De Ana Maria a 26.06.2014 às 18:53
Vou organizar o meu comentário em duas partes, para ser mais fácil de analisar :)
1. A minha mãe era obcecada pelas arrumações. Quando digo obcecada, digo que não me podia ver sentada a ver TV que arranjava logo alguma coisa para eu fazer: varrer, limpar, fazer a cama, o que fosse. Essa mania das arrumações, de ter tudo impecável - se calhar necessária, dado que éramos 4 e se cada um fizesse tenda e deixasse ficar o caos nasceria em segundos - passou até para as brincadeiras que fazíamos: se a brincadeira era às casinhas, não importava o tempo que demorávamos a montar a coisa. Quando chegava a hora de arrumar era para arrumar, nem que tivéssemos a brincar há apenas 5 minutos. Nunca um brinquedo ficava fora do lugar. Nunca.
A minha filha tem uma tenda no meio do quarto. Temos brinquedos na sala, e um caixote enorme para os arrumar (ela arruma, eu ajudo). Se alguma brincadeira fica a meio, fica assim até a terminar no dia seguinte. Gosto que tenha as coisas arrumadas (com os livros sou mais picuínhas) mas sem exagero. Na minha maneira de ver as coisas e de agir com ela, uma sala desarrumada não traz nenhum mal ao mundo. Ela é feliz assim, e assim eu sou feliz com ela.
Comportamentos assentes em experiências, vivências e frustrações passadas? Oh, yeah. Sem dúvida. Quando a vejo a brincar, lembro-me de nunca ter visto a minha mãe a brincar connosco. E isso faz-me sentar a brincar com ela.
2. Isto da palmada ou não palmada não é fácil. Posso dizer que, em quase cinco anos, nunca bati à minha filha. Nunca gritei, nunca berrei - um olhar sério basta, o nome dito em forma lenta também. Nunca fez birra, nem em casa nem fora dela, ainda que tenha amuos mais ou menos frequentes - as birras silenciosas, como lhes chamo.
Esta "façanha" é parte dela (não desafia a minha autoridade) e parte minha (sempre expliquei o porquê de cada acção, de cada comportamento, mesmo quando ela ainda não percebia o que eu dizia. Não entendia as palavras, mas perceb(er)ia que algo pensado estava por detrás daquela decisão).
Não bater nem berrar traduz a minha forma de ser, de estar, a forma como pensei (antes) e exerço (agora) a parentalidade. Sim, li Carlos Gonzalez, sim, li Estivil, sim, li muita coisa. E tenho cabeça para pensar, também :)
Mas apesar de (até agora...) nuca ter batido nem gritado não significa que não fique enervada. E gostava de deixar aqui escrito que, meus amigos, manter a calma é, muitas vezes, um quase sacrifício. Quando vejo que já falei, já soletrei o nome, já olhei de forma séria, já conversei, e o amuo ou a insistência ("mãe, mãe, mãe, MÃAAAAAEEEEEEEE") não passa, tenho vontade de mandar um berro. De dizer "porque no te callas?", de atirar um "oh pah, porra, cacoiso" .
Mas - lá está - a educação que lhe quero dar não é esta, quero que perceba que é possível manter a calma mesmo em situações exasperantes. E, por isso, respiro fundo pela enésima vez e explico. Ou saio de cena, e ela que fique a chamar.
E pronto, era mais ou menos isto.
JMT, quanto lhe devo?
(nota - os meus pais baterem-me algumas vezes, deram-me palmadas de quando em vez, amaram-me todos os dias. tive uma infância feliz. ainda que com as coisas todas arrumadas)