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Uma geração mimada?

por João Miguel Tavares, em 18.02.14

Na sequências dos números da natalidade respeitantes a 2013, em que Portugal bateu mais um recorde negativo, com apenas 82 538 nascimentos (uma queda de quase 10% em relação a 2012, que até então fora o pior ano de sempre desde que há registos estatísticos), a Natália Faria assinou uma excelente reportagem sobre o tema no Público, intitulada "Quanto pode custar ao país uma geração de filhos únicos?".

 

Vale imenso a pena lê-la, porque o ênfase é colocado um pouco ao lado do que é habitual: não tanto na escassez de nascimentos e na gravidade dos constantes saldos naturais (a diferença entre nascimentos e mortes) negativos, mas no problema que também pode ser a criação de uma geração de filhos únicos, demasiado protegidos e demasiado mimados.

 

A reportagem não apresenta números discriminados em relação a 2013, mas os números de 2012 não deixam margem para dúvidas: dos 89 841 bebés nascidos nesse ano, 48 766 eram primeiros filhos. Ou seja, bem mais de metade. Segundos filhos foram 30 499, enquanto terceiros filhos apenas 7 730. Eu por acaso tive um quarto filho nesse ano, mas nem devo aparecer nas estatísticas.

 

Não quero estar para aqui a ofender mães e pais de um único filho, e obviamente que nem todos têm necessariamente de crescer mimados e super-protegidos. Mas que demasiado atenção pode ser problemática, isso pode. "Há muitos adultos, pais, tios e avós, para poucas crianças", explica Vanessa Cunha, investigadora do ICS.

 

Mário Cordeiro, que também tem imensas crianças em casa e é o pediatra dos nossos filhos, depois de ressalvar que obviamente "é possível ser-se filho único e não se ser 'estragado', pretensioso, arrogante, narcísico e omnipotente", coloca a questão nestes termos:

 

Nas famílias, o facto de se ter só um filho pode levar a uma concentração das expectativas nessa criança, passando a ser não apenas o alvo de todas as atenções, como aquela que terá de ser tudo aquilo que os pais foram, desejavam ser ou querem que ela seja. Por outro lado, também há uma concentração dos bens materiais, o que pode levar a estimular na criança a parte narcísica e omnipotente do "posso, quero e mando" ou do "quero tudo, já, porque eu sou eu e tenho direito a tudo", que mais tarde causará graves problemas, não só à pessoa em causa, mas aos que a rodearem.

 

Mas vão ler a reportagem toda, que não darão o vosso tempo por mal empregue. E depois, se quiserem, digam coisas, que este é um assunto que vale muito a pena discutir.

 

publicado às 12:11


43 comentários

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De JP a 22.02.2014 às 18:19

Hoje, no Público:

"Trabalho a tempo parcial prejudica as mulheres e não promove a natalidade"
"Ser pai ou ser mãe é cada vez mais exigente e gerador de “grandes angústias”. Ao mesmo tempo diminuem os apoios e aumenta a pressão no trabalho, diz a socióloga Margarida Mesquita, que acredita que estes são os factores que mais pesam na decisão de (não) ter um filho"

Interessante. Não deixem de ler:

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/trabalho-a-tempo-parcial-prejudica-as-mulheres-e-nao-promove-a-natalidade-1625722
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De Anónimo a 19.02.2014 às 20:30

Estou a ser barrado?
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De Anónimo a 20.02.2014 às 09:35

Também lhe acontece não conseguir ler todos os comentários?
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De Anónimo a 20.02.2014 às 10:42

Eu também.... será por sermos anónimos???
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De Anónimo a 19.02.2014 às 14:51

peço desculpa de deixar aqui este comentário que não tem a ver, propriamente com este post.
É que desde há uns dias que sempre vejo nos post que tem um determinado numero de comentário (20, por exemplo), depois abro a caixa de comentário e refere 10 comentários e só vejo esses dez.
Alguém tem tido esse problema?
Se eu postar alguma coisa, passo a ter acesso a todos os outros comentários...
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De Anónimo a 19.02.2014 às 14:48

.
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De Luisa Carinhas a 19.02.2014 às 12:55

Eu fui filha única durante 7 anos e só deixei de o ser quando nasceu o meu irmão. Neste momento, tenho 37 anos e ainda só tenho uma filha porque o meu projecto de ter mais um filho ficou em banho maria. Neste momento estou desempregada há 20 meses e não vejo perspectivas de um grande futuro á minha frente. Não considero que a minha filha seja mimada porque não lhe dou tudo, mas infelizmente o meu subsídio terminou agora e não é com cerca de 550 ou 600 euros liquidos que me oferecem quando vou a entrevistas que vou conseguir avançar com o meu projecto, embora o meu marido esteja a trabalhar e ganhe o dobro de mim. Mas ainda tenho fé que ainda consiga realizar o meu projecto! Mas caso não consiga não concordo que os filhos únicos são mimados porque a grande parte dos meus amigos foi filho único e não deixam de ser umas óptimas pessoas.
Acho que a minha filha tem de fazer aquilo que a faz feliz. Ela será sempre a minha filha mesmo que venha a ter decisões com as quais eu não venha a concordar. Acima de tudo, ela tem de viver a vida dela e não aquilo que eu ambiciono para ela.
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De Marco Neves a 19.02.2014 às 12:27

Estou num telemóvel e isto de escrever num ecrã apertado é complicado... Mas queria deixar suas achegas:

A) Este artigo da Time sobre o assunto: http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,2002530,00.html

B) Um conselho a todos nós que caímos na tentação de meter a colher nestes assuntos: não comentem com o argumento "conheço X e Y e ele é filho único e não é assim". Um caso particular (ou dois, ou três, ou quatro, ou cinco) não diz nada sobre as tendências estatísticas de que estamos a falar. Reparem: se 60% dos filhos únicos tiverem a característica X, vamos encontrar 40% que não tem, mas a tendência estatística está lá. (Aliás, está se a percentagem na população em geral for diferente. Se 60% de todos nós tivermos essa característica, o facto deixa de ter significado no que toca aos filhos únicos.)
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De energia-a-mais a 19.02.2014 às 12:11

Bom dia. Leio de vez em quando este blog, até porque parece ter primazia nos destaques do sapo mas nunca comentei. Comento agora só para questionar (às vezes devo ser lenta na compreensão) o que é que ser filho único tem a ver com o modo como se é educado? (ou se educa...). Na verdade, a questão até é mais - o que é que o mimo tem a ver com ser mais ou menos arrogante, mais ou menos egocêntrico, mais ou menos narcisista (que pelos vistos a reportagem associa a caraterísticas de filhos únicos). E dou um exemplo de alguém (perdoem-me o juízo em público mas uma figura pública dispensa apresentações) que tem todas essas caraterísticas e não é filho único - o Vice primeiro ministro Paulo Portas encaixa bem neste rol. E certamente conheço outras que sendo filhos únicos, são pessoas altruístas, generosas, dados aos outros e que educam os seus filhos (únicos ou não) do mesmo modo!
Generalizar nunca me pareceu boa política! Além do que se confunde o mimo com facilitismo. Eu, mãe de dois, mimo o mais que posso, facilito apenas no que devo, amo incondicionalmente e faço dos exemplos atos de educação - faria o mesmo, caso tivesse um ou cinco filhos (as opções não se discutem, o que condiciona uns, para outros não são entraves, quando se excluem problemas fisiológicos, cada um tem os filhos que quiser...).

Teresa
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De Anónimo a 19.02.2014 às 11:59

Sem querer ofender ninguém, até porque, para já também só tenho um filho, parece-me que esta "vaga de filhos únicos" é que é fruto de uma geração mimada, em que:
a) se teve (quase) tudo e agora queremos dar ainda mais aos nossos filhos;
b) (ainda) não teve (quase) tudo como via alguns amigos e agora quer dar tudo aos filhos;
Daí que se opte por ter só eu para "poder dar tudo".
Excluem-se outros casos, de não ter por outras razões, de saude incluídas, mas falando de mim e da minha geração (34 anos) vejo que quase todos os que conheço com um só filho se enquandram numa daquelas hipoteses.
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De Anónimo a 19.02.2014 às 15:29

Concordo.
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De Anónimo a 19.02.2014 às 16:59

É normal querer dar mais do que se teve.
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De Augusto a 19.02.2014 às 11:02

Eu como pai de quatro filhos posso dizer que eles tiveram de se habituar a partilhar.
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De Céu Franco a 19.02.2014 às 10:49

... vou ainda partilhar um sentimento, que provavelmente vai gerar muita polémica, mas que me tem realmente mexido comigo.
Como disse atrás, tenho 3 filhos. Fui mãe pela 1.ª vez aos 29, depois aos 31. De vez em quando falávamos em ter um 3.º filho, mas nunca nos decidimos realmente.
Voltei a ser entretanto mãe aos 40 - depois de muita conversa, ponderação, e de pensar de mais, e etc. Ora bem, o pequenino hoje tem quase 3 anos, e é o nosso orgulho é claro - isto faz-me pensar que, este menino, que quase não existiu, hoje é tão querido para nós, e faz-nos tanta falta, e gostamos tanto dele...e não conseguimos imaginar a nossa vida sem ele.
O motivo desta minha reflexão é este: até que ponto é bom estar nas nossas mãos esta questão do ter ou não ter filhos?
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De Gil a 20.02.2014 às 08:41

Boas, se tivesse mais um filho não seria também o seu orgulho, e não veria a sua vida sem os seus 4 anjos.
O meu pai tinha 10 irmãos, a minha mãe 6
Eu já só tenho 2 irmãos, e não vejo a minha vida sem muitos filhos, todos a correrem pela casa, a brigarem uns com os outros, a implicarem e a amarem-se.
Muitos filhos implica uma casa maior, com montes de beliches, um quarto para rapasses e outro para as raparigas.

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