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Nos últimos dias, os vírus da época fizeram muitos estragos cá por casa. À conta deles, o Gui teve que faltar à escola. Como eu passo todo o dia no hospital, num desses dias insisti com ele para que escolhesse um livro que gostasse muito, fizesse uma cópia de uma página e treinasse a leitura. Combinei com ele que o ouviria ler antes de dormir.
À noite, quando cheguei a casa, ele pegou-me logo na mão e mostrou-me o seu árduo trabalho do dia, que me garantiu ter sido feito com muita dedicação, apesar de se sentir muito doentinho.
E o seu trabalho era este:
Fiquei um bocado estonteada a olhar para o caderno, sem perceber nada do que era aquilo. Mas que raio de gatafunhos eram aqueles?!? Palavras em inglês? Números esquisitos? Nomes incompreensíveis a saltar de linha em linha?
Resolvi não me descoser logo, pois o Gui continuava ao meu lado de sorriso escancarado, muito orgulhoso e expectante.
Até que olhei para a caixa que estava mesmo ao lado do caderno e comecei a encontrar algumas semelhanças com a cópia do Gui...
Claro! Qual livro, qual quê!
Para o Gui, nada melhor do que copiar todas as palavras da caixa do seu adorado quadricóptero (o excelentíssimo esposo está a querer iniciá-lo no mundo dos drones, provavelmente para em breve poder começar a espiar as vizinhas), com o qual ele não se cansa de brincar, mas que o papá só o deixa utilizar quando está ao seu lado.
Tantas vezes o Gui olha para a caixa, a namorá-la, que a achou perfeita para a cópia que lhe foi exigida. A criatividade do Gui continua imparável. Tal como a sua resistência em fazer banalmente as coisas mais banais.