De Maria2 a 27.06.2014 às 01:10
Hum...discordo. Eu era apologista da palmada, dos gritos, das ameaças., dos castigos. Os meus pais eram assim. Durante muito tempo afirmei que isso não me fez mal nenhum, etc, etc, etc. Mas a verdade é que de cada vez que a minha mãe me batia porque andava preocupada com outras coisas e sem paciência, o que eu sentia era uma valente incompreensão da parte dela. E medo, muito medo. Aprendi com ela que quando alguém não faz o que TU queres, na hora que TU queres, podes recorrer ao medo e à força. Não aprendi a solucionar problemas, a ter empatia, a expressar o que sentia, a negociar. O que teve custos mais tarde.
Sim, porque numa relação deste tipo, passa-se a recorrer à mentira para se fazer o que se quer. Porque este tipo de educação não é centrado na consequência dos comportamentos. Então, se a pessoa que bate não está presente, faz-se o que queremos. O comportamento errado não é emendado porque pode ocorrer a consequência x ou y, mas porque podemos ser apanhados. Se não formos, então está aparentemente tudo bem.
Sorte das sortes, saiu-me um filho igual a mim, daqueles que gosta de fazer TUDO à maneira dele. Daqueles que, desde bebé, chora intensamente por tudo e por nada (porque mudou a fralda, porque tem fome, porque isto e porque aquilo - atenção que o meu primeiro filho era um bebé "ideal" e ingenuamente eu pensei que era por ser boa mãe :)
E recorri às palmadas. E não me senti bem. E concluí que nem com castigos, gritos e afins conseguiria chegar a algum lado. Porque era igual ao litro. Poderia ter persistido, mas comecei a ver que estava a ensinar-lhe a descontrolar-se quando ele já se sentia que não conseguia lidar com as emoções dele.
Percebi que ele gosta de controlar o que faz (quem não gosta?) e passei a dar-lhe opções dentro daquilo que eu preciso/quero que ele faça. Ele anda feliz por escolher o WC laranja em vez do azul, eu fico feliz porque ele lava as mãos sem reclamar. Ele anda feliz porque escolhe a ordem em que come os alimentos, eu porque simplesmente come. Claro que há situações que não permito que ele decida (usar ou não a cadeirinha é uma delas, levar ou não brinquedos dentro do carro é outra).
E para além das decisões, perante problemas, pergunto-lhe o que ele/eles sugerem para resolver. Destruiu os cromos do irmão, o que fazemos? Solução encontrada: tirar moedas do mealheiro para comprar novos. Espalhou plasticina pela sala fora, solução? Apanhar a plasticina todinha e varrer o chão. Riscou as paredes com marcadores? Toca a limpar com Cif. Bateu no irmão? Porquê? O que queria, o que deveria ter dito para evitar?
No meio deste processo todo, tenho andado a aprender a controlar-me, a não ferver em pouca água, em ouvir e perceber o que ele sente. E sobretudo a dar o exemplo. Se eu bato, não posso exigir que ele não bata, se eu grito, não posso exigir que ele não grite, se eu não oiço, não posso exigir que ele oiça.
Porque as crianças não fazem aquilo que nós dizemos, mas o que nós fazemos, quer bom, quer mau.
Não vou dizer que é fácil, que é rápido, que consigo cumprir a 100%.
Conclusão: eu não fui atrás de algo que confirmassem as minhas convicções, eu fui atrás de algo que resultasse e que tornasse a minha relação comigo e com os meus filhos melhor.
Era um desafio interessante o João ler uns textos sobre o assunto, com o espírito aberto...talvez o ajudasse a resolver as questões que tem em relação à paternidade :)
O curioso é que relativamente ao expressar de emoções e resolução de problemas, tenho aplicado a adultos (marido, mãe, etc) e os resultados são interessantes.
De Conceição M. a 27.06.2014 às 15:07
Olá Maria2
Eu acho que no fundo estão ambos a ir no mesmo sentido!
Quando nos tornamos pais, somos igualmente filhos e toda a nossa "bagagem", boa e/ou má, necessáriamente influencia-nos na nossa vivência como pais. Não no sentido de fazermos as coisas, obrigatóriamente, tal como os nossos pais nos fizeram -mas, muitas vezes, até porque nos lembramos que enquanto filhos não gostávamos de determinadas coisas e, agora como pais, procuramos fazer diferente...