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Eu agora não tenho tempo para responder a alguns comentários ao último post - fica prometido para amanhã -, mas para quem ficou muito horrorizado com a minha frase
A paternidade, felizmente, tem muitos momentos de prazer, mas até certa idade, se eu me puser a fazer as contas, o saldo é francamente negativo.
deixo aqui uma das canções de Chico Buarque que mais me comovem e tocam, num dos vários momentos de génio da genial Ópera do Malandro. Chama-se "Uma Canção Desnaturada", ou a extraordinária arte de um progenitor amaldiçoar um filho. Dor, horror, amor - tudo junto e a rimar, como na vida. Podem chorar, que eu choro de vez em quando:
Eis a maravilhosa letra:
Por que creceste, curuminha
Assim depressa, estabanada
Saíste maquiada
Dentro do meu vestido
Se fosse permitido
Eu revertia o tempo
Para reviver a tempo
De poder
Te ver as pernas bambas, curuminha
Batendo com a moleira
Te emporcalhando inteira
E eu te negar meu colo
Recuperar as noites, curuminha
Que atravessei em claro
Ignorar teu choro
E só cuidar de mim
Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
Vestir-te com desleixo
Tratar uma ama-seca
Quebrar tua boneca, curuminha
Raspar os teus cabelos
E ir te exibindo pelos
Botequins
Tornar azeite o leite
Do peito que mirraste
No chão que engatinhaste, salpicar
Mil cacos de vidro
Pelo cordão perdido
Te recolher pra sempre
À escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído