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- Tira a chucha da boca, Rita. A chucha é só para dormir.
- (...)
- Tira a chucha, da boca, Rita. Tu és bebé?
- (...)
- Rita! Tira a chucha da boca! Tu não és crescida?
- Sou uma bebé crescida.
Ontem, à hora de deitar, não ganhámos para o susto: a Rita entrou no nosso quarto, fechou a porta, e do alto dos seus dois anos e meio decidiu rodar a chave.
Nós ficámos de fora, ela ficou dentro, e até os nossos telemóveis ficaram do seu lado - nem chamar os bombeiros conseguíamos. A Rita percebeu que tinha feito asneira, ainda tentou rodar a chave para o outro lado, mas não conseguia. Quando deu por si sozinha começou a chorar, cada vez com mais força.
Nós tínhamos uma chave sobresselente, mas não havia forma de ela entrar na fechadura. A chave do lado da Rita não tinha dado a volta completa: ficou virada para cima e do lado de fora não conseguíamos que ela saltasse do canhão de maneira nenhuma. E a Rita cada vez mais desesperada.
Podíamos ir chatear os vizinhos, pedir para chamar os bombeiros ou uma Chaves do Areeiro qualquer, mas a Rita estava a chorar desalmadamente, os três irmãos estavam super-preocupados, e nós não a podíamos deixar uma hora sozinha a berrar daquela maneira.
Portanto, para grandes males, grandes remédios: no feliz reino do contraplacado, três ou quatro pontapés com força chegam perfeitamente para arrombar uma porta moderna. E assim foi.
Lá parti a porta (espero, por todos os santinhos, que a fechadura tenha sobrevivido), e pudemos entrar todos para resgatar a pequena princesa em apuros.
A Rita ficou muito aliviada de nos ver, como imaginam - e prometeu nunca mais rodar a chave (mas, pelo sim, pelo não, acho que vamos fazer desaparecer por uns tempos as chaves das portas de casa, casas de banho incluídas).
Balanço do dia: uma porta a menos, que o Tomás e o Gui decidiram tentar simpaticamente arranjar com... fita-cola.
Com resultados duvidosos.
Mas enfim: passado o susto, eu ganhei imediatamente o estatuto de super-homem doméstico, sobretudo aos olhos do Gui, que repetiu 37 vezes "uau, o papá partiu a porta", como se eu fosse o seu Clark Kent caseiro.
Ele é que estava vestido com o pijama do Homem-Aranha, mas não parava de olhar maravilhado para a façanha do pai. "Uau, o papá partiu a porta!"
Tendo em conta que eu e ele andamos numa fase difícil, se calhar vou ter de começar a arrombar uma porta uma vez por mês para ganhar algum do seu respeito e pôr mais juízo na sua cabeça.
Sai um bocado caro, mas é educativo. E excelente para o moral.
A Carolina e a Rita dormem no mesmo o quarto, e de vez em quando, ao final do dia, a Carolina fecha-se com a Rita, senta-a na cama dela e põe-se-lhe a mostrar coisas no tablet, que a Rita analisa com o maior interesse.
Ontem entrei no quarto quando elas estavam a praticar esta intensa actividade, e a Rita olhou para mim com ar zangado. E de repente:
Fóia! Fóia! Só mininas!
E eu: oi?
Fóia! Só mininas!
A Carolina, que é quase uma senhora, já exige que o pai bata à porta para entrar no seu quarto - sendo que para a mamãzinha é infinitamente mais tolerante. E agora até a catraia de dois anos acha que a minha condição de macho é impeditiva de frequentar os seus aposentos.
Já se cavam trincheiras nesta casa. Está oficialmente aberta a guerra dos sexos.
Ainda não tenho cá por casa nem cão nem gato, mas nos últimos tempos apareceu um papagaio:
- Rita, sai já de cima dessa mesa!
- Mesa.
- Olha que vais cair.
- Cair.
- Queres fazer um dodói?
- Dodói.
- Vamos lá, sai.
- Sai.
- Sabes que és muito teimosa?
- Mosa.
Embora casmurro, gosto imenso do meu novo papagaio.
Este blogue tem estado meio comatoso nos últimos tempos, mas é por boas razões: quanto mais comatoso está o blogue, mais vivos estamos nós. E os últimos 15 dias têm sido um rodopio familiar constante, com eles (os miúdos) de férias e nós (os pais) de semi-férias, sempre a rodar pelo país.
Nessas condições nem sempre é fácil actualizar o blogue, dada a minha dificuldade em postar a partir do iPad, onde é muito difícil formatar textos e fazer upload de fotos em sítios onde a net só passa de raspão. Mas, para que ninguém se queixe, fazemos como nos episódios das séries em que é preciso recuperar o que não vimos: um fast-forward do que se foi passando nas últimas duas semanas.
