Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ontem a Armanda teria feito 45 anos, se ainda estivesse entre nós. A sua partida recente permanece muito presente no quotidiano da nossa família, e não há dia em que os miúdos não falem na tia Armanda.
Na primeira oração da noite que fizemos após a sua morte, eles ficaram muito baralhados. Diariamente, num dos momentos da oração, costumamos pedir protecção para as pessoas que conhecemos e que têm algum tipo de sofrimento, e mandar um beijinho para aqueles que "gostam muito de nós" e estão agora junto de Deus, referindo os seus nomes, numa espécie de ritual em que os miúdos não deixam esquecido ninguém que lhes tenha passado pelo coração. Todos são nomeados, e eles ficam verdadeiramente indignados se me esqueço de mencionar alguém.
Mas, pela primeira vez, com a morte da tia Armanda, eles tiveram consciência de que uma pessoa que pertencia há vários anos ao grupo pelas quais pedíamos protecção passou para o grupo a quem mandamos beijinhos. Muitas perguntas surgiram. Será que não rezámos tanto quanto a tia merecia? Como é que a tia recebe agora os nossos beijinhos?
Com simplicidade, falei-lhes de conceitos que os cristãos chamam de intercessão, acção de graças e comunhão dos santos, e no final decidimos que por enquanto era melhor reservar um lugar especial para a tia na oração e não a incluir nos grupos a que já nos tínhamos habituado.
Ontem, lembrei-me disto tudo quando, ao fim da tarde, em vez do habitual telefonema para lhe desejar um feliz aniversário, decidi cantar-lhe os parabéns durante a Missa. E também quando o Tomás, nessa manhã, com a sua sensibilidade tão especial, me pediu para vestir uma camisola de lã, para se lembrar da tia.
A Armanda costumava brincar com um dos seus sintomas da doença, que fazia com que tivesse frio o tempo todo e andasse sempre muito agasalhada. O próprio Gui costuma contar a quem o ouve que a tia não morreu por ser velhinha, mas sim por ser friorenta (só espero que os seus coleguinhas não comecem a sofrer de afrontamentos nocturnos após ouvirem estas conversas!).
Depois de vestir a camisola de lã, o Tomás decretou ainda que o Monstrinho (o seu peluche favorito) passaria a fazer anos a 21 de Janeiro. Podem ser apenas camisolas, peluches e canções. Mas é assim que a Armanda continua a viver na nossa memória e na memória dos nossos filhos, e é através destes pequenos gestos que trazemos de volta para o pé de nós quem partiu demasiado cedo.