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Os bonecos Reborn #2

por João Miguel Tavares, em 27.02.14
A propósito dos bonecos Reborn, a Ana Rita Marques deixou o seguinte comentário, que decidi trazer para aqui em nome do contraditório:

"Eu adoro a arte reborn. Sempre gostei de bonecas, em especial de bebés (os conhecidos "chorões"), por isso ainda gosto mais de bebés reborn por terem uma aparência e estatura tão próxima da realidade. Felizmente não tenho nenhuma carência afectiva: sou casada e mãe de um menino de 4 anos. Tenho uma vida plenamente normal. Gosto de bebés reborn assim como poderia gostar de esculturas, pinturas ou de outra arte. Não me considero uma coleccionadora mas tenho 2 bebés reborn que estimo, mas não deixam de ser bonecos. Há quem coleccione Barbies (ainda há pouco tempo apareceu na TV um senhor que tinha mais de 5000 em casa), automóveis pequeninos, soldados de chumbo, chapéus, luvas...enfim milhares de coisas diferentes. É pura ignorância colocar todos os apreciadores da arte Reborn no "mesmo saco". A grande parte dos coleccionadores de bebés reborn nada tem haver com aqueles que têm problemas afectivos mal resolvidos. São somente apreciadores de arte."

PS: Até regressar de Paris, não contem com links nem itálicos nos textos. Estou com o iPad, que só me permite edição em html. E eu, infelizmente, faltei às aulas de html.

publicado às 15:41


Os bonecos Reborn

por João Miguel Tavares, em 26.02.14

 

Em Setembro do ano passado eu recortei uma dupla página do Diário de Notícias intitulada "Bonecos tratados como bebés de verdade" e guardeia-a no meu arquivo (ou seja, em cima da mesa da biblioteca). Dizia o pós-título dessa reportagem: "Os Reborn são bonecos que em tudo se parecem aos bebés verdadeiros e que são muitas vezes tratados como tal. Custam mais de 300 euros e são considerados obras de arte. Mulheres de meia idade são as que mais compram."

 

A minha ideia era falar sobre isso no Pais de Quatro, mas o tempo foi passando e o recorte foi ficando debaixo de uma pilha de livros e de outros recortes. Até que ontem o Público fez uma reportagem sobre o tema, e o assunto voltou à baila. A reportagem vem acompanhada de um vídeo, onde uma coleccionadora/ criadora de Reborns fala sobre o tema. Vale a pena vê-lo:

 

 

A santa Wikipédia, que tudo sabe, fala sobre isso, e enquadra historicamente o fenómeno. Lá se diz que esta é uma tendência que teve o seu início na década de 90, e que hoje tem um verdadeiro culto mundial. Reborn não é uma marca. O que os criadores fazem é isto: pegam em bonecas de vinil pré-existentes e personalizam-nas, através de processos demorados, em que se vão acrescentando camadas de tintas, cabelos e até novos olhos.

 

Há kits próprios para cada um criar o seu próprio boneco, e a esse processo de transformação chama-se - imaginem - newborning, que em tempos já foi um termo religioso, e que pelos vistos agora é aplicado a bonecas. Esta moldagem permite aproximar alguns bonecos das feições de bebés verdadeiros, quase à maneira de um museu de cera. O nível de virtuosismo e realismo é de tal modo impressionante que já aconteceu a polícia ter sido chamada por causa de reborns deixados sozinhos em carros.

 

 

 

Claro que eu olho para isto e, talvez por defeito cinéfilo, acho logo à partida tudo ligeiramente assustador. Não consigo deixar de ver nestes bonecos a versão delicodoce do Chucky, que tantos sustos me pregou no final dos anos 80. Receio bem que não conseguisse adormecer com eles ao lado.

 

 

Mas enfim, quem decide investir nos bonecos Reborn não está com certeza muito preocupado com o Chucky. Eles são quase sempre utilizados como substitutos para o bebé que nunca se teve, ou se teve e se perdeu (parece que há mulheres que perderam filhos e que usam estes bonecos para conseguirem fazer o luto), ou simplesmente porque o bebé cresceu, já é um puto de pêlo na venta, e de vez em quando ainda bate aquela saudade. Como seria de esperar, os especialistas dividem-se acerca da utilidade destes bonecos e acerca daquilo que eles dizem sobre quem os trata como se fossem bebés verdadeiros e os baptiza como tal.

 

Na referida reportagem do DN, Maria do Rosário, 30 anos, mãe de dois rapazes gémeos, afirma o seguinte: "O meu sonho era ter uma menina. A Carminho, a primeira bebé Reborn que tive, é uma aproximação ao que eram os meus dois filhos em bebés, tanto nas feições como no tamanho. Transporto para os três o afecto e o amor que nunca pude dar a uma menina." Um pouco spooky.

 

Na net encontrei uma outra reportagem televisivia sobre o tema, vinda do Brasil, onde neste caso é uma adolescente que tem um Reborn:

 

 

A mãe sente necessidade de garantir que a filha é uma miúda "normal", mas eu ficaria mais descansado se ela não sentisse ao mesmo tempo tanta necessidade de ser sua porta-voz. Ou seja, parecem existir sempre questões relacionadas com uma certa incapacidade de desvinculação. Ser pai e mãe não é só abraçar - é também abrir os braços e deixar ir.

 

Sem querer armar-me em psicanalista chunga, parece evidente que estes bonecos são substitutos para quem tem manifestas dificuldades nesse "deixar ir", até porque o abandono do ninho (ou o simples crescimento dos filhos) vem invariavelmente acompanhado de uma certa solidão, que muita gente não sabe gerir.

 

Claro que se os Reborn servirem de consolo para essas pessoas, e lhes derem algum equilíbrio, nada contra. Talvez possa até ser terapêutico. Mas, de facto, já vi modas mais saudáveis. E que eu não consigo deixar de pensar no Chucky, isso não consigo.

 

publicado às 11:12



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