Nós ficámos mais ou menos aqui, nos anos da Ritinha, não foi? Mas essa gravação foi feita na manhã de dia 30, em Lisboa. À tarde, a Rita estava a celebrar o seu aniversário no Algarve. À chegada, os avós (e o Tomás, que já lá estava) tinham decorado impecavelmente o seu quarto. Olhem só pró estilo:
E depois, a Ritinha teve ainda direito a bolo de anos e a um novo parabéns a você na praia do Inatel, em Albufeira. Não é todos os dias:
Devo dizer que a Rita gostou especialmente de arrancar à dentada a cabeça dos três porquinhos do seu bolo. Fiquei um bocadinho assustado.
E por falar em cabeça: os dias de praia foram curtos, mas muito divertidos. Contudo, a cabeça dos rapazes, nos dias que correm, só pensa mesmo nisto:
Bola, bola, bola. Há dias consegui pôr o Tomás e o Gui a chorar em simultâneo, quais Madalenas arrependidas, com uma única frase: "Vocês estão a portar-se muito mal e já não vamos jogar para o campo." Mal disse isto, um mega-"buááááá" em cânone. Eram eles a chorar perdidamente e eu a rir-me com a extraordinária eficácia da minha ameaça. A brigada anti-palmada pode rejubilar: "não há bola" tornou-se muito mais eficiente do que uma nalgada no rabo.
Mas houve mais, além da celebração do meu 41º aniverário na Portagem, ali mesmo no sopé de Marvão. A Teresa falou disso aqui.
Como não poderia deixar de ser, neste intervalo de tempo o Gui continuou a criar novas e mui estranhas pulseiras, uma das quais para adornar uma garrafa de água da Memi e da Zé nos Montes da Senhora.
E o Tomás elevou a sua obsessão futebolística a um novo patamar:
Também tentámos salvar uma pequena rola que caiu do seu ninho, para grande comoção familiar.
E coleccionámos os nossos nomes nas latas de Coca-Cola. Só a pobre mamã é que ficou sem nada: não conseguimos arranjar uma Teresa em lado nenhum. Se alguém tiver uma a mais, eu troco por 47 Joões.
E pronto, é isto. Vocês não fazem ideia, mas nós temo-nos divertido à brava, ganhando energias para o difícil ano lectivo que se aproxima. Mas isso é conversa que fica para depois.
Este Verão os nossos planos de férias foram gorados por um vírus insubordinado, que abancou estrondosamente no nosso Gui e depois ainda resolveu dar umas piruetas nos linfócitos do Tomás (que eficazmente lhe deram um chega-para-lá).
Resultado: ficámos em família no estaleiro, rodeados por frascos de xaropes, mudas de roupas suadas, comidas frescas e fáceis de engolir (tem sido um fartar vilanagem de gelados) e banhos tépidos a toda a hora. Ainda houve quem refilasse e se lembrasse de pedir asilo aos avós, mas as nossas férias em família são tão poucas que achámos justo os manos partilharem o bom e o mau em conjunto.
Entretanto, aproveitámos o tempo para fazer coisas que só com paciência e sossego se conseguem pôr em prática. Entre as várias empreitadas houve uma que ainda não foi completamente bem sucedida, mas que nos tem tomado muitas horas e enfeitado generosamente o chão da casa.
Conseguem adivinhar qual é, não é verdade? Uma pista para os mais distraídos: o João está a adorar.
Quem passa aqui pelo blogue regularmente já terá reparado, mas é só para informar que o PD4 está em modo férias.
Falar de criancinhas é muito giro quando elas estão na escola - quando estão cá em casa é uma trabalheira.
Ainda por cima, nos últimos tempos levamos boa parte do dia de esfregona na mão, a apanhar dejectos do meio do chão. Ainda não temos cão, é certo, mas a Teresa achou que era hora de tirar a fralda à Ritinha, o que vai dar mais ou menos ao mesmo.
Peçam-lhe para ela dar mais pormenores, que é muito giro e educativo.
A Ritinha já nasceu muito fora dos meus planos de paternidade. Eu e a Teresa sempre tínhamos falado em ter três filhos. E quando ela nasceu já tinham acabado cá em casa as mudanças de fraldas, o leitinho à noite, as obsessões com a chucha, os banhos vigiados, a necessidade de os vestir, e todas essas coisas que separam a total dependência da libertadora autonomia.
Por causa da Rita, foi preciso começar tudo de novo. Mas claro: o que tem de ser tem muita força, e a coisa tem-se levado, até com mais facilidade do que em relação aos outros três. Mas há uma coisa da qual eu me pensava ter libertado para todo o sempre - o Noddy. E subitamente, eis que a Ritinha descobre o Noddy, e vem com os DVDs, e pede para ver os DVDs, e eu tenho de mamar outra vez com o Sonso e o Mafarrico e o "Abram alas para o Noddy", e aquela senhora a fazer uma irritantíssima voz de bebé. Nãããããããããããooooooo!!!
Que caraças. Eu acreditava já estar tão para além disso. A sério: eu troco três mudas de fraldas malcheirosas por um episódio do Noddy. Alguém quer fazer negócio?