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Uma cura para a hiper-paternidade

por João Miguel Tavares, em 28.10.14

Uma leitora do PD4 chamou-me há tempos a atenção para este texto publicado no New York Times por Pamela Druckerman, intitulado "Uma cura para a hiper-paternidade".

 

Druckerman é autora de um livro chamado Bringing Up Bébé: One American Mother Discovers the Wisdom of French Parenting, e que, como o próprio nome indica, aconselha aos pais ocidentais a educação simultaneamente mais exigente e descontraídada dos pais franceses.

BriningUpBebe.jpg

Eu tenho sérias dúvidas que os franceses sejam assim tão diferentes de outros pais latinos - tirando o facto de terem um sistema de apoios sociais impressionante -, mas aquilo que Druckerman diz no seu artigo é muitíssimo acertado e vai completamente ao encontro àquele que é o meu ponto de vista educativo, sobretudo neste dois aspectos:

 

1. "Remember that the problem with hyper-parenting isn’t that it’s bad for children; it’s that it’s bad for parents", diz Druckerman. Ou seja, um dos grandes problemas em vivermos obcecados com os nossos filhos e com as suas necessidades é que isso pode dar cabo de nós - e ao dar cabo de nós, acaba por também dar um bocado cabo deles.

 

2. “Expect more from your children, and they will rise to it. Expect less, and they will sink.” Acredito muito nesta ideia de exigência em relação às crianças. Estamos sempre muito preocupados em que elas se quebrem, se puxarmos demasiado. Os miúdos não são de vidro - ele aguentam muito bem uma cultura de regras claras e de exigência educativa. 

 

O artigo opõe ainda à cultura francesa a cultura norueguesa, ou escandinava, onde a sobreprotecção das crianças parece estar a atingir patamares francamente excessivos. Adoro este exemplo, dado por um produtor norueguês, que está a elaborar um documentário sobre a forma como os franceses criam os seus filhos:

 

Nós, na Noruega, não contamos os golos em jogos de futebol com miúdos com menos de 12 anos, porque acreditamos que todos eles devem sentir-se vencedores.

 

Virgem Maria. Em vez de lhes ensinarem a aprender a aceitar derrotas e vitórias, alguns noruegueses (quero acreditar que não todos) ensinam-lhes que as vitórias e as derrotas não existem. Sim, eis um fantástico exemplo de sobreprotecção e hiper-paternidade.

 

Mas leiam o texto original, que tem mais dois bons conselhos, com os quais muito me identifico:

 

1. Don’t worry about overscheduling your child. Kids who do extracurriculars have higher grades and self-esteem than those who don’t, among many other benefits, says a 2006 overview in the Society for Research in Child Development’s Social Policy Report.

 

2. It really is just a phase. Unbearable 4-year-olds morph into tolerable 8-year-olds.

 

Acho mesmo que as duas coisas são verdade - e o ponto 1 é bem capaz de merecer um post à parte, que vou tentar escrever amanhã.

 

Ah, e acima de tudo, adoro a ironia das três frases finais de Pamela Druckerman:

 

Don’t bother obsessing about what you think you’re doing wrong. You won’t screw up your kids in the ways you expect; you’ll do it in ways you hadn’t even considered. No amount of hyper-parenting can change that.

 

É mesmo isso.

 

1014OPEDandrewson-superJumbo.jpg

 Ilustração de Natalie Andrewson

publicado às 10:09


27 comentários

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De Rita Carvalho a 28.10.2014 às 17:32

É por isto que aqui venho todos os dias! Às vezes achamos que andamos sozinhos nesta de nos interrogarmos sobre o que estamos a ajudar a criar e os nossos problemas são tão partilhados!

Lá em casa tenho um rapazinho de 6 anos. Entrou este ano, tal como o Gui, na escola primária. À 2ª tem conservatório e futebol, à 3º e 5ª natação, à 4ª novamente futebol e à 6ª uma outra vez conservatório. Ao sábado anda numa banda cá da terra onde tem 3 disciplinas. Parece um exagero. Principalmente porque são muitas atividades, muitas horas, e porque parece que essas horas ultrapassam as livres... a realidade é que não consegue dizer-nos de qual gosta mais. Gosta imenso de todas e ai de quem lhe diga que poderá ter de abdicar de alguma coisa porque lhe falta o tempo para... dormir ou brincar!

Mas anda numa fase, que toda a gente me tem dito que é habitual neste início de novo ciclo, que tenta ver quanto a corda dá, que questiona a nossa autoridade e discernimento a toda a hora. E nessas alturas, a nossa consciência vai irremediavelmente parar a nós próprios, que com a idade dele tinhamos muito mais tempo para fazer... nada!!! E aí surgem todas as questões, todas mesmo. Acima de tudo, se não estamos a ser nós que estamos a esticar demasiado a corda e se não seremos responsáveis por essa insolência que pode estar a ser gerada pela extrema ocupação de algum tempo que deveria ser dele... e depois ainda nos perguntamos: mas se ele gosta, este tempo não é dele?! Nosso, talvez (?!), não será, que andamos feitos baratas tontas entre uma e outra atividade...

Obrigada por trazer este assunto a lume, João! E escreva lá o post! :)
Rita

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