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Um lugar especial para a tia

por Teresa Mendonça, em 22.01.14

Ontem a Armanda teria feito 45 anos, se ainda estivesse entre nós. A sua partida recente permanece muito presente no quotidiano da nossa família, e não há dia em que os miúdos não falem na tia Armanda.

 

Na primeira oração da noite que fizemos após a sua morte, eles ficaram muito baralhados. Diariamente, num dos momentos da oração, costumamos pedir protecção para as pessoas que conhecemos e que têm algum tipo de sofrimento, e mandar um beijinho para aqueles que "gostam muito de nós" e estão agora junto de Deus, referindo os seus nomes, numa espécie de ritual em que os miúdos não deixam esquecido ninguém que lhes tenha passado pelo coração. Todos são nomeados, e eles ficam verdadeiramente indignados se me esqueço de mencionar alguém.

 

Mas, pela primeira vez, com a morte da tia Armanda, eles tiveram consciência de que uma pessoa que pertencia há vários anos ao grupo pelas quais pedíamos protecção passou para o grupo a quem mandamos beijinhos. Muitas perguntas surgiram. Será que não rezámos tanto quanto a tia merecia? Como é que a tia recebe agora os nossos beijinhos?

 

Com simplicidade, falei-lhes de conceitos que os cristãos chamam de intercessão, acção de graças e comunhão dos santos, e no final decidimos que por enquanto era melhor reservar um lugar especial para a tia na oração e não a incluir nos grupos a que já nos tínhamos habituado.

 

Ontem, lembrei-me disto tudo quando, ao fim da tarde, em vez do habitual telefonema para lhe desejar um feliz aniversário, decidi cantar-lhe os parabéns durante a Missa. E também quando o Tomás, nessa manhã, com a sua sensibilidade tão especial, me pediu para vestir uma camisola de lã, para se lembrar da tia.

 

A Armanda costumava brincar com um dos seus sintomas da doença, que fazia com que tivesse frio o tempo todo e andasse sempre muito agasalhada. O próprio Gui costuma contar a quem o ouve que a tia não morreu por ser velhinha, mas sim por ser friorenta (só espero que os seus coleguinhas não comecem a sofrer de afrontamentos nocturnos após ouvirem estas conversas!).

 

Depois de vestir a camisola de lã, o Tomás decretou ainda que o Monstrinho (o seu peluche favorito) passaria a fazer anos a 21 de Janeiro. Podem ser apenas camisolas, peluches e canções. Mas é assim que a Armanda continua a viver na nossa memória e na memória dos nossos filhos, e é através destes pequenos gestos que trazemos de volta para o pé de nós quem partiu demasiado cedo.

 

publicado às 14:08


11 comentários

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De Sandra André a 24.01.2014 às 16:17

Teresa, li ontem na Sábado um artigo sobre o vosso blog que sigo há algum tempo e fiquei surpreendidíssima por perceber que a Teresa eras tu... minha colega de faculdade... O mundo é muito pequenino. Fico feliz por saber-te bem e feliz.... Beijinhos

Sandra André
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De Teresa Mendonça a 28.01.2014 às 10:55

Olá Sandra. Que giro encontrarmo-nos aqui. Um grande beijinho para ti. Espero que nos possamos ver, face a face, em breve por uma feliz coincidência, como esta.
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De Anónimo a 23.01.2014 às 18:18

LINDO
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De TC a 23.01.2014 às 09:42

São, muitas vezes, os pequenos gestos a que nos agarramos que nos ajudam a passar os dias (ainda) mais longos, que de quando em quando surgem quando perdemos alguém tão precocemente.
No meu caso, e tendo perdido um grande amigo, todos os anos sei que haverá um pequeno jantar no dia do seu aniversário onde, praticamente não se falando no assunto, nos apoiamos uns aos outros na esperança de tornar o dia mais leve. Estamos juntos por ele e por nós, e é assim que ele continua connosco, no coração todos os dias, e naquela mesa, ano após ano.
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De Maria Calais Pedro a 22.01.2014 às 23:47

Tão bonito o que escreveste, Teresa! Acredito que assim ficarão todos mais em paz e lembrarão sempre a tia Armanda com todo esse carinho. Força aí desse lado e muitas camisolas de lã para que ninguém fique com frio...
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De umagajalight a 22.01.2014 às 19:05

Que forma feliz de lembrarem a tia :)
Muita força para a família!
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De Márcia a 22.01.2014 às 18:19

Encontrou a forma mais simples e brilhante de explicar às crianças a ausência dos entes queridos que infelizmente já partiram sem as magoar, entristecer ou traumatizar. Omitir ou mentir não é a melhor opção, mesmo sendo crianças e estas situações serem confusas, têm o direito e merecem saber a verdade. É genial. Obrigado.
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De Olívia a 22.01.2014 às 17:04

Desde já quero manifestar a minha gratidão pelo testemunho e para sabedoria com que mostram aos filhos o quanto é importante viver em família e prestar homenagem aos que já partiram.
Eu sou do género mãe cobarde, daquelas que diz que o hamster fugiu da gaiola para não dizer que morreu, pior das que deixou de falar na bisavó depois da sua partida com medo de magoar as crianças... foram elas que me fizeram ver o quanto estava errada... quando ouvi a mais nova dizer olha ali está a avó! (Na televisão passavam imagens de Fátima) a avó está ali com a nossa Senhora!!! Então foi o que alguém lhe disse... e eu lá tentei explicar que era apenas uma imagem, num sítio chamado Fátima. Ela não se convenceu e eu pensei: porque é que eu não lhes falei logo nisso?
A lei natural é mesmo esta, nascer, crescer e morrer, recordar... confesso que ainda hoje não tenho a capacidade de explicar isto à minha filha mais nova (a mais velha já entende). Talvez adopte esta forma tão simples, mas tão serena de explicar, cantando, pedindo e agradecendo.
Obrigada pelo testemunho
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De Olívia a 22.01.2014 às 17:05

*pela sabedoria
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De Pedro Graca a 22.01.2014 às 14:49

Muitos parabéns... Texto lindíssimo.
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De Anónimo a 22.01.2014 às 16:14

Beijinho para vocês...

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