Em parte tem razäo: aquilo que experienciamos como crianca condiciona o modo como educamos e olhamos para o nosso papel de educador. Uns repetem o que os pais fizeram, outros fazem exactamente o contrario, outros tentam uma edicäo revista e melhorada.
Quando eu digo que é possivel educar sem bater, estou a falar sobretudo de mim, e da experiencia que fiz como mäe. Mas tambem da experiencia que fiz como filha, e que me fez descobrir muito cedo que os pais näo säo infaliveis, pelo contrario. Por me lembrar täo bem do que sentia quando apanhava é que insisto aqui que os pais näo devem bater nos filhos.
Quanto aos livros serem diferentes para cada um se servir, no meu caso errou em cheio. Fui educada de uma maneira, vi amigos a educar os filhos deles de outra maneira, fui confrontada com modos de educar bem diferentes tanto na Alemanha como nos EUA. Näo tinha ideias feitas, e tive a oportunidade de ver muitos caminhos diferentes. Observei familias e culturas, li livros muito diferentes, para poder decidir sobre os meus proprios criterios.
Helena, eu não sou a favor da palmada mas tenho uma visão mais tolerante sobre um momento em que isso possa acontecer. O meu filho só tem um ano, não estou em alturas de perceber como será na prática mas acredito profundamente que não venha a ser necessária. Assim como também não cuspo para o ar e pode dar-se o caso de se me afigurar uma solução possível quando eu, mulher imperfeita, esgote tudo o que me pareça ser alternativa. E sabe uma coisa? Os meus pais não me batiam. Mas não é por eles nunca o terem feito e eu achar que fizeram bem, que agarro na minha experiência pessoal e evangelizo todos os que estão à minha volta. Acho que esse é um dos grandes problemas dos fundamentalismos. É que as pessoas agarram-se às suas vivências, que podem ter intensidades totalmente diferentes das de outras, e não ponderam que podem existir vários caminhos para se criarem crianças felizes.
De Anónimo a 26.06.2014 às 15:54
Os pais também nunca me bateram, que eu saiba ou tenha memória, mas lembro-me de ver o meu pai bater uma vez à minha irmã mais nova. Aos mais velhos do que eu (são cinco), se bateram, não sei.
Uma coisa que sei é que não sou a favor de bater por bater, como se bater solucionasse todos os males e acabasse com todas as dificuldades em educar uma criança. Mas também sei que uma palmada pode ser a solução para determinada situação. Solução ideal? Não, certamente. Mas por vezes, a única que ocorre ou funciona.
Tenho acompanhado estes posts no PD4 (gosto desta sigla, mas gostava de outra que já encontrei algumas vezes nos comentários, PdQ) e acho que percebo a posição de quem é totalmente contra qualquer castigo físico. Parece-me que querem dizer que, quando uma pessoa assume e decide que NÃO VAI DAR PALMADAS nem nada do género aos filhos, em circunstância nenhuma, essa pessoa automaticamente tem de se "forçar" a ser criativa na gestão das crises, enquanto que uma pessoa que assume que, às vezes, uma palmada resolve (até hoje, eu estou neste grupo, mas não sei se me vou manter nele para sempre, que isto tem-me posto a pensar), não se "força" a ser tão criativa - às vezes, tal como defende, dá a palmada e pronto.
Tenho alunos de sete anos, gémeos, extremamente bem educados que, segundo os pais, nunca apanharam uma palmada. Acredito neles e acho que vão no bom caminho. Mas nem sempre é assim.
De Sofia Lopes a 26.06.2014 às 16:49
"Parece-me que querem dizer que, quando uma pessoa assume e decide que NÃO VAI DAR PALMADAS nem nada do género aos filhos, em circunstância nenhuma, essa pessoa automaticamente tem de se "forçar" a ser criativa na gestão das crises"
agora que diz isso... de facto... eu quando o meu filho insistentemente mexe no que não deve, em que eu tiro a mão e digo "não mexe" n vezes (não são muitas de seguida, à 3ª desvio a atenção dele para outra coisa qualquer -(é tããããão fácil isto aos 17 meses) mas passado um bocado lá vai ele outra vez) eu conscientemente auto-controlo-me, ou seja, facilmente uma pessoa perde o tino "xiça é preciso repetir a mesma coisa 20 vezes?!" é, a um bebé de 17 meses é preciso repetir a mesma coisa 20, 30 ou 50 vezes, dizia, facilmente uma pessoa perde o tino e lá vai disto, lambada na fralda. e é mais fácil deixarmo-nos ir pelo descontrolo do que focarmo-nos na gestão criativa...
não quero de forma alguma bater no peito "ai ai ai eu sou muita boa", acredito que o meu filho seja por ele uma criança fácil, não tenho mais nenhum, não sei como são os outros (educados por mim ;) ) mas de facto... nunca cheguei ao limite de lhe bater (e já vi um bebé de 10 meses levar uma palmada na boca por morder no ombro da mãe - e não, não foi aquele morder de uma criança de 2 anos, foi o morder da aflição dos dentes)
De Rita a 27.06.2014 às 10:49
Minha amiga, aos 17 meses ainda tem muuuuuito por andar.
Deixe passar mais uns tempos e depois falamos.
De Helena Araujo a 27.06.2014 às 21:20
"Mäe sabichona", sabe porque é que eu insisto? É que a mensagem que o JMT tenta passar é que bater em criancas é um método aceitável. Näo quero julgar pessoas que num momento de stress ou descontrolo däo uma palmada num filho, mas tenho realmente um problema quando as pessoas entendem que essa é uma maneira de educar. Pode chamar-lhe fundamentalismo. Eu chamo-lhe defesa dos direitos das criancas.
Há cinquenta anos havia muitas mais pessoas que diziam que o homem tem de bater na mulher quando ela näo é capaz de aprender de outra maneira. Felizmente essas ideias já näo se consideram aceitáveis. Com a "palmada pedagógica" vai acontecer o mesmo.
De Sofia Lopes a 27.06.2014 às 21:51
Pois de facto acho que é basicamente isto que a Helena escreve - eu sou fundamentalmente e por princípio contra, mas sou também humana, e como tal falho e tenho a consciência que falho. E por isso considero que é errado bater mas não recrimino quem o faça por descontrole, mas critico quem acha que faz parte do processo educativo. Às preciso sermos radicais para mudar mentalidades. Também acredito nesse futuro Helena ;-)
Concordo consigo Helena. Simplesmente, eu também bato muito na tecla de não tornarmos as nossas experiências em verdades absolutas e em sermos um pouco mais tolerantes, sem que para isso abandonemos as nossas convicções. Mas na sua essência o seu discurso vai ao encontro do meu...