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Ainda a propósito das minhas dúvidas existenciais caninas, a leitora Emília Castilho enviou recentemente um testemunho pessoal tão bonito, útil e ponderado, que eu decidi resgatá-lo da caixa de comentários (sem desprimor para todos os outros magníficos conselhos e sugestões que nos têm oferecido, e que já ultrapassaram as 100 partilhas só neste blogue - o meu muito obrigado a todos).
Aqui vai ele, que é boa leitura para começar um fim-de-semana:
Sou mãe de três filhos e dona de seis lindas cadelas e um lindo cão. Como sou criadora de Goldens, tenho três, tenho também duas Cocker Spaniel e depois tenho uma cadela e um cão que recolhi da rua, bem à porta de casa. Há dois anos morreu-me outra cadela que recolhi da rua e que esteve cá em casa 10 anos. Como vê, experiência não me falta. Não, os meus cães não estão presos, andam pelo quintal mas também andam cá por casa, em alegre e sã convivência e nunca tive um único problema (quando vivi num apartamento tinha três cães).
O principal fator para se ter um cão é querer realmente ter um cão, gostar e estar preparado para cuidar dele... sim, dá algum trabalho, principalmente se for um cachorrinho.
Comprar ou adotar também deve ser uma escolha da família. Visto que tem um apartamento, existem, de facto, raças de cães mais apropriadas, porque os cães tal como as pessoas também possuem a sua personalidade, daí que se deva investigar com calma as características de cada raça, de modo a fazer a escolha mais acertada para os donos. Quanto aos adotados... só posso falar da minha experiência, são absolutamente fabulosos, pelo menos os meus, são do mais agradecido que existe.
Claro que, por vezes, podem trazer com eles algumas marcas psicológicas. Mas com paciência, amor e carinho, conseguem ultrapassar-se. Dou-lhe o exemplo do meu Luckie. Quando o encontrei estava à porta de minha casa, não andava nada de nada. Com a ajuda do meu filho, improvisei uma maca e fui buscá-lo. Fui à minha veterinária, que após um longo exame não lhe detetou ossos partidos ou qualquer problema neurológico. Deu-me vitaminas para lhe dar e mandou que aguardássemos.
Como deve imaginar, tive que dar muito banho àquele cão, porque não se conseguia pôr de pé para fazer necessidades fisiológicas, logo, sujava-se frequentemente. Por duas vezes, abriu a boca na minha direção, mas eu compreendi-o, não o fez com ar agressivo (sim, é preciso entender a linguagem dos cães), só me estava a dizer "estou mal, estou assustado, tem cuidado". Resumindo, ao fim de três semanas voltou a andar, tudo porque teve comida e vitaminas.
Era um cão que não sabia o que era brincar, hoje já sabe. Era um cão extremamente assustado, pessoas que vinham cá a casa e que para ele eram desconhecidas, nem deixava que lhe tocassem. Hoje em dia, ao fim de algum tempo, já se chega e se deixa tocar. Agora vem ter connosco à sala, gosta do sofazinho e já se deixa dormir de barriga para o ar, o que num cão significa que está completamente à vontade, e passa a vida a fazer-se aos nossos mimos... esperto.
Ou seja, um cão é, de facto, aquilo que nós fazemos dele, nunca esquecendo que o seu instinto animal sempre estará lá. Além disso, crianças que crescem com cães, crescem de maneira diferente, não tenho a menor dúvida.
Para terminar, digo-lhe como é que é a rotina cá em casa: às segundas é o meu filho que dá de comer aos cães; às terças outra das minhas filhas; e às quartas a outra filha; e depois quinta volta ao primeiro filho e assim sucessivamente; aos domingos é o pai e a mãe. Para passear com eles fora de casa, muitas vezes já são eles que se oferecem, nem é preciso obrigar ou pedir.
Isto é outro fator muito importante: dividir as tarefas do cuidado do cão pelas crianças, atendendo, como é óbvio, à sua idade. Como vê, poderia ficar aqui a conversar sobre cães o resto do dia. Se precisar de tirar mais alguma dúvida, terei todo o gosto em ajudá-lo, e se quiser vir até aqui acima (embora eu seja da Covilhã, vivo perto de Viseu) adotar um cão, terei todo o gosto em ajudar a sua família. Conheço um canil com vários cães a precisar de dono.
Atenciosamente,
Emília Castilho