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A propósito da plástica radical de Renée Zellweger, a jornalista Jennifer Gerson Uffalussy escreve um texto no Guardian em sua defesa, cujo título é suficientemente esclarecedor:
Nothing is wrong with Renee Zellweger's face. There's something wrong with us
O seu comentário vale a pena ser lido, e basicamente chama hipócrita a uma sociedade e a um sistema que deixa sem trabalho as actrizes que envelhecem, ou que as critica mal vislumbra um vestígio de celulite ou de barriga (o ridículo caso Jessica Athayde é uma boa defesa deste argumento), ao mesmo tempo que goza com elas e as tritura na praça pública se se atrevem a fazer plásticas.
Suponho que nos meios do cinema e da moda esse seja um argumento que faça sentido. Mas aqui no PD4 sempre nos honrámos de elogiar as marcas do tempo e sempre elogiámos essa extraordinária arte que é saber envelhecer.
Por isso, apesar da passagem do tempo ser cruel para todos nós, e sobretudo para as actrizes cuja beleza física é parte fundamental das suas carreiras, a verdade é que a transformação do corpo num campo de experiências plásticas que procuram perpetuar, de forma cada vez mais radical, uma juventude que já não existe, faz-me, de facto, muita impressão.
Além disso, parece-me que Jennifer Gerson Uffalussy passa ao lado do fundamental. Porque se a mim me fazem realmente muita impressão as cirurgias plásticas de Meg Ryan (logo ela...)
ou da própria Nicole Kidman,
é porque em boa parte porque estamos a falar de actrizes que fazem parte de um imaginário cinéfilo e sexual (as coisas misturam-se) que nos é muito caro. Contudo, manda o rigor admitir que o caso de Renée Zellweger é muito diferente.
Diante de nós não está alguém que procurou apenas rejuvenescer - está uma outra pessoa (bonita, por sinal), que nós não reconheceríamos se passasse ao nosso lado na rua.
Claro que podemos sempre questionar a nossa legitimidade para falar com tanta facilidade, e tanta crueldade, sobre uma pessoa que não conhecemos, só porque ela é actriz - no entanto, esse é um outro assunto (aliás, bastante discutível, diria eu).
No entanto, esta ideia de termos de ser outros para permanecermos jovens é, obviamente, chocante, e não me parece que haja aí qualquer espécie de hipocrisia. O que nós vemos nestas fotos é a mutilação de uma identidade. E perante ela, reagimos como reagiríamos diante de qualquer mutilação - com horror. E com pena.