivamente como um apêndice alimentar ao serviço de bebé. Aliás, muitos pais têm uma relação complicada com os filhos recém-nascidos, e existe até com frequência uma espécie de ciúme manhoso, em boa parte relacionado com a diminuição drástica da atenção da mamã para com o papá.

 

Aconteceu comigo quando nasceu a Carolina, e embora os pais não tenham quase nunca coragem de o verbalizar, existe efectivamente aquela sensação do "e se tirasses as mãos e a boca do meu brinquedo, ó desdentado!" A amamentação é, de certa forma, a prova definitiva da total perta de exclusividade - um conceito que é obviamente importantíssimo num casal monogâmico. Não sei se os vossos maridos alguma vez vos fizeram esta conversa, ou se sou eu que sou particularmente badalhoco, mas, de facto, senti tudo isto.

 

Dito isto, é aqui que alguns (ou melhor: algumas) dão um salto que me parece ilegítimo: o facto de eu preferir o recato, ou de me poder sentir desconfortável se uma amiga está alegremente a amamentar ao pé de mim - porque, em última análise, sou incapaz de des-sexualizar mamas -, não significa que eu exija o recato ou que me passe pela cabeça fazer qualquer espécie de observação em relação à pessoa que amamenta ao meu lado.

 

A civilização é isso: sermos capaz de combater os nossos próprios preconceitos. Podemos continuar a tê-los dentro de nós, mas não vamos tentar impô-los - ou sequer justificá-los - à humanidade. Ou seja: parece-me evidente que uma mulher tem todo o direito de alimentar o seu filho onde e quando lhe apetecer. Se alguém se sentir desconfortável - como eu próprio por vezes me sinto - azarucho: que vire a cara ou feche os olhos. Porque o direito daquela mulher a responder às necessidades do seu bebé obviamente se sobrepõe ao meu desconforto.

 

Acho que se aceitarmos isto encontramos com mais facilidade uma plataforma de entendimento. Eu prefiro o recato. Mas não me passa pela cabeça exigi-lo a uma mãe que está a dar de comer à sua criança.

 

Breastfeeding-Cartoon02.jpg

 

 

publicado às 09:00


Like a girl

por João Miguel Tavares, em 16.07.14

Uma grande resposta da Rita ao meu post anterior:

 

publicado às 12:35


Crianças não permitidas #4

por João Miguel Tavares, em 03.04.14

LA-C, nos comentários a este post, aconselha-me a falar menos sobre o tema do "child free":

 

Se se aceita que as crianças são pessoas de corpo inteiro com os mesmos direitos das outras pessoas, então estas proibições estão exactamente ao mesmo nível de proibir ciganos, negros, ou portugueses, como uma minha professora de liceu viu num parque na Suíça há cerca de 20 anos.

 

E os argumentos são semelhantes aos que são dados para as criancinhas. Por exemplo, no caso dos portugueses era porque eles muitas vezes deixavam o local do piquenique bastante sujo.


Evidentemente, o que se deve proibir é o lixo, as sardinhadas, o barulho, as correrias, etc., e não as crianças, ciganos, portugueses, etc.

 

Tu escreveres tanto sobre o assunto estás a dar espaço para que isto seja sujeito a debate e penso que estás errado. O racismo e a xenofobia combatem-se, não se debatem como se o outro lado tivesse argumentos decentes para dar. Aqui é o mesmo.

 

O argumento é bom, mas que as pessoas se sentem motivadas a discutir este tema, sentem: o recorde de comentários para um único post foi ontem largamente batido.

 

A minha questão é que, ao contrário do racismo e da xenofobia, não me parece que as pessoas estejam ainda devidamente sensibilizadas para esta pedofobia em estado larvar, como se vê pela quantidade de gente que acha que haver muitos hotéis ao lado que deixam entrar crianças é suficiente para resolver a questão. Este é um dos casos em que a lei está mais à frente do que certas mentalidades, e é bom alertar para isso.

 

publicado às 08:56



